A China concluiu com sucesso a estabilização da primeira constelação de satélites posicionada em uma órbita retrógrada distante (DRO) na região entre a Terra e a Lua, conforme reportado pelo Global Times.
A constelação, composta pelos satélites DRO-A, DRO-B e DRO-L, opera de forma estável há mais de 200 dias, segundo informações apresentadas em seminário do Centro de Tecnologia e Engenharia para Utilização do Espaço (CSU), vinculado à Academia Chinesa de Ciências (CAS).
O lançamento dos satélites DRO-A e DRO-B ocorreu em 13 de março de 2024, por meio de um foguete Longa Marcha-2C com estágio superior Yuanzheng-1S, a partir do Centro de Lançamento de Satélites de Xichang.
A missão marcou a primeira tentativa da China de posicionar satélites em órbita DRO, considerada altamente estável e adequada para operações prolongadas no espaço profundo.
No entanto, logo após o lançamento, a equipe detectou uma anomalia no estágio superior do foguete, que resultou na inserção inadequada dos satélites na órbita planejada.
O apogeu, que deveria atingir 292.000 quilômetros, permaneceu em 134.000 quilômetros, e os satélites giravam a mais de 200 graus por segundo. A situação apresentou riscos imediatos, incluindo perda de energia e desintegração dos equipamentos em órbita.
O sistema de Telemetria, Rastreamento e Comando (TT&C) capturou o primeiro sinal de contato cerca de 40 minutos após a separação do foguete. A equipe do CSU, composta majoritariamente por profissionais com menos de 34 anos, iniciou uma operação de emergência para recuperar o controle da constelação.
A primeira etapa consistiu em reduzir a rotação dos satélites. Para isso, foram enviados comandos alternados aos propulsores, o que permitiu estabilizar a atitude por volta das 3h da madrugada do dia seguinte.
Em seguida, foram identificadas falhas nos painéis solares: o satélite DRO-A não conseguiu travar seu painel, e o DRO-B apresentava deslocamento total do componente. A equipe implementou ajustes de orientação solar e controle de atitude, conseguindo restaurar a capacidade de geração de energia.
Após superar essas dificuldades iniciais, a equipe concentrou-se na redefinição da trajetória orbital. O combustível restante era inferior ao normalmente exigido, e a nova trajetória precisaria ser calculada com precisão. Nos dias seguintes, engenheiros realizaram simulações e enviaram comandos para ajustar o apogeu dos satélites.
A primeira manobra de controle orbital elevou a altitude para cerca de 240.000 quilômetros em 18 de março. Em seguida, outra manobra ajustou o perigeu para 380.000 quilômetros, completando a inserção na órbita desejada.
A operação, que durou 123 dias, foi concluída oficialmente em 15 de julho de 2024. No mês seguinte, os satélites DRO-A e DRO-B foram separados com êxito. A manobra consumiu apenas 20% do combustível normalmente requerido para esse tipo de missão e percorreu um total aproximado de 8,5 milhões de quilômetros.
Além do êxito técnico, a missão validou tecnologias inéditas, incluindo transferências orbitais de baixa energia, comunicação intersatélite por micro-ondas em banda K a uma distância de 1,17 milhão de quilômetros e novos sistemas de determinação de órbita espacial.
Zhang Hao, pesquisador do CSU e um dos responsáveis pelo planejamento orbital da missão, destacou que a constelação pode atuar como centro de comunicação e laboratório científico no espaço profundo.
“Juntos, eles formarão um farol ou um farol para futuras explorações do espaço profundo por nós”, disse. Segundo ele, a estabilidade do campo gravitacional local também permite usos experimentais e funcionais em futuras missões para Marte e para o desenvolvimento de recursos lunares.
Yin Yongchen, doutorando na Universidade da Academia Chinesa de Ciências (UCAS) e integrante da equipe, participou da revisão dos parâmetros orbitais.
Ele relatou dificuldades durante o envio dos comandos, incluindo um erro na configuração de parâmetros do motor, corrigido com o apoio dos membros mais experientes.
“Fiquei bastante ansioso naquele momento, preocupado que meu erro pudesse atrapalhar a execução normal da missão”, disse ao Global Times.
A equipe atribui parte do êxito ao sistema integrado de pesquisa e educação da UCAS, que, segundo os envolvidos, favorece a formação de profissionais preparados para situações críticas em projetos espaciais.
Zhang observou que os integrantes da Geração Z envolvidos demonstraram forte capacidade técnica e senso de responsabilidade.
A missão reforça a presença da China no setor aeroespacial e amplia a capacidade do país em missões de longa duração no espaço profundo. Com a estabilização da constelação, o país avança na construção de infraestrutura orbital entre a Terra e a Lua, voltada à comunicação, navegação e pesquisa científica.
O projeto também representa um marco na inserção de novas gerações de profissionais no programa espacial chinês. De acordo com os coordenadores, o sucesso obtido em condições adversas evidencia a preparação técnica e operacional das equipes envolvidas, bem como a viabilidade de expandir projetos similares em missões futuras.