Pesquisadores chineses concluíram a construção de um conjunto de dados de alta precisão sobre o terreno da área de pouso da missão lunar Chang’e-6.
A análise, baseada em imagens de alta resolução capturadas durante a descida e após o pouso, permitiu identificar com exatidão a localização da sonda, além de revelar aspectos geológicos detalhados da superfície da Lua.
Os resultados foram publicados no periódico Nature Communications e divulgados nesta quarta-feira, 15, pelo jornal Science and Technology Daily.
O levantamento foi coordenado por Li Chunlai, dos Observatórios Astronômicos Nacionais da Academia Chinesa de Ciências, e envolveu o uso de dados obtidos pelas câmeras da sonda. A equipe analisou imagens da sequência de descida e registros estéreo obtidos pela câmera panorâmica de curto alcance da missão.
Segundo o estudo, a Chang’e-6 pousou na borda sudoeste de uma cratera identificada como Cratera C1, com aproximadamente 51 metros de diâmetro. Essa formação geológica está localizada em uma região de basalto lunar, material comum em planícies escuras da superfície lunar.
A análise da área permitiu identificar características como rugosidade dos grãos do solo, morfologia das crateras, espessura do regolito e abundância de fragmentos rochosos.
Os dados gerados funcionam como uma espécie de “cartão de identificação” das amostras que foram coletadas e retornarão à Terra. Essas informações serão utilizadas como referência para análises laboratoriais subsequentes. De acordo com os autores, o mapeamento detalhado é fundamental para estabelecer a origem das amostras e compreender os processos geológicos locais.
Comparações com áreas de pouso de missões anteriores, como a Chang’e-4 e a Chang’e-5, indicam que os parâmetros geológicos da nova área estão entre os observados nessas missões. A rugosidade da superfície, a razão entre profundidade e diâmetro das crateras, a espessura do regolito e a concentração de rochas presentes estão dentro das faixas registradas nos pousos anteriores.
A avaliação sugere que a idade de exposição da superfície onde a Chang’e-6 pousou se situa entre as das áreas estudadas pelas duas missões anteriores.
Outro achado do estudo diz respeito à presença de materiais de ejeção de impacto na área de pouso. Os pesquisadores observaram a existência de raios de ejeção radiais, característicos de impactos de alta energia, visíveis em imagens obtidas por sensoriamento remoto. A análise indica que o solo da região é composto por uma mistura de materiais locais e exógenos.
Estima-se que cerca de 35 centímetros do solo da região sejam formados por basalto local, representando de 30% a 35% do material total, possivelmente originado da própria Cratera C1. Os demais 5 a 16 centímetros da camada superior seriam formados por materiais de origem mais distante, provenientes de outras crateras lunares.
A presença desse solo misto representa, segundo os pesquisadores, uma oportunidade para compreender melhor a dinâmica dos impactos lunares e os mecanismos de dispersão de materiais na superfície. A caracterização detalhada da composição e da distribuição desses materiais será uma das bases para os estudos futuros com as amostras trazidas pela missão.
A Chang’e-6 integra o programa espacial chinês de exploração lunar e tem como objetivo principal coletar e retornar à Terra amostras da face oculta da Lua.
A missão é uma continuidade das etapas iniciadas com a Chang’e-4 e a Chang’e-5, que respectivamente realizaram o primeiro pouso na face oculta lunar e trouxeram amostras da superfície de volta ao planeta em 2020.
A atual etapa representa a primeira tentativa de coleta e retorno de materiais da face não visível da Lua, o que traz desafios técnicos adicionais devido à ausência de comunicação direta com a Terra. A missão depende de satélites retransmissores para manter contato com os controladores em solo e realizar as operações automatizadas necessárias.
O novo conjunto de dados geológicos, fruto da combinação de imagens e medições topográficas de alta resolução, contribuirá para o planejamento de futuras missões e para o avanço dos estudos sobre a composição da crosta lunar.
O material permitirá avaliar com maior precisão a formação e a evolução da superfície do satélite, com ênfase nas áreas basálticas e nas regiões de impactos mais recentes.
Os pesquisadores afirmam que os dados gerados também podem ser utilizados para comparar diferentes regiões lunares e auxiliar na definição de locais estratégicos para futuras missões de exploração tripulada ou robótica.
A missão Chang’e-6 está prevista para retornar à Terra com as amostras lunares ainda em 2025. Após a chegada, os materiais serão submetidos a análises laboratoriais conduzidas por instituições científicas chinesas, com possibilidade de cooperação internacional em estudos específicos.
O governo chinês já indicou que poderá compartilhar parte das amostras com outros países mediante acordos de pesquisa.
Com a conclusão da etapa de coleta e documentação geológica do local de pouso, a missão Chang’e-6 avança para a fase de retorno e entrega dos espécimes ao laboratório terrestre.
Os resultados divulgados nesta semana representam o primeiro detalhamento técnico da área-alvo da coleta e estabelecem as bases para as análises que ocorrerão após o retorno dos materiais.
Com informações do Global Times