Pesquisadores do Instituto de Automação da Academia Chinesa de Ciências anunciaram o desenvolvimento de um robô de alta precisão voltado à implantação de microeletrodos em tecidos cerebrais.

O dispositivo, batizado de CyberSense, foi projetado para atuar em procedimentos relacionados à tecnologia de interface cérebro-computador (ICC), e marca um avanço nos métodos utilizados em pesquisas neurocientíficas e biomédicas. A informação foi divulgada pelo jornal estatal Science and Technology Daily na última quinta-feira.

O robô opera de forma automatizada, inserindo microeletrodos extremamente finos e flexíveis, com dimensões semelhantes às de fios de cabelo, diretamente no cérebro de animais.

A estrutura e a precisão do CyberSense são comparadas às de uma máquina de costura, sendo capaz de lidar com tecidos cerebrais considerados frágeis e sensíveis, como explicou o pesquisador Yu Shan, integrante do projeto.

“Os eletrodos implantáveis atuais são mais finos e flexíveis do que um fio de cabelo, o que reduz significativamente o trauma cirúrgico e o risco de rejeição imunológica”, disse Yu.

Ele explicou que o desafio principal da tecnologia é a necessidade de manipular estruturas cerebrais de consistência muito macia, “como tofu”, e que essa tarefa supera as limitações da intervenção manual, exigindo, portanto, o uso de sistemas robóticos específicos.

De acordo com a reportagem, o campo das ICCs implantáveis integra múltiplas disciplinas, envolvendo microeletrodos, chips eletrônicos, neurocirurgia, inteligência artificial e algoritmos de decodificação neural. Essa complexidade exige cooperação entre áreas distintas da ciência e inovação contínua em engenharia e biotecnologia.

O pesquisador Qin Fangbo, líder do projeto e pesquisador associado do Instituto, afirmou que o robô foi projetado com características que aumentam significativamente a eficácia do procedimento.

Segundo ele, o CyberSense possui alto grau de automação, capacidade de implantar grande número de eletrodos simultaneamente, precisão no posicionamento espacial, tempo reduzido de operação e habilidade para evitar vasos sanguíneos durante o processo cirúrgico.

Essas qualidades tornam o sistema compatível com diferentes modelos de microeletrodos flexíveis e aplicável em experimentos com animais, como roedores e primatas não humanos.

Qin destacou ainda que o CyberSense contribui para o aumento das taxas de sucesso na implantação de eletrodos e para a obtenção de dados mais consistentes nas análises eletrofisiológicas realizadas após os procedimentos.

O sistema já foi utilizado em testes com diferentes tipos de eletrodos desenvolvidos por instituições como o Instituto de Semicondutores da própria Academia Chinesa de Ciências, bem como pela empresa We-Linking, com sede em Shenzhen.

A integração dessas tecnologias tem potencial para acelerar pesquisas na área de ICC e no estudo das funções neurais por meio de registros de atividade cerebral.

A reportagem do Science and Technology Daily aponta que o uso do CyberSense está permitindo avanços em pesquisas com eletrofisiologia neural, ampliando a capacidade de coleta de dados de alta resolução e facilitando a análise do comportamento de redes neuronais em organismos vivos.

As aplicações incluem tanto a observação da atividade cerebral em situações específicas quanto a possibilidade de desenvolver sistemas de controle por sinais neurais.

O robô também representa um passo no desenvolvimento de procedimentos minimamente invasivos em neurociência, ampliando a segurança das operações experimentais em laboratório e reduzindo o impacto dos procedimentos sobre os organismos estudados.

A abordagem automatizada permite maior controle sobre variáveis críticas do procedimento, como profundidade de inserção, ângulo de entrada e distribuição dos eletrodos na superfície cortical.

A equipe responsável pelo desenvolvimento do CyberSense planeja ampliar a linha de dispositivos baseados na mesma tecnologia. Segundo Yu Shan, os próximos projetos devem explorar novas funcionalidades do sistema e expandir seu uso para aplicações em diferentes áreas da biotecnologia e da neuroengenharia. O objetivo é consolidar a China como um dos polos de pesquisa e inovação em interfaces cérebro-computador.

Os pesquisadores acreditam que os robôs cirúrgicos automatizados se tornarão peças centrais no avanço de tecnologias ligadas ao controle neural e à comunicação entre sistemas biológicos e artificiais. A atuação do CyberSense em procedimentos que exigem extrema precisão pode, segundo a equipe, abrir caminhos para novas terapias e sistemas de suporte baseados em leitura e interpretação de sinais cerebrais.

A reportagem conclui que o desenvolvimento do robô representa um esforço estratégico da China para ampliar sua presença em áreas de alta tecnologia e inovação científica. O projeto integra a agenda nacional de incentivo à pesquisa em inteligência artificial, engenharia biomédica e neurociência aplicada, com perspectivas de impacto em aplicações médicas, industriais e militares.

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Last Update: 22/05/2025