A China iniciou a construção do que será a maior usina hidrelétrica do mundo, um projeto de dimensões sem precedentes que promete redefinir o panorama energético global. O Premier Li Qiang participou da cerimônia de lançamento da obra no Rio Yarlung Tsangpo, no Tibete, marcando o início de um empreendimento que consolidará ainda mais a liderança chinesa no setor hidrelétrico mundial.
O projeto representa um salto tecnológico monumental na geração de energia hidrelétrica. Com capacidade estimada de 300 bilhões de quilowatts-hora anuais, a nova usina superará em três vezes a produção da atual recordista mundial, a Hidrelétrica das Três Gargantas. Para dimensionar essa capacidade, a instalação poderia sozinha fornecer energia para aproximadamente 21,6% de todas as residências americanas ou abastecer completamente França e Itália em conjunto.
A magnitude do investimento reflete a ambição do projeto. Com orçamento estimado em 1,2 trilhão de yuans, equivalente a 167 bilhões de dólares americanos, torna-se um dos maiores empreendimentos de infraestrutura da história. A obra contará com cinco estações hidrelétricas em cascata, maximizando o aproveitamento do potencial energético do rio.
Para compreender a relevância deste projeto, é fundamental analisar o cenário atual da energia hidrelétrica mundial. A China já domina amplamente este setor, possuindo 370.160 MW de capacidade instalada, mais que o triplo do segundo colocado. O Brasil ocupa a segunda posição com 109.318 MW, seguido pelos Estados Unidos com 103.058 MW e Canadá com 81.058 MW.
A liderança chinesa no setor hidrelétrico não se limita apenas à capacidade instalada. O país asiático também lidera em energia renovável total, com 1,8 TW de capacidade, seguido pelos Estados Unidos com 428 GW, Brasil com 213 GW e Índia com 204 GW. Essa dominância reflete décadas de investimentos estratégicos em infraestrutura energética.
A Hidrelétrica das Três Gargantas, atual recordista mundial, possui 22.500 MW de capacidade e produz entre 98,8 e 125 TWh anuais, dependendo da disponibilidade hídrica. Em comparação, a icônica Usina de Itaipu, na fronteira entre Brasil e Paraguai, possui 14.000 MW e produz aproximadamente 103 TWh anuais, mantendo-se como uma das mais eficientes do planeta.
O Brasil mantém posição de destaque no cenário hidrelétrico mundial, ocupando três posições entre as dez maiores usinas: Itaipu (14.000 MW), Belo Monte (11.233 MW) no Rio Xingu, e Tucuruí (8.370 MW) no Rio Tocantins. Essa presença significativa demonstra o potencial hídrico brasileiro e a tradição do país na geração de energia limpa.
Analisando quem está construindo mais hidrelétricas atualmente, a China mantém liderança absoluta. O país desenvolve simultaneamente o Complexo do Rio Jinsha, recém-concluiu a Baihetan com 16.000 MW, e agora inicia o projeto Yarlung Tsangpo. Essa estratégia agressiva de expansão visa atender à crescente demanda energética doméstica e consolidar a posição de potência energética global.
O Brasil, por sua vez, possui sete projetos hidrelétricos em estudo, somando 2,4 GW de potência total. Embora menor em escala comparado aos projetos chineses, o país ainda possui potencial hidrelétrico remanescente de 172 GW, dos quais aproximadamente 60% já foram aproveitados. O foco brasileiro tem se direcionado para pequenas centrais hidrelétricas e diversificação da matriz energética.
A Índia emerge como outro player significativo no desenvolvimento hidrelétrico, especialmente em resposta aos projetos chineses no Rio Brahmaputra. O país desenvolve projetos próprios na região de Arunachal Pradesh, buscando assegurar direitos hídricos e segurança energética. Com 50.680 MW de capacidade instalada, a Índia ocupa a sexta posição mundial.
O Sudeste Asiático também investe em hidrelétricas reversíveis para complementar energia renovável, enquanto países latino-americanos como Chile, Argentina e Bolívia desenvolvem projetos de médio porte. A Nigéria e Colômbia registraram os maiores acréscimos de capacidade hidrelétrica em 2023, demonstrando a expansão global do setor.
A localização do projeto Yarlung Tsangpo no Tibete adiciona complexidade geopolítica significativa. O rio transforma-se no Brahmaputra ao deixar território chinês, fluindo através da Índia e Bangladesh. Essa configuração geográfica gerou preocupações nos países a jusante sobre possíveis impactos na segurança hídrica e alimentar.
Autoridades chinesas asseguram que o projeto passou por rigorosa avaliação científica e não afetará adversamente o meio ambiente ou os direitos hídricos dos países vizinhos. Estudos baseados em barragens já operacionais sugerem que os impactos podem ser contrários aos temores, com aumento de fluxo durante períodos secos.
A criação da China Yajiang Group, empresa estatal proprietária do projeto, demonstra o comprometimento governamental com a iniciativa. A empresa focará em inovação tecnológica e proteção ecológica, aspectos cruciais para o sucesso do empreendimento e aceitação internacional.
O projeto não se destina apenas ao consumo doméstico. Segundo informações oficiais, a usina foi projetada principalmente para fornecimento externo, indicando possível exportação energética para países vizinhos. Essa estratégia alinha-se com a iniciativa chinesa de expandir influência energética regional através da Iniciativa do Cinturão e Rota.
A energia hidrelétrica representa atualmente 15% da eletricidade global, com as fontes renováveis atingindo 41% da geração mundial em 2024. Neste contexto, o projeto chinês contribuirá significativamente para a transição energética global, fornecendo energia limpa em escala sem precedentes.
O cronograma de construção ainda não foi detalhado, mas a experiência chinesa com as Três Gargantas, que levou 18 anos para conclusão, oferece perspectiva sobre a complexidade temporal envolvida. A magnitude do projeto Yarlung Tsangpo sugere período de desenvolvimento igualmente prolongado.
Este empreendimento representa mais que expansão da capacidade energética chinesa. Simboliza a ambição tecnológica do país e sua determinação em liderar a transição energética mundial. A escala sem precedentes estabelecerá novos padrões para projetos hidrelétricos futuros e consolidará definitivamente a posição chinesa como superpotência energética.
A construção da maior hidrelétrica do planeta marca momento histórico na engenharia energética. Enquanto questões geopolíticas e ambientais permanecem em discussão, a magnitude técnica do empreendimento é incontestável. O projeto Yarlung Tsangpo redefinirá os limites do possível na geração hidrelétrica e estabelecerá novo marco na busca global por energia limpa e renovável.