Há um debate nas universidades acerca da crise das ciências humanas. Pergunta-se qual seria o objetivo das ciências humanas, suas diferenças em relação às ciências naturais como a física ou a química, e se elas serviriam para alguma coisa afinal de contas. Boa parte desses questionamentos gira em torno do fato de que as ciências humanas se propõem a refletir e propor soluções para problemas sociais, mas, apesar deste esforço, os problemas ainda estão aí de forma gritante. Por que isso acontece? A resposta é simples: os acadêmicos ignoram que a única forma de realmente resolver os problemas sociais é através do socialismo.

Vejamos as evidências históricas. Através da expropriação da burguesia e medidas como a planificação econômica, a União Soviética mais do que dobrou o seu PIB per capita em menos de 40 anos, algo que a maior parte dos países capitalistas nunca sequer chegou perto. Além disso, como documentado no livro “Capital e Ideologia” do Thomas Piketty, após a revolução russa de 1917, a desigualdade de renda na Rússia caiu de cerca de 47% para menos de 25% em 10 anos, algo nunca antes visto na história da humanidade. Os avanços não foram apenas econômicos, mas também sociais, como a descriminalização da homossexualidade após a ascensão de Lenin ao poder e o reconhecimento do direito das mulheres ao divórcio com base apenas em sua vontade, algo que os países ocidentais demoraram muitas décadas para conquistar.

Outros países que adotaram, ao menos em parte, as estratégias socialistas também apresentaram melhorias sociais significativas. Por exemplo, antes da revolução liderada por Mao Tsé-Tung em 1949, a expectativa de vida na China era inferior a 30 anos. 30 anos após a revolução, em 1979, a expectativa de vida já havia mais do que dobrado e aumentado para 64 anos. De forma similar, em virtude da revolução cubana de 1959, a população de Cuba tem hoje acesso universal à saúde, educação e moradia, uma tarefa que a maior parte dos países ricos não conseguiu cumprir até hoje.

Não há saída fora do socialismo. As evidências indicam que apostar no paradigma das “políticas públicas” como solução para os problemas sociais é um equívoco. No máximo, políticas como bolsa família, cotas universitárias e crédito rural conseguem atenuar temporariamente problemas como pobreza, acesso à educação e à terra, sem os eliminar definitivamente. Ainda assim, grande parte dos pesquisadores em ciências humanas segue concentrando esforços em avaliar quais políticas públicas seriam mais eficazes, desconsiderando as experiências socialistas — muitas vezes por desconhecê-las a fundo — e ignorando o fato de que suas propostas raramente produzem mudanças estruturais ou são sequer levadas em conta pelos tomadores de decisão, dada a ausência de poder político por parte da academia.

É importante frisar que, mesmo que os acadêmicos tivessem acesso direto ao poder, isso por si só não garantiria a reversão do cenário atual. A experiência já demonstrou isso: figuras oriundas da academia, como Fernando Henrique Cardoso, chegaram à presidência do país com amplo respaldo intelectual e promessas de modernização, mas seus governos não só falharam em resolver os principais problemas sociais como aprofundaram desigualdades e instauraram novas formas de precarização. Ou seja, não basta ser acadêmico nem ter conhecimento técnico sobre os problemas sociais. Sem uma ruptura com a lógica do capital e uma reorganização radical das estruturas de poder, qualquer tentativa de transformação será inevitavelmente capturada ou neutralizada.

Para concluir, é importante ressaltar que a história e as evidências das ciências humanas são inequívocas nesse sentido: as mudanças estruturais de fato só ocorreram quando forças comprometidas com a transformação socialista conquistaram o poder e implementaram medidas que superam o capitalismo de forma coerente e determinada. Fora disso, é tudo balela.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 08/05/2025