A China anunciou um ousado projeto para construir uma usina solar em órbita da Terra, capaz de gerar energia suficiente para competir com as maiores fontes terrestres. A iniciativa, revelada por Long Lehao, projetista-chefe dos foguetes Long March e membro da Academia Chinesa de Engenharia, pretende colocar uma matriz solar de um quilômetro de largura em órbita geoestacionária a 36 mil quilômetros de altitude.
Energia limpa em escala espacial
A proposta chinesa visa aproveitar a luz solar no espaço, que é cerca de dez vezes mais intensa do que na superfície terrestre, eliminando interrupções causadas por clima ou ciclos dia-noite. A energia captada seria transmitida para a Terra sem a necessidade de cabos, por meio de ondas de rádio de alta energia, chegando a receptores terrestres e, assim, abastecendo cidades e indústrias.
Para dimensionar o impacto do projeto, Long Lehao comparou-o à grandiosidade da barragem das Três Gargantas, a maior usina hidrelétrica do mundo, que gera 100 bilhões de quilowatts-hora anualmente. Ele chegou a dizer que a usina espacial seria como “mover a barragem das Três Gargantas para uma órbita geoestacionária”.
Desafios técnicos e ambição
Apesar do potencial revolucionário, o projeto enfrenta grandes obstáculos tecnológicos e logísticos. A transferência de energia em larga escala do espaço para a Terra ainda não foi totalmente dominada. Até agora, experimentos como o realizado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) em 2023 conseguiram transmitir apenas pequenos volumes de energia na escala de miliwatts, muito aquém do necessário para abastecer cidades.
A construção da usina espacial exigirá múltiplos lançamentos para transportar os componentes à órbita. Para isso, a China está desenvolvendo o foguete Long March-9, que será reutilizável e capaz de carregar até 150 toneladas, consolidando o país como líder no setor aeroespacial. O foguete também será fundamental para os planos de estabelecer uma base de pesquisa lunar até 2035.
Além disso, a China já deu passos concretos: em 2021, iniciou a construção de uma estação experimental de energia solar espacial em Bishan. Mais recentemente, pesquisadores da Universidade de Ciência e Tecnologia Eletrônica de Xian, em 2023, apresentaram resultados promissores de testes em solo com o sistema Chasing the Sun Project.
Corrida global pela energia espacial
Embora a China esteja na vanguarda desse campo, outros países e empresas também estão competindo para explorar o potencial da energia solar espacial. A Islândia, em parceria com a Space Solar, do Reino Unido, planeja lançar uma matriz solar até 2030, suficiente para abastecer até 3.000 residências. Nos Estados Unidos, empresas como Lockheed Martin e Northrop Grumman investem em pesquisas semelhantes, enquanto a Agência Espacial Europeia (ESA) e a agência espacial japonesa Jaxa também avançam no desenvolvimento de protótipos.
A Jaxa, por exemplo, pretende lançar um satélite de teste em 2025, que será um passo inicial para validar a viabilidade da transferência de energia.
O futuro da energia limpa
Embora a China ainda não tenha divulgado uma data para a conclusão de sua usina espacial, o impacto potencial do projeto é significativo. Se os desafios técnicos forem superados, a tecnologia poderá oferecer uma fonte de energia renovável e confiável em escala global, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e ampliando o acesso à energia limpa.
Com o planeta enfrentando a crise climática e a necessidade de transição energética, o projeto chinês simboliza um marco na busca por inovações que possam redefinir as formas de produzir e consumir energia.