Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), admitiu à Polícia Federal (PF) ter entregado ao antigo chefe a quantia de 86 mil dólares por conta da venda das joias recebidas como presente enquanto o ex-capitão era presidente.

A informação consta no depoimento dado por Cid aos investigadores do caso e foi revelada nesta quarta-feira 19, depois que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou o sigilo da delação do ex-ajudante de ordens.

Na versão que consta na delação, Cid admite que recebeu de Bolsonaro dois dos presentes ganhados por ele em uma viagem oficial à Arábia Saudita em 2019: um relógio Rolex e um kit de joias em ouro branco.

Em 2021, Bolsonaro teria pedido a Cid que avaliasse o preço de um outro presente recebido como chefe de Estado, um relógio de marca Patek Philippe. Bolsonaro, segundo Cid, queria saber se o valor dos presentes poderia custear os prejuízos que ele próprio vinha tendo com processos judiciais.

“No começo de 2022, o presidente JAIR BOLSONARO estava reclamando dos pagamentos de condenação judicial em litigio com a Deputada Federal MARIA DO ROSARIO e gastos com mudanças e transporte do acervo que deveria arcar, além de multas de trânsito por não usar o capacete nas motociatas; QUE diante disso, o ex-Presidente solicitou ao COLABORADOR quais presentes de alto valor que havia recebido em razão do cargo”, diz um trecho do depoimento.

O processo citado por Cid foi movido pela deputada Maria do Rosário (PT-RS), depois que Bolsonaro disse, em 2014, que não a estupraria por que ela não “merecia”. Bolsonaro chegou a ser condenado a indenizar Rosário em 10 mil reais por danos morais.

No depoimento, Cid também diz que cumpriu a demanda do ex-capitão. Ele teria solicitado ao Gabinete de Adjunto de Documentação Histórica (GADH) a lista completa de relógios que Bolsonaro recebeu e que, em seguida, avisou ao ex-presidente que o item que poderia ser vendido de forma mais rápida seria o Rolex presenteado pela Arábia Saudita.

Dinheiro em espécie

Com o suporte do pai, Mauro César Lourena Cid, o ex-ajudante afirma que teria encontrado lojas especializadas para vender os presentes.

Pelas vendas, Cid teria entregado os 86 mil dólares a Bolsonaro em quatro parcelas, nas seguintes ocasiões:

  • Em setembro de 2022, na abertura da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York: 30 mil dólares;
  • No final de 2022, durante evento da Apex em Brasília: 10 mil dólares;
  • Em fevereiro de 2023, quando Bolsonaro visitou Lourena Cid em Miami: 20 mil dólares:
  • Em março de 2023, por meio do assessor Osmar Crivelatti: 26 mil dólares.

Segundo Cid, os valores se referem às vendas dos dois relógios citados à empresa Precision Watches. O negócio teria rendido 68 mil dólares. Já o restante do valor — 18 mil dólares — diz respeito à venda das joias à loja Seybold Jewlery, em Miami, nos EUA.

Bolsonaro já foi indiciado no caso das joias, cujo inquérito tramita no STF. A denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na última terça-feira 18 não inclui os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa, cujas suspeitas pesam contra o ex-presidente no caso específico.

Desde que o caso das joias foi revelado, Bolsonaro vem negando envolvimento. O ex-presidente já tentou emplacar a tese de que, na realidade, os presentes foram dados a ele, pessoalmente, e não deveriam pertencer ao acervo da União pelo fato de que ele não os teria recebido como chefe de Estado.

Sobre o trecho da delação de Cid que menciona a operação da venda dos presentes árabes, Bolsonaro ainda não comentou.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 19/02/2025