
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca nesta semana em Pequim para se reunir com o líder chinês Xi Jinping. Será o terceiro encontro oficial entre os dois desde que Lula iniciou seu terceiro mandato, em janeiro de 2023.
A visita reforça os laços entre Brasil e China, mas ocorre em um contexto internacional marcado pela crescente rivalidade entre China e Estados Unidos — que disputam protagonismo político e econômico na América Latina.
A viagem de Lula é tratada por ambos os governos como uma oportunidade de aprofundar parcerias estratégicas. No entanto, a movimentação brasileira também chama atenção de Washington, que vê com preocupação o avanço chinês na região.
Em abril, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou em entrevista ao canal ‘Fox News’ em espanhol que os países latino-americanos “talvez” precisem escolher entre Estados Unidos e China. “Talvez. Sim, talvez deveriam fazer isso”, disse ele.
Apesar da declaração, analistas e diplomatas brasileiros consideram remota a possibilidade de o Brasil ser pressionado a escolher entre uma das potências. A política externa brasileira tem tradição de evitar alinhamentos automáticos, além de considerar os dois países fundamentais para sua economia.
Enquanto os EUA lideram os investimentos estrangeiros no Brasil, a China é o principal destino das exportações brasileiras desde 2009. Dados do Banco Mundial mostram que os Estados Unidos ainda concentram 41% das exportações da América Latina, além de fornecerem 30% de tudo o que a região importa.
A China, por sua vez, representa 12% das exportações e 20% das importações da região, com um saldo positivo no comércio — ao contrário dos EUA, que compram mais do que vendem.

Na prática, a balança comercial brasileira reflete essa dinâmica. Em 2024, o Brasil exportou US$ 94 bilhões para a China, principalmente soja, minério de ferro e petróleo, com um superávit de US$ 30 bilhões. Para os Estados Unidos, o país exportou US$ 40,3 bilhões, mas importou US$ 40,6 bilhões, gerando um déficit de US$ 300 milhões.
Ainda que os chineses sejam essenciais para o agronegócio brasileiro, os EUA são parceiros estratégicos da indústria. “A exportação do Brasil para os EUA é bastante mista, com muitos produtos manufaturados, por conta da integração produtiva entre filiais de empresas americanas”, explica Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e consultor internacional.
Do ponto de vista diplomático, o assessor especial da Presidência Celso Amorim descartou a possibilidade de o Brasil ser forçado a escolher entre Washington e Pequim. “O Brasil não vai fazer essa escolha. Os Estados Unidos são muito importantes para nós e continuarão a ser. Mas outros países também são importantes, como a China, a Índia e a União Europeia”, disse Amorim.
Segundo Maurício Santoro, cientista político e professor de Relações Internacionais da Marinha do Brasil, os investimentos norte-americanos no Brasil ainda superam os chineses. Entre 2010 e 2023, os EUA investiram US$ 270 bilhões no país, enquanto a China aparece em quinto lugar com US$ 50 bilhões, voltados principalmente a infraestrutura.
Santoro acredita que os EUA não têm hoje capacidade econômica ou diplomática de impor sua vontade ao Brasil. “Eles podem tentar pressionar países da América Central ou do Caribe, mas não têm como coagir o Brasil. Seria contraproducente.”
A tendência, afirmam os especialistas, é que o Brasil continue buscando equilíbrio entre os dois gigantes. “Não há alinhamento automático da diplomacia brasileira. O Brasil vai seguir tentando manter relações positivas com todos os parceiros”, conclui Barral.
Conheça as redes sociais do DCM:
⚪Facebook: https://www.facebook.com/diariodocentrodomundo
🟣Threads: https://www.threads.net/@dcm_on_line