Pequim prepara-se para uma das maiores demonstrações de poder militar de sua história recente. No próximo dia 3 de setembro, a Praça da Paz Celestial será palco de um desfile que comemora o 80º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial — chamada na China de “Guerra de Resistência do Povo contra a Agressão Japonesa e Guerra Antifascista Mundial”.

O governo chinês confirmou a presença de 26 líderes estrangeiros, incluindo nomes que simbolizam uma frente alternativa à ordem internacional liderada pelo Ocidente: Vladimir Putin, presidente da Rússia; Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte; e Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil e atual dirigente do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco dos Brics).

Desfile de poder e mensagens geopolíticas

O evento, que terá cerca de 70 minutos de duração, contará com 10 mil soldados, mais de 100 aeronaves e armamentos de última geração, incluindo caças, drones, sistemas de defesa antimísseis e armas hipersônicas. Autoridades chinesas enfatizam que todo o material a ser exibido é de produção nacional e já está em serviço ativo.

Especialistas afirmam que a parada militar vai além da comemoração histórica: é também uma mensagem estratégica de Pequim. Ao colocar Putin e Kim no topo da lista de convidados, Xi Jinping sinaliza não apenas a força das alianças asiáticas, mas também uma resposta direta à pressão ocidental — da guerra na Ucrânia à contenção militar dos EUA no Indo-Pacífico.

A lista de convidados inclui ainda chefes de Estado da Ásia Central, África e Oriente Médio, além de Miguel Díaz-Canel, de Cuba, e Emmerson Mnangagwa, do Zimbábue — países que, como a própria China, sofrem pressões ou sanções do Ocidente.

Para analistas, o desfile consolida uma coalizão de países interessados em redesenhar a ordem global com base no multilateralismo e em alternativas ao sistema liderado por Washington.

Brasil no tabuleiro chinês

A participação de Dilma Rousseff reforça a dimensão simbólica da presença brasileira. À frente do Banco dos Brics, a ex-presidente deve acompanhar o desfile ao lado de Putin, Kim e Xi. Também estão confirmados em Pequim o assessor especial da Presidência do Brasil, Celso Amorim, e o embaixador Marcos Galvão.

Embora o Brasil mantenha relações estratégicas tanto com a China quanto com os EUA, a presença de Dilma no evento fortalece a imagem de Brasília como ator ativo no eixo emergente que busca maior autonomia frente ao Ocidente.

Com a modernização acelerada de seu Exército e a busca por aliados estratégicos, a China utiliza a memória da Segunda Guerra para legitimar sua posição como potência estabilizadora e protagonista na redefinição de uma ordem mundial baseada no multilateralismo ameaçado pelos EUA, desde 1945.

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Last Update: 28/08/2025