
O tenente-coronel Mauro Cid afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que deixou de relatar à Polícia Federal a suposta entrega de dinheiro feita pelo general da reserva Walter Braga Netto porque estava “em choque” com a prisão de seus amigos militares, acusados de planejar o assassinato do ministro Alexandre de Moraes. Com informações da Folha de S.Paulo.
A informação consta da ata da acareação realizada nesta terça-feira (24), em que Cid e Braga Netto mantiveram versões conflitantes sobre a trama golpista de 2022.
De acordo com o documento, Cid disse ter mencionado pela primeira vez o caso da sacola com dinheiro — supostamente entregue por Braga Netto — durante audiência com Moraes em novembro de 2024. “O réu colaborador reiterou que estava em choque”, diz a ata, ao explicar a omissão em depoimentos anteriores à PF. Na ocasião, o militar disse que não viu o dinheiro, mas estimou o valor com base no peso da sacola lacrada.
A defesa de Braga Netto nega a acusação. “O general Braga Netto, em duas oportunidades, afirmou ao Mauro Cid, que permaneceu em todo o ato com a cabeça abaixada, e o chamou de mentiroso. Ele não retrucou quando teve a oportunidade de falar”, disse o advogado José Luis Oliveira Lima.

Já a defesa de Cid contestou a versão. “Braga Netto não disse que Cid era mentiroso. Ele disse em uma ocasião que a informação sobre o repasse do dinheiro era uma mentira. O clima não ficou tenso em nenhum momento”, afirmou a advogada Vânia Bitencourt.
Outro ponto de tensão foi a reunião realizada em 12 de novembro de 2022 na casa de Braga Netto, com participação de militares ligados à tentativa de golpe. Cid disse que, após sua saída, houve discussões sobre “questões operacionais”. Braga Netto negou.
“Indagado pelo Min Relator se conhecia o Cel de Oliveira, o general Braga Netto disse que jamais manteve qualquer relação com o mesmo, que até pode ter servido sob suas ordens, mas como interventor, sua relação era direta com os comandantes de batalhões”, registrou o STF.
Na sequência da acareação, o ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, reafirmou ao Supremo que nunca viu Anderson Torres — então ministro da Justiça — propor ações ilegais. Apesar de confirmar a existência da minuta golpista, afirmou que o documento apresentava os mesmos pontos já discutidos com Jair Bolsonaro (PL), mas destacou que não eram idênticos.