Em uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira (28), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, condenou de forma contundente a ameaça do governo dos Estados Unidos de impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros. Ele reiterou que a China já havia se posicionado contra esse tipo de medida, reforçando que “guerras tarifárias não têm vencedores” e que “ações unilaterais não atendem aos interesses de nenhuma das partes”.

Guo afirmou que Pequim está disposta a trabalhar com o Brasil, demais países da América Latina e do Caribe, além dos membros do BRICS, para proteger o sistema de comércio multilateral, centrado na Organização Mundial do Comércio (OMC), e garantir a justiça e a equidade internacionais.

“Práticas unilaterais não servem aos interesses de ninguém”, reforçou o porta-voz.

Cooperação com o Brasil: foco em resultados e setor aéreo

Questionado sobre a possibilidade de a China ampliar sua abertura comercial a produtos brasileiros que hoje dependem do mercado norte-americano, Guo Jiakun reiterou que Pequim valoriza uma cooperação pragmática com o Brasil. Ele mencionou, especificamente, o setor de aviação como uma área estratégica para aprofundar a parceria, “com base em princípios de mercado” e com benefícios mútuos para o desenvolvimento dos dois países.

“Estamos prontos para promover essa cooperação e impulsionar o desenvolvimento nacional de ambos os países”, declarou Guo.

Brasil na expectativa e China recusa acordos “às suas custas”

Ao ser indagado sobre a recente retomada de negociações entre EUA e China, Guo afirmou que Pequim mantém uma posição consistente: aposta no diálogo e no respeito mútuo para reduzir mal-entendidos e fomentar um desenvolvimento saudável nas relações sino-americanas. Ele também rejeitou a possibilidade de a China aceitar um acordo similar ao feito entre EUA e União Europeia — tratado considerado insatisfatório por Bruxelas.

“Nos opomos firmemente a qualquer tentativa de alguma parte de firmar um acordo às custas dos interesses da China”, enfatizou.

Diplomacia brasileira corre contra o tempo

O Brasil entra em uma semana decisiva diante da iminência das tarifas estadunidenses, que devem entrar em vigor nesta sexta-feira (1º de agosto). Até o momento, o governo Lula não obteve resposta clara de Washington às tentativas de diálogo. O chanceler Mauro Vieira, em viagem a Nova York para reunião da ONU sobre a Palestina, sinalizou que está pronto para se deslocar à capital dos EUA caso haja disposição americana para negociar.

Uma comitiva com oito senadores brasileiros de diferentes partidos também desembarcou nos EUA no fim de semana para tentar abrir um canal com o governo Trump. Os parlamentares se reuniram nesta segunda com a embaixadora Maria Luiza Viotti e diplomatas brasileiros, e participaram de encontros com representantes da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.

O senador Nelsinho Trad (PSD-MS) reconheceu as dificuldades: “Não se tem canal de diálogo. Estamos na expectativa de retomar esse entendimento antes da sobretarifa, que será muito ruim para toda a economia brasileira.”

Já o senador Rogério Carvalho (PT-SE) alertou para a imprevisibilidade de Trump nas relações internacionais: “Mesmo aqui [nos EUA], não se vê racionalidade nas posições do presidente. A relação com o Brasil não será diferente. Precisamos de paciência, calma e firmeza.”

Fratura exposta na ordem comercial global

O episódio evidencia o isolamento de Washington em um momento de tensões crescentes no comércio internacional. Ao buscar respaldo em Pequim e nos BRICS, o Brasil aposta no multilateralismo como antídoto ao protecionismo americano. A declaração firme da China reforça a disputa por protagonismo na definição das regras globais de comércio e abre uma janela estratégica para o Brasil diversificar suas parcerias.

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Last Update: 29/07/2025