A China criticou duramente o tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump contra todos os produtos brasileiros. Em coletiva nesta sexta-feira (11), a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, acusou os Estados Unidos de violar normas fundamentais do direito internacional e de tentar interferir nos assuntos internos do Brasil.

“Tarifas não devem ser usadas como uma ferramenta de coerção, intimidação e interferência nos assuntos internos de outros países”, afirmou.

Ao justificar a sobretaxa ao Brasil, o presidente norte-americano alegou que o país sul-americano estaria promovendo “ataques insidiosos” contra eleições livres e contra a liberdade de expressão de empresas e cidadãos dos EUA — em referência velada ao julgamento de Jair Bolsonaro e às ações do STF contra plataformas digitais.

“A igualdade soberana e a não interferência em assuntos internos são princípios importantes da Carta das Nações Unidas e normas básicas nas relações internacionais”, disse Mao Ning, ao reafirmar a posição oficial do governo chinês.

Ela também alertou que ações como essa minam a estabilidade global. “Não há vencedores em guerras comerciais e tarifárias, e o protecionismo não leva a lugar nenhum”, disse.

Ainda nesta semana, a China já havia se manifestado contra ameaças anteriores de Trump, que anunciou tarifas adicionais de 10% a países que adotem políticas “antiamericanas” do Brics.

Os países do bloco responderam que o Brics “não tem nenhum país como alvo” e busca apenas fortalecer a cooperação entre emergentes. O governo chinês também apontou que os EUA estão tentando isolar seu principal rival geopolítica por meio de uma ofensiva tarifária, atingindo inclusive países do Sudeste Asiático, como o Camboja.

A repercussão internacional tende a crescer com a escalada da retaliação norte-americana a parceiros estratégicos do Brasil. O Itamaraty, por sua vez, tem reiterado que responderá com firmeza, e o presidente Lula já acionou a Lei da Reciprocidade e articula reações conjuntas no G20 e na OMC.

Rússia critica sobretaxa e sugere expansão do Brics

A Rússia também reagiu ao tarifaço de Trump contra o Brasil, com um aceno direto à ampliação do Brics. Segundo o vice-ministro das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, a resposta ao protecionismo norte-americano pode vir com o fortalecimento e o alargamento do bloco de países emergentes.

Em declaração à imprensa, Riabkov afirmou que o grupo “está pronto para receber novos parceiros” e sugeriu que países já associados informalmente, como Bolívia, Cuba, Nigéria, Malásia e Vietnã, poderão ser os próximos a integrar formalmente o Brics.

“Estamos confiantes de que os países incluídos no primeiro círculo de parceiros trarão seus próprios elementos de valor à cooperação do Brics”, disse o diplomata russo, acrescentando que há “segurança de que outros os seguirão”. Segundo ele, o processo de ampliação será cuidadoso, mas representa uma resposta direta ao uso político de tarifas e sanções pelo governo Trump.

A fala de Riabkov ecoa a insatisfação de diversos países com a tentativa de Washington de usar o comércio como instrumento de punição geopolítica.

No caso brasileiro, a sobretaxa de 50% foi anunciada após críticas do ex-presidente norte-americano ao julgamento de Jair Bolsonaro e à atuação do Supremo Tribunal Federal — elementos que, para Moscou e Pequim, configuram clara interferência nos assuntos internos de um Estado soberano.

Em discurso no Espírito Santo nesta sexta (11), o presidente Lula reforçou a necessidade de respostas multilaterais. “Vou brigar na OMC, vou conversar com meus companheiros do Brics. Mas, se não tiver jeito no papo, vamos estabelecer a reciprocidade. Taxou aqui, a gente taxa lá”.

O Brasil hoje acumula déficit comercial com os Estados Unidos, o que esvazia os argumentos de Trump sobre supostos prejuízos à indústria americana. Lula ironizou: “O senhor está muito mal informado. Os EUA não têm déficit comercial com o Brasil. É o Brasil que tem déficit com o Brasil. Nós é que deveríamos taxar ele”.

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Last Update: 12/07/2025