A China manifestou nesta quarta-feira (6) seu apoio ao Brasil diante da entrada em vigor das tarifas unilaterais de até 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em conversa telefônica com o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, o chanceler chinês Wang Yi condenou o uso de medidas coercitivas como forma de pressão política e afirmou que Pequim se opõe à “interferência externa injustificada” nos assuntos internos brasileiros.
Segundo ele, o governo chinês apoia firmemente a defesa da soberania, dos interesses e do direito ao desenvolvimento do Brasil.
Wang classificou o tarifaço norte-americano como um comportamento de intimidação e reiterou que a China se manterá ao lado do Brasil na proteção de seus direitos.
A ligação entre os dois representantes ocorre no mesmo dia em que as sobretaxas de Trump entram oficialmente em vigor, afetando produtos estratégicos da pauta exportadora brasileira.
Para o chanceler chinês, “a dignidade nacional deve ser preservada” e medidas discriminatórias como as impostas pelos EUA “minam a ordem internacional e violam os princípios da Carta das Nações Unidas”.
Além de reiterar o apoio à autonomia brasileira diante das tarifas norte-americanas, Wang Yi defendeu o aprofundamento da parceria estratégica entre China e Brasil. Segundo ele, os dois países devem intensificar a coordenação bilateral nas áreas de comércio, finanças e política externa, consolidando uma relação de “apoio mútuo” entre as maiores economias em desenvolvimento de seus respectivos continentes.
O chanceler afirmou que os governos do presidente Lula e do presidente Xi Jinping constroem juntos uma “comunidade com futuro compartilhado”, pautada na multipolaridade, na defesa da justiça internacional e no respeito à soberania dos povos.
Celso Amorim, por sua vez, destacou o compromisso do governo brasileiro com o fortalecimento dos Brics e com a articulação dos países do Sul Global como eixo estratégico de um mundo mais equilibrado.
O assessor do presidente Lula também reafirmou a disposição do Brasil em ampliar os laços de cooperação com a China diante dos desafios impostos por medidas unilaterais, como as tarifas discriminatórias aplicadas pelos Estados Unidos.
Para Amorim, o aprofundamento da aliança sino-brasileira é essencial para defender a soberania nacional e promover o desenvolvimento com justiça social.
Ofensiva tarifária dos EUA e solidariedade da China
As novas tarifas contra o Brasil foram anunciadas por Donald Trump em julho, dentro de um pacote de sanções unilaterais que também atingiu países como Índia, México, Vietnã e Alemanha. No entanto, o Brasil foi o mais penalizado, com taxas de até 50% sobre produtos estratégicos como aço, café, celulose e suco de laranja.
A justificativa apresentada por Trump teve forte teor político: ele condicionou o fim das tarifas à suspensão do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal, classificando o processo como uma “caça às bruxas” que deveria parar “imediatamente”.
Desde o anúncio do tarifaço, a China foi um dos primeiros países a se posicionar em defesa do Brasil. No final de julho, a porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning, já havia declarado que “as tarifas não devem ser utilizadas como instrumento de coerção, intimidação ou interferência”.
A fala foi acompanhada por uma nota do próprio chanceler Wang Yi, alertando que tais medidas minam a ordem internacional baseada em regras e violam os princípios da Carta da ONU.
A postura de Pequim também reflete sua própria disputa tarifária com Washington. Desde abril, os dois países travam uma guerra comercial que já envolveu sucessivas rodadas de retaliação.
Enquanto governos europeus buscaram acordos parciais com os EUA, a China adotou uma resposta firme, elevando tarifas sobre produtos norte-americanos e denunciando o protecionismo como ameaça à estabilidade global.
Neste contexto, a aliança com o Brasil ganha novo peso, projetando os dois países como defensores da multipolaridade e da resistência do Sul Global às imposições unilaterais das potências ocidentais.