Pesquisadores chineses anunciaram o desenvolvimento de um novo chip baseado em luz, dando um novo passo na corrida internacional pela fotônica de silício. A tecnologia foi apresentada por especialistas da Universidade Fudan, que divulgaram a criação de um “multiplexador de modo de alta ordem integrado fotônico de silício”, segundo reportagem publicada pelo jornal estatal Global Times.

O novo dispositivo se trata de um multiplexador, componente usado para selecionar e direcionar múltiplas entradas de dados para uma única linha de saída. O diferencial, segundo os pesquisadores, está no uso da luz, e não da eletricidade, para transmitir informações.

Em testes conduzidos pela Universidade Fudan, o chip alcançou velocidade de 38 terabits por segundo (Tbps), o que corresponderia à capacidade de transferir 4,75 trilhões de parâmetros de modelos de linguagem por segundo.

De acordo com a equipe responsável, o objetivo é substituir gradualmente a transmissão eletrônica por sistemas ópticos. A substituição promete avanços em velocidade de processamento e eficiência energética, dois dos principais gargalos enfrentados atualmente pelas arquiteturas baseadas em tecnologia CMOS.

Publicação científica em avaliação

O anúncio foi feito por meio do Global Times, veículo controlado pelo Diário do Povo, ligado ao Partido Comunista Chinês. Apesar das ressalvas sobre a confiabilidade editorial da fonte, a informação ganhou relevância com a alegação de que os dados do estudo foram submetidos à revista científica Nature, uma das mais prestigiadas publicações acadêmicas do mundo. A validação por meio de revisão por pares poderá confirmar ou refutar os resultados apresentados.

Ma Jihua, especialista do setor de telecomunicações, afirmou que “a pesquisa sobre chips fotônicos ganhou impulso, facilitando a transição da transmissão eletrônica para a óptica”. Para ele, aplicações práticas da tecnologia podem surgir “nos próximos três a cinco anos”.

Comunicação entre luz e eletricidade

Além do uso de lasers para envio de dados, o novo chip foi projetado para reduzir a latência entre os sistemas ópticos e os circuitos eletrônicos. De acordo com a equipe da Universidade Fudan, o dispositivo faz a ponte entre linguagens fotônicas e tecnologias eletrônicas, como o CMOS, o que pode representar um avanço técnico relevante no processo de integração entre as duas plataformas.

A conexão entre sistemas ópticos e eletrônicos tem sido um desafio em projetos de fotônica de silício. O novo multiplexador buscaria resolver esse problema ao permitir comunicação direta e de baixa latência com sistemas já amplamente utilizados na indústria.

Pressão internacional e desenvolvimento paralelo

A tecnologia de fotônica de silício vem ganhando espaço no setor de hardware por permitir velocidades superiores de transmissão de dados com menor consumo energético. O interesse é especialmente elevado entre empresas que operam em alta escala de processamento, como as envolvidas em aplicações de inteligência artificial.

Hoje, grandes companhias utilizam switches ópticos para a comunicação entre clusters de IA, como os modelos que atingem até 400 Tbps desenvolvidos pela Nvidia. Startups também estão entrando na disputa. A Lightmatter, por exemplo, anunciou recentemente uma nova plataforma de interconexão baseada em fotônica. A AMD também entrou no setor, com a aquisição da Enosemi, especializada em tecnologias ópticas.

Acelerando na disputa por tecnologias pós-CMOS

A iniciativa chinesa ocorre em meio a uma crescente competição entre potências globais pelo domínio de tecnologias de próxima geração, incluindo a fotônica. Segundo levantamentos mencionados no próprio Global Times, instituições chinesas estariam superando os Estados Unidos na produção de pesquisas em chips pós-Lei de Moore. A China também lideraria o número de estudos mais citados em publicações científicas internacionais nessa área.

Pesquisadores e autoridades americanas expressam preocupação com o avanço chinês, mesmo que de forma reservada. A possibilidade de a China ultrapassar os Estados Unidos em tecnologias de fabricação de chips tem sido tratada como uma ameaça estratégica de médio prazo. Estimativas citadas por especialistas indicam que a liderança chinesa pode se consolidar dentro de uma década.

Perspectivas e próximos passos

Ainda não há confirmação independente sobre os resultados técnicos obtidos pela Universidade Fudan. Caso sejam validados por meio da publicação na Nature ou por outros meios de revisão científica, o chip poderá se tornar um marco no desenvolvimento da fotônica de silício e reforçar a posição da China nesse campo.

O potencial de mercado da tecnologia é elevado, especialmente entre empresas que buscam reduzir os custos de energia e aumentar a capacidade de transmissão de dados. A capacidade de integrar fotônica e eletrônica de forma eficiente pode representar uma mudança de paradigma no projeto de CPUs, GPUs e sistemas de interconexão.

A divulgação do chip pela Universidade Fudan amplia o cenário de competição tecnológica entre China e Estados Unidos, com a fotônica emergindo como um dos principais campos de disputa nos próximos anos.

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Last Update: 01/07/2025