A China possui hoje a maior e mais avançada malha ferroviária do planeta, com trens de alta velocidade e uma infraestrutura de carga robusta. Sua influência ferroviária ultrapassa fronteiras nacionais, conectando continentes e ampliando seu alcance comercial.

Os destinos principais estão na Eurásia, a massa continental que une Europa e Ásia, que pode ser perfeitamente conectada por trilhos, porque não há obstáculos marítimos ou fluviais que impeçam.

Na Europa, a presença chinesa já é consolidada. Dezenas de trens por semana partem de cidades como Xi’an, Chengdu, Chongqing e Wuhan, atravessando a Ásia Central e chegando a mais de 200 destinos europeus, de Hamburgo a Madrid. Em 2024, o número de viagens ultrapassou 17 mil ao ano, transportando eletrônicos, roupas, carros, máquinas e até produtos frescos em mais de 1 milhão de contêineres anuais. Em algumas rotas, a frequência chega a 17 trens por semana, sempre com horários fixos e previsibilidade de entrega.

Agora, a China inaugura mais um braço ferroviário estratégico: o corredor direto para o Irã. O primeiro trem de carga chegou ao porto seco Aprin, próximo a Teerã, em 25 de maio. O trajeto, de cerca de 4.000 km, é percorrido em cerca de duas semanas — metade do tempo que levaria pelo mar. Na fase inicial, um trem por semana parte em cada sentido, mas a meta é chegar a sete trens semanais, ampliando a capacidade anual para até 1 milhão de toneladas de carga. Cada composição pode transportar dezenas de vagões ou contêineres.

O corredor ferroviário China-Irã tem um peso geopolítico relevante: pela primeira vez, a China atinge diretamente o Oriente Médio por via férrea, fortalecendo laços com uma região crucial para o comércio global de energia e commodities. O Irã exporta para a China petróleo bruto, produtos petroquímicos, gás natural, frutas secas, pistache, tâmaras, minerais e metais como cobre e ferro. Já a China envia ao Irã máquinas industriais, equipamentos eletrônicos, materiais de construção, produtos químicos, veículos, componentes automotivos, eletrodomésticos e uma grande variedade de bens de consumo.

A China também mantém rotas ferroviárias para outros destinos estratégicos. Além da Europa, trens partem regularmente para a Rússia, Cazaquistão, Turquia, Polônia e Alemanha. O trem China-Europa faz a viagem para a Alemanha em cerca de duas semanas, operando em horários fixos e com alta previsibilidade.

No campo político, a nova rota ferroviária para o Irã ganha ainda mais relevância diante das sanções impostas pelos Estados Unidos. O Irã, com cerca de 88 milhões de habitantes e um PIB estimado em US$ 400 bilhões, busca alternativas para driblar o isolamento internacional. A China, com 1,41 bilhão de pessoas e um PIB de US$ 18 trilhões, se consolida como parceira fundamental, oferecendo investimentos, tecnologia e acesso ao seu vasto mercado.

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Last Update: 26/05/2025