China amplia recrutamento acadêmico e abre espaço para líderes do setor privado em ciência e tecnologia.

A China lançou sua maior campanha em uma década para recrutar especialistas de ponta em ciência e tecnologia para suas principais instituições acadêmicas, marcando uma mudança significativa ao abrir vagas para pesquisadores do setor privado e estrangeiros.

A Academia Chinesa de Ciências (CAS) e a Academia Chinesa de Engenharia (CAE) iniciaram na semana passada o processo bienal de nomeação de novos yuanshi — título acadêmico mais alto do país, concedido a cientistas e engenheiros com contribuições significativas.

Segundo comunicados recentes, cada academia pretende nomear até 100 novos membros nesta rodada, a maior expansão em pelo menos dez anos. Pela primeira vez, a CAE reservou oito vagas específicas para candidatos vindos de empresas privadas de tecnologia de ponta.

A academia destacou que aproximadamente 30% dos indicados virão das “linhas de frente da pesquisa corporativa”, priorizando especialistas de empresas inovadoras, especialmente do setor privado.

Essa nova abordagem reflete um esforço nacional para romper com critérios rígidos de avaliação que, segundo Pequim, têm sufocado a inovação. A CAS afirmou que as seleções devem “romper resolutamente com os ‘quatro únicos’” — referência ao antigo padrão que priorizava apenas artigos publicados, títulos acadêmicos, diplomas e prêmios.

A mudança acompanha o desejo do governo chinês de impulsionar o crescimento econômico por meio da inovação tecnológica e da participação ativa do setor privado. Em março, o primeiro-ministro Li Qiang reforçou a necessidade de reformar profundamente os critérios de avaliação de talentos, priorizando “inovação, qualidade, eficácia e contribuição”, além de incentivar a dedicação e a pesquisa aprofundada.

Embora alguns cientistas e executivos de empresas privadas já tenham sido eleitos como membros acadêmicos desde 2019, o domínio ainda é de especialistas oriundos de universidades, institutos de pesquisa e estatais.

Dados oficiais apontam que o setor privado representa mais de 92% das empresas da China e abriga mais de 420 mil companhias de alta tecnologia. Com isso, Pequim tem reforçado o papel dessas empresas em áreas estratégicas como computação em nuvem, inteligência artificial, softwares industriais e medicina genética.

O anúncio de recrutamento da CAS para 2025 também ampliou as vagas para áreas como ciências da vida e medicina, matemática, física, química, ciências da Terra, ciências técnicas e tecnologia da informação.

Em paralelo, a CAE destinou 32 vagas a acadêmicos estrangeiros — oito a mais que em 2023 — e manteve a inclusão de membros oriundos de países da Iniciativa Cinturão e Rota, com preferência por candidatos com experiência prolongada na China.

Entre as empresas de destaque, o laboratório DeepSeek, de Hangzhou, ganhou projeção internacional com o lançamento de seu modelo de linguagem de grande porte no início de 2025. Ele integra o grupo conhecido como “Seis Dragões de Hangzhou”, junto a outras empresas que avançam em áreas como IA, robótica e interfaces cérebro-máquina.

O processo seletivo bienal realizado pela CAS e pela CAE busca recrutar cientistas e engenheiros com contribuições sistemáticas e originais, especialmente em áreas consideradas críticas. O título é vitalício, e os nomeados passam a liderar a pesquisa de ponta no país.

Na rodada de 2023, a CAS havia planejado 79 indicações, mas apenas 59 foram efetivadas. Na CAE, o limite era de 90, mas só 74 vagas foram preenchidas — o maior déficit desde 2009. Em novembro de 2023, a CAS contava com 873 membros e a CAE com 978.

Meredith Chen
Meredith Chen é repórter do South China Morning Post, com foco em ciência, tecnologia e política de inovação na China.
2 de maio de 2025
South China Morning Post

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 02/05/2025