O governo chinês declarou nesta segunda-feira, 29, que o fornecimento de alimentos do país permanece estável e não será afetado pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos, mesmo diante da queda nas importações de produtos agrícolas norte-americanos, como soja e carne suína.
A afirmação foi feita por Zhao Chenxin, vice-chefe da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, em coletiva de imprensa.
Segundo Zhao, as importações de grãos como sorgo, milho e soja oriundos dos Estados Unidos representam apenas uma fração do consumo total chinês em 2024.
Esses grãos, utilizados principalmente como insumos industriais, são, segundo ele, facilmente substituíveis no mercado internacional.
“O suprimento geral de alimentos da China não será afetado, mesmo que as compras de grãos para ração e oleaginosas dos EUA sejam suspensas”, afirmou.
Zhao também destacou a capacidade da China de manter a autossuficiência alimentar por meio da produção interna e da diversificação de fontes externas.
De acordo com o vice-chefe, a produção nacional de grãos ultrapassou 1,4 trilhão de jin em 2024. “O arroz do povo chinês está firmemente em nossas mãos”, declarou.
Em resposta às tarifas adicionais aplicadas pelos Estados Unidos, o governo chinês intensificou a substituição de importações agrícolas norte-americanas por produtos de outros mercados.
Dados do Global Times indicam que, em abril, aproximadamente 40 navios transportando soja brasileira devem atracar no terminal de Laotangshan, localizado no porto de Ningbo-Zhoushan, província de Zhejiang. Isso representa um aumento de 48% em relação ao mesmo período do ano anterior.
De acordo com representantes da empresa Zhoushan Port Laotangshan Change Transfer Storage Transport Co., o terminal — considerado o maior ponto de entrada de grãos no Delta do Rio Yangtze — deve receber 700 mil toneladas de soja brasileira neste mês, um crescimento de 32% em comparação às 530 mil toneladas registradas no mesmo período de 2023.
Enquanto isso, os dados mais recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam uma queda significativa nas exportações agrícolas americanas para a China na semana de 11 a 17 de abril, a primeira após o anúncio do novo pacote tarifário por parte de Washington.
As vendas líquidas de soja recuaram 50% em relação à semana anterior, enquanto as vendas líquidas de carne suína caíram 72%.
Durante o mesmo período, a China adquiriu apenas 1.800 toneladas de soja dos EUA, número significativamente inferior às 72.800 toneladas compradas na semana encerrada em 10 de abril, segundo o Wall Street Journal.
No caso da carne suína, houve uma redução de 12 mil toneladas em pedidos anteriormente confirmados, o que resultou em um total semanal de apenas 5.800 toneladas, o menor volume registrado para entregas previstas em 2025.
Li Yong, pesquisador sênior da Associação Chinesa de Comércio Internacional, comentou ao Global Times que os efeitos das tarifas já são perceptíveis sobre o setor agrícola dos EUA. “É evidente que o setor agrícola e os agricultores dos EUA já estão sofrendo com as tarifas”, afirmou.
Li argumentou que produtos agrícolas norte-americanos como soja e carne suína dependem fortemente da demanda chinesa, mas que os Estados Unidos estariam restringindo o próprio acesso a esse mercado ao manter a guerra tarifária.
Segundo ele, a maioria desses produtos pode ser adquirida de fornecedores alternativos, incluindo Brasil, Argentina e Austrália, que demonstram disposição para ampliar suas relações comerciais com a China.
Entre 2016 e 2024, a participação dos EUA nas importações chinesas de soja caiu de 40% para 18%, segundo dados do China Media Group. A redução reflete o avanço da política chinesa de diversificação de fornecedores, que tem sido acelerada com o aumento das tarifas sobre produtos norte-americanos.
Li também advertiu que, caso as tarifas dos EUA sejam mantidas ou aumentem ainda mais, o redirecionamento das importações chinesas pode se intensificar.
“O protecionismo não alcançará os objetivos pretendidos e somente com a suspensão de todas as tarifas unilaterais poderá realmente resolver os problemas enfrentados pelas indústrias americanas”, concluiu.
O contexto atual é de continuidade no embate comercial entre os dois países. Os Estados Unidos impuseram tarifas adicionais de até 145% sobre importações chinesas neste ano, elevando a alíquota média efetiva para cerca de 156%.
Alguns produtos estão sujeitos a tarifas de até 245%, segundo informações da Casa Branca. Em retaliação, a China elevou para 125% as tarifas sobre todos os produtos dos EUA, acumulando os impostos previamente existentes.
A declaração de Zhao Chenxin e o aumento do volume de importações oriundas do Brasil ocorrem paralelamente à queda nas exportações americanas, configurando uma alteração nas rotas comerciais e nos fluxos globais de suprimento de alimentos.
O movimento reforça a intenção da China de reduzir sua dependência de mercados considerados instáveis diante de disputas políticas e tarifárias.
Com informações da Global Times