Pequim acelera corrida espacial com dois megaprojetos que podem mudar o controle global da internet.
A China desenvolve dois projetos paralelos de megaconstelações de satélites para competir diretamente com o Starlink da SpaceX. Os programas Guowang e Qianfan planejam colocar em órbita mais de 28.000 satélites nos próximos anos, superando os 12.000 previstos pela empresa de Elon Musk.
“A China está desenvolvendo planos para uma megaconstelação de 13.000 satélites”, reportou Andrew Jones da SpaceNews em 21 de abril de 2021. Documentos oficiais chineses consultados pela Wikipedia em maio de 2025 revelam números maiores: o Guowang planeja 12.992 satélites, enquanto o Qianfan pretende mais de 15.000.
O projeto Guowang iniciou operações em 16 de dezembro de 2024 com o lançamento de 10 satélites via foguete Long March 5B, conforme reportado pela agência Xinhua. A China Satellite Network Group (China Satnet), empresa estatal criada em 2021, controla o programa com foco militar e governamental.
“A China lançou os primeiros 10 satélites para sua megaconstelação Guowang (‘rede nacional’) em 16 de dezembro”, confirmou a SpaceNews em 7 de janeiro de 2025. Até maio de 2025, apenas 29 satélites Guowang estavam em órbita após três lançamentos.
O Qianfan demonstra ritmo mais acelerado. A Shanghai Spacecom Satellite Technology (SSST) já colocou 90 satélites em órbita desde agosto de 2024, realizando cinco lançamentos bem-sucedidos. O governo de Shanghai investiu 6,7 bilhões de yuan (US$ 943 milhões) no projeto, segundo a Reuters de 6 de agosto de 2024.
“A China lançou o quarto lote de 18 satélites para a megaconstelação Thousand Sails na madrugada de quinta-feira usando um foguete Long March 6A”, reportou a SpaceNews em 23 de janeiro de 2025.
Victoria Samson, da Secure World Foundation, alertou à SpaceNews em 7 de janeiro de 2025: “É possível que eles estejam sendo construídos para fazer algo além da internet baseada no espaço”. O comentário refere-se ao tamanho dos satélites Guowang, maiores que os concorrentes.
O Starlink mantém vantagem operacional significativa. A constelação americana opera “mais de 6.750 satélites atualmente em órbita, servindo milhões de clientes ativos”, segundo atualização oficial de 27 de fevereiro de 2025. A SpaceX possui 4 milhões de assinantes e receitas estimadas em US$ 7,7 bilhões em 2024.
A corrida espacial chinesa gerou o primeiro acidente. “O estágio superior do Long March 6A se fragmentou e criou uma nuvem de detritos de ‘mais de 300 pedaços de detritos rastreáveis em órbita terrestre baixa’”, alertou o Comando Espacial dos Estados Unidos após o primeiro lançamento Qianfan.
O Brasil na mira chinesa
Shanghai Spacesail assinou memorando de cooperação com a Telecomunicações Brasileiras S.A. em 20 de novembro de 2024. “A constelação Qianfan fornecerá serviços de comunicação via satélite para a região brasileira a partir de 2026”, informou a Wikipedia chinesa. A empresa chinesa negocia com mais de 30 países.
Os satélites chineses causam poluição luminosa. “Os satélites Qianfan são brilhantes, e sua poluição luminosa representa uma ameaça à astronomia observacional”, alertou a Wikipedia em 1º de junho de 2025. O problema afeta observações telescópicas e a visualização do céu noturno.
Especialistas identificam motivações militares. “O Exército de Libertação Popular expressou intenções de potencialmente usar a megaconstelação para usos militares semelhantes à utilidade do Starlink para comunicações das Forças Armadas Ucranianas”, reportou a Wikipedia chinesa em 2025.
O jornal militar Liberation Army Daily publicou em 2022 que “o Starlink pode ter fornecido mais do que comunicações para ajudar a resposta ucraniana”, segundo a SpaceNews de 7 de janeiro de 2025.
A guerra fria espacial
Victoria Samson recomendou à SpaceNews em janeiro de 2025: “Seria benéfico para os militares americanos e chineses terem linhas de comunicação estabelecidas para garantir a segurança do voo espacial”.
A TV estatal CCTV reportou que “a China planeja lançar 648 satélites até o final de 2025 como parte dos 1.296 satélites na primeira fase de construção da constelação”. O cronograma indica aceleração dos lançamentos chineses.
Os projetos chineses receberam investimentos superiores a US$ 10 bilhões combinados. O Qianfan opera com modelo comercial híbrido, enquanto o Guowang mantém controle estatal direto. Ambos visam reduzir a dependência chinesa de infraestruturas ocidentais.
A competição espacial transcende aspectos comerciais. O controle das comunicações via satélite confere poder geopolítico, influenciando desde operações militares até fluxos de informação civil. A China busca autonomia estratégica em comunicações espaciais através destes programas.
Os números finais impressionam: Guowang planeja 12.992 satélites com 29 já lançados; Qianfan pretende mais de 15.000 com 90 operacionais; Starlink possui mais de 7.000 ativos de 12.000 planejados. A corrida espacial do século XXI define quem controlará a internet global.