O governo chinês divulgou nesta quarta-feira (5), durante a abertura da sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP), um aumento de 7,2% no orçamento de defesa para 2025, totalizando 1,784665 trilhão de yuans (US$ 249 bilhões). O valor, apresentado no relatório preliminar do orçamento, aguarda aprovação formal pela legislatura, controlada pelo Partido Comunista Chinês (PCC). É o nono ano consecutivo de crescimento militar acima de 7%, mantendo a China como o segundo maior orçamento militar do mundo, atrás apenas dos EUA.
Taiwan, Mar do Sul da China e rivalidade com os EUA
O incremento ocorre em um cenário de crescentes atritos regionais. Pequim reforça sua postura em áreas sensíveis, como o estreito de Taiwan – parte integrante de seu território – e disputas no Mar do Sul da China. O país possui o maior número de embarcações navais do mundo.
Além disso, a rivalidade tecnológica e estratégica com os Estados Unidos, que aprovou um orçamento de defesa recorde de US$ 886 bilhões em 2024, acentua a corrida por capacidades bélicas avançadas, incluindo mísseis hipersônicos e inteligência artificial.
“O aumento é necessário para salvaguardar a soberania nacional e enfrentar ameaças complexas”, declarou Li Qiang, primeiro-ministro chinês, durante a ANP. Ele alertou que “mudanças nunca vistas em um século estavam se desenrolando pelo mundo a um ritmo mais rápido”.
Numa das manifestações mais contundentes da China desde que Trump se tornou presidente — e enquanto líderes se reúnem em Pequim para o encontro anual do Congresso Nacional do Povo —, a Embaixada da China em Washington republicou no X (antigo Twitter) uma declaração do governo feita na terça-feira (4): “Se é guerra o que os EUA querem, seja uma guerra tarifária, uma guerra comercial ou qualquer outro tipo de guerra, estamos prontos para lutar até o fim”.
A China também deve colocar seu terceiro porta-aviões, o Fujian, em operação já neste ano. Alguns observadores indicam que Pequim também pode estar planejando construir um porta-aviões movido a energia nuclear.
Estima-se que o país tenha um estoque de mais de 600 ogivas nucleares operacionais, com ainda mais sendo colocadas em operação.
Também parece estar fortalecendo pesquisa e desenvolvimento em inteligência cibernética, espacial e artificial, fazendo uso de tecnologias civis avançadas.
Modernização militar: onde serão aplicados os recursos?
Especialistas apontam que os recursos serão direcionados para:
- Tecnologia de ponta: Desenvolvimento de sistemas de defesa antimísseis, drones de combate e armas nucleares.
- Marinha e Força Aérea: Expansão da frota naval (já a maior do mundo) e modernização de caças stealth, como o J-20.
- Ciberguerra e Espaço: Investimentos em satélites militares e capacidades de guerra eletrônica.
- Treinamento e Salários: Melhoria nas condições para recrutas, em meio a relatos de dificuldades para atrair jovens em um mercado de trabalho competitivo.
O que esperar nos próximos anos?
A tendência de alta nos gastos militares deve continuar, segundo relatórios de inteligência ocidentais. A China busca atingir a “plena modernização” de suas forças armadas até 2035, almejando status de potência militar equiparável aos EUA. Paralelamente, Pequim intensifica campanhas de diplomacia pública para justificar o crescimento, afirmando que seu objetivo é “defesa, não hegemonismo”.
Enquanto a China projeta força global, o aumento do orçamento de defesa acende debates sobre o equilíbrio entre ambições geopolíticas e demandas domésticas. Em um mundo multipolar em transformação, os trilhões de yuans destinados ao Exército de Libertação Popular ecoam como um sinal de que Pequim não recuará em sua defesa da soberania.