Uma nova rota ferroviária comercial entre China e Irã foi oficialmente inaugurada nesta segunda-feira (26), com a chegada do primeiro trem de carga da cidade de Xi’an ao porto seco de Aprin, nos arredores de Teerã.

O trajeto foi destacado pela agência iraniana Tasnim News como parte de uma iniciativa para ampliar o intercâmbio comercial e reduzir a dependência logística de portos marítimos.

O terminal de Aprin, considerado o principal centro de carga ferroviária do Irã, tem papel estratégico na facilitação do comércio terrestre. A conexão direta com a China encurta o tempo de transporte entre Xangai e Teerã para cerca de 15 dias, metade do tempo estimado pela rota marítima tradicional. O novo corredor também é visto por autoridades iranianas como uma forma de mitigar os efeitos de sanções econômicas aplicadas pelos Estados Unidos.

Além da eficiência logística, a ligação atende ao interesse comum dos dois países em aprofundar parcerias no contexto da iniciativa chinesa “Um Cinturão, Uma Rota”, da qual o Irã passou a fazer parte em 2019. Em 2021, Pequim e Teerã assinaram um acordo de cooperação de 25 anos estimado em US$ 400 bilhões, com foco em áreas como energia, infraestrutura e transporte.

A movimentação integra uma estratégia mais ampla de integração ferroviária entre países da Ásia e Europa. No dia 12 de maio, autoridades de China, Irã, Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão e Turquia reuniram-se em Teerã para discutir a expansão de uma rede ferroviária transcontinental.

De acordo com a Tasnim News, os representantes dos seis países firmaram consenso sobre a necessidade de estabelecer tarifas conjuntas, padronizar operações e fortalecer a conectividade regional.

O trem inaugural, ao chegar ao terminal de Aprin, marca o início formal de uma alternativa terrestre ao transporte marítimo sob influência de potências ocidentais. A medida amplia as rotas de escoamento de petróleo iraniano em direção ao leste asiático e, simultaneamente, oferece à China uma passagem para distribuir seus produtos rumo ao continente europeu.

Segundo analistas ouvidos por veículos regionais, a nova rota se insere em um contexto de reposicionamento geopolítico por parte do Irã, cuja liderança tem indicado preferência por fortalecer laços com potências do leste. Em 2018, o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, declarou que o país deveria “olhar para o leste em vez do oeste”, o que tem sido interpretado como diretriz para intensificar relações com parceiros asiáticos.

A estrutura do novo trajeto contempla, além da China e Irã, conexões com territórios da Ásia Central e do Cáucaso, o que facilita a circulação de mercadorias por meio de uma rede logística integrada. Ao criar um corredor terrestre contínuo da Ásia Oriental até a Europa, o projeto representa um passo relevante para a consolidação de uma alternativa comercial à tradicional rota do Canal de Suez.

Com a abertura oficial da rota, os governos envolvidos sinalizam interesse em institucionalizar o corredor como parte de uma malha ferroviária internacional. O desenvolvimento do projeto depende, no entanto, de ajustes técnicos, acordos bilaterais adicionais e segurança operacional ao longo de todo o percurso.

A atuação coordenada entre os países participantes busca garantir que os trens possam operar sob um regime comum de tarifas, inspeção e logística. Para isso, foram iniciadas discussões sobre a adoção de padrões interoperáveis de operação ferroviária, com o objetivo de aumentar a previsibilidade e reduzir custos.

A perspectiva é que a nova rota ferroviária funcione como uma alternativa econômica e política diante das limitações impostas por sanções internacionais e instabilidades nas rotas marítimas tradicionais. Especialistas apontam que a consolidação dessa malha poderá gerar impactos de médio prazo na dinâmica comercial entre os continentes asiático e europeu.

Embora o projeto ainda enfrente desafios técnicos e políticos, sua implementação marca uma mudança na forma como China e Irã estruturam suas cadeias logísticas e comerciais. A parceria também fortalece o papel de países da Ásia Central como territórios de trânsito fundamentais na nova arquitetura de transporte transcontinental.

A inauguração oficial da rota China-Irã simboliza um avanço na articulação de redes de transporte terrestre voltadas a contornar obstáculos geopolíticos. Com isso, os países envolvidos pretendem reduzir vulnerabilidades comerciais e promover maior autonomia nas trocas comerciais regionais e intercontinentais.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 27/05/2025