Em coletiva com veículos estrangeiros, o presidente José da Silva defendeu nesta terça-feira (23) a expansão das parcerias comerciais com a China, para que, além da exportação atual de commodities, o Brasil possa receber transferência de tecnologia e sediar empresas produtoras de microchips e softwares.

Para analisar a disposição do presidente brasileiro em aumentar a parceria com o tigre asiático, o programa TVGGN 20 Horas, apresentado pelo jornalista João Silva, contou com a participação de Carlos de Carvalho, professor de Direito da UFF, professor de Direito Internacional e coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da FGV Direito Rio.

“A China tem sido o único país em que, neste século XXI, tem apresentado propostas de discurso e projetos interessantes de amplo alcance”, observa o docente.

Carvalho chama a atenção para o fato de que a China já é parceira comercial de 140 países e regiões do mundo; que mais que ser a segunda maior economia mundial, tem uma diplomacia bastante estável e posicionamento muito claro na defesa do multilateralismo e das nações internacionais. Consequentemente, contribui no desenvolvimento de projetos de infraestrutura e paz.

O professor lembra que, até alguns anos atrás, a China estava entre os países que mais destinavam recursos para financiar as missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) e serviu, nesta terça-feira, de palco para a formalização de um acordo entre grupos palestinos que discutiram o futuro da Faixa de Gaza após o término do conflito entre Hamas e Israel.

Filosofia

Apesar de ser um dos países que mais cresce na área econômica, a China também propõe a disseminação da filosofia e da cultura entre os parceiros. O presidente Xi Jinping defendeu a tese de que todos fazemos parte de um contexto em comum, afinal “eu estou em você e você está em mim”.

“A harmonia do yin e yang é a de que ninguém é totalmente bom e nem totalmente mau. Essas dicotomias antagônicas [propagadas pela indústria cultural norte-americana] não se encaixam no contexto da realidade, porque a pessoa hoje pode ter uma atitude positiva e aquilo que é avaliado positivamente pode ser visto em um contexto negativo”, acrescenta o entrevistado.

Por isso, a proposta de criar uma nova rota da seda contempla ainda a expansão de museus e bibliotecas. “Agora mesmo teve um encontro dos poetas dos países Brics. A China combate um discurso obscurantista e anticiência a partir de um apoio e investimento também nesse segmento.”

Oportunidade

Carlos de Carvalho defende, então, que o Brasil desenvolva uma política externa mais qualificada com a China. Até o momento, a relação comercial se limita em importação e exportação no agronegócio, fazendo com que estes produtores dominem a pauta política do governo na relação com o tigre asiático.

“Esse grupo tem o controle da agenda Brasil-China. É um aspecto que o governo atual precisa ficar atento, porque as oportunidades na relação com a China são muitas. Agora, a gente precisa obviamente estar preparado e disposto. A China está aberta na relação com o Brasil em criar parcerias em que haja de fato uma troca”, acrescenta o professor.

Mas, para isso, o governo precisa superar a objeção da direita, que, segundo o entrevistado, “sequer senta com o governo chinês para discutir quais são os ganhos”. “A relação com a China talvez seja a primeira relação com um país de uma grandeza econômica equiparado aos países desenvolvidos do ocidente, de uma maneira que o Brasil nunca estabeleceu historicamente com os demais, porque os demais países do ocidente estão acostumados com uma relação de tutela, de cima para baixo. Com a China não. Essa oportunidade inclusive de trabalhar o desenvolvimento de microchips aqui no Brasil em parceria com a China é uma possibilidade concreta.”


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Última Atualização: 24/07/2024