O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, confirmou em delação premiada à Polícia Federal (PF) que o ex-mandatário recebeu US$ 86 mil em espécie pela venda de relógios e jóias que pertenciam ao acervo da Presidência da República. O sigilo da delação foi derrubado nesta quarta-feira (19) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Os valores foram obtidos com a venda de um kit de joias Chopard e dois relógios de luxo das marcas Rolex e Patek Philippe, todos recebidos como presentes de autoridades estrangeiras.

Segundo Cid, parte do montante – US$ 18 mil – foi entregue por ele pessoalmente a Bolsonaro em junho de 2022. O restante, US$ 68 mil, foi repassado de forma fracionada por seu pai, o general Mauro César de Lourena Cid, ao longo de 2022 e 2023.

“O ex-presidente solicitou ao colaborador que identificasse quais presentes de alto valor que havia recebido em razão do cargo poderiam ser vendidos”, relatou Mauro Cid em seu depoimento à PF. O dinheiro foi obtido por meio da venda dos itens nos Estados Unidos, sendo parte negociada na Precision Watches, na Pensilvânia, e outra na Seybold Jewelry Building, em Miami.

As investigações apontam que os repasses a Bolsonaro ocorreram em quatro momentos: US$ 18 mil em junho de 2022, US$ 30 mil em setembro do mesmo ano, US$ 10 mil no final de 2022 e mais US$ 20 mil em fevereiro de 2023.

“O saque do montante completo seria fracionado para não levantar suspeitas”, detalhou Cid. Em março de 2023, o restante do dinheiro foi entregue pelo general Lourena Cid.

Bolsonaro indiciado

Em julho de 2024, Bolsonaro, Cid e outros 11 investigados foram indiciados pela Polícia Federal por desvio dos bens. O ex-presidente é suspeito de peculato, crime de apropriação de bens públicos para proveito próprio, além de lavagem de dinheiro e associação criminosa. A defesa de Bolsonaro nega as acusações.

A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e mais 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado também influenciou na decisão do STF de tornar pública a delação de Cid. O ex-ajudante de ordens mencionou ainda que Bolsonaro havia solicitado a venda dos itens para custear despesas pessoais, incluindo multas de trânsito e condenações judiciais.

“O presidente estava reclamando dos pagamentos de condenação judicial em litígio com a deputada federal Maria do Rosário e gastos com mudanças e transporte do acervo que deveria arcar”, afirmou Cid em seu depoimento.

O caso das joias

A investigação sobre o desvio de joias teve início em março de 2023, quando um conjunto de peças avaliadas em R$ 5,1 milhões foi apreendido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos. A Polícia Federal descobriu que outras joias já haviam sido retiradas do Brasil e vendidas ilegalmente.

As novas revelações da delação de Cid reforçam as suspeitas de que Bolsonaro participou ativamente da operação para lucrar com bens públicos. O relatório da PF sobre o caso foi encaminhado ao STF, e a PGR avalia a possibilidade de denúncia formal contra o ex-presidente.

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Last Update: 20/02/2025