A China está testando um trem de levitação magnética que opera dentro de um tubo de vácuo e pode atingir velocidades superiores a 1.000 quilômetros por hora. O projeto, considerado um dos mais ambiciosos do mundo no setor de transporte, promete encurtar de forma drástica o tempo de viagem entre grandes cidades. Um exemplo é o trajeto entre Xangai e Hangzhou, de cerca de 200 quilômetros, que poderia ser percorrido em apenas nove minutos.
A iniciativa está em fase experimental, com testes realizados em uma pista de aproximadamente dois quilômetros. Essa infraestrutura, mantida sob baixa pressão atmosférica, reduz de forma significativa a resistência do ar e possibilita que o trem alcance velocidades muito acima das obtidas por trens de alta velocidade convencionais.
Como funciona o sistema
O funcionamento do trem combina duas tecnologias: levitação magnética (maglev) e transporte em ambiente de vácuo parcial. A levitação magnética dispensa rodas e contato físico com os trilhos. Em vez disso, ímãs potentes elevam o veículo, eliminando o atrito mecânico. A propulsão é feita por um motor linear de estator longo, instalado ao longo da via, que cria campos eletromagnéticos alternados para impulsionar o trem.
A operação em tubo de vácuo resolve outro obstáculo: o atrito do ar. Em velocidades muito altas, a resistência aerodinâmica é o principal fator limitante. Dentro de um tubo com pressão de ar reduzida, a densidade do ar cai drasticamente, diminuindo o arrasto e, com isso, a energia necessária para atingir velocidades extremas. É essa combinação que torna possível projetar um transporte terrestre capaz de competir com a aviação em curtas e médias distâncias.
Desafios técnicos e estruturais
Apesar dos avanços, o projeto enfrenta obstáculos consideráveis. Manter um longo trecho de tubos em baixa pressão exige infraestrutura complexa e dispendiosa. É necessário garantir vedação contra vazamentos, sistemas redundantes de bombeamento e monitoramento constante.
Além disso, o alinhamento dos tubos deve ser extremamente preciso, já que o trem viaja a velocidades em que qualquer irregularidade poderia comprometer a estabilidade. Outro desafio é lidar com questões de segurança, como paradas de emergência ou falhas de energia dentro de um ambiente selado.
Comunicação e conectividade
Um aspecto inovador que acompanha o projeto é a integração de tecnologia 5G estável dentro do tubo. Em velocidades próximas à do som, manter comunicação sem interrupção é um desafio. Pesquisadores propõem a instalação de cabos especiais nas paredes internas para gerar sinais eletromagnéticos, garantindo conexão constante para sistemas de controle, segurança e passageiros.
Comparação com trens de alta velocidade atuais
Atualmente, os trens de alta velocidade mais rápidos do mundo — como os maglevs comerciais na China e no Japão — operam entre 400 e 600 km/h em condições normais. A meta chinesa de superar 1.000 km/h coloca esse sistema em uma categoria própria, próxima ao conceito de “vactrain” popularizado em estudos teóricos desde meados do século XX.
Se bem-sucedida, a tecnologia poderá oferecer tempos de viagem entre grandes centros urbanos muito inferiores aos dos aviões, eliminando etapas como deslocamento até aeroportos, embarque e desembarque, que consomem boa parte do tempo total de viagem aérea.
Impactos econômicos e estratégicos
O desenvolvimento dessa tecnologia se insere na estratégia chinesa de liderança global em inovação de transporte e infraestrutura. Caso seja viabilizado comercialmente, o trem poderia fortalecer a integração econômica entre regiões, reduzir a dependência de transporte aéreo em determinadas rotas e servir como vitrine tecnológica para exportação.
Há também potencial para aplicação em corredores internacionais, conectando países vizinhos de forma ultrarrápida, o que teria impacto direto em comércio, turismo e logística.
O papel do atrito do ar
Mesmo nos trens maglev convencionais, que eliminam o atrito mecânico com os trilhos, a resistência do ar é um fator determinante. Em termos físicos, a força de arrasto cresce com o quadrado da velocidade, enquanto a potência necessária para vencê-lo aumenta com o cubo da velocidade. Isso significa que dobrar a velocidade exige aproximadamente oito vezes mais potência apenas para superar o ar.
Ao operar em um tubo de vácuo parcial, a densidade do ar cai para uma fração da normal, reduzindo drasticamente o arrasto e tornando possível alcançar velocidades próximas ou superiores a 1.000 km/h com um consumo energético mais eficiente. Essa característica é a chave para a viabilidade técnica do projeto.
Futuro e perspectivas
Ainda não há uma data oficial para a entrada em operação comercial do sistema, mas especialistas estimam que, mesmo em um cenário otimista, serão necessários anos de testes, ajustes e construção de infraestrutura antes de receber passageiros. A escala de investimento também será decisiva: construir centenas de quilômetros de tubos de vácuo é um empreendimento bilionário.
Se implementado, o trem de levitação magnética em tubo de vácuo poderá redefinir o conceito de transporte terrestre, tornando-se um marco equivalente à introdução dos primeiros trens a vapor no século XIX ou dos aviões comerciais no início do século XX.
Combinando velocidade de avião, conforto de trem e menor impacto ambiental por passageiro-km, a tecnologia pode se tornar um símbolo da próxima era de mobilidade global — desde que supere as barreiras técnicas, econômicas e políticas que ainda se impõem.