A guerra moderna está experimentando uma transformação substancial com o surgimento de novas tecnologias que permitem a derrota do inimigo sem a necessidade de armas convencionais.
Enquanto mísseis, tanques e drones ainda são fundamentais no campo de batalha, uma nova fronteira de combate silencioso e insidioso começa a ganhar destaque: a guerra eletrônica.
Pulsos eletromagnéticos (PEMs) e micro-ondas de alta potência (MHPs) são as principais armas dessa nova era, com a capacidade de incapacitar ou danificar permanentemente equipamentos eletrônicos, sem a necessidade de uma única explosão.
No centro dessa revolução estão os sistemas de guerra eletrônica cognitiva (GEC), que utilizam inteligência artificial para interferir em sinais, desativar radares e até derrubar drones.
Esse tipo de tecnologia tem ganhado relevância entre planejadores militares ao redor do mundo, que reconhecem seu potencial como um dos maiores avanços em defesa.
De acordo com um relatório do Centro de Avaliações Estratégicas e Orçamentárias, os Estados Unidos estão em busca de alcançar a competitividade global em guerra eletrônica, embora ainda possam levar “uma década ou mais” para atingir potências rivais como a China.
A Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA-China, em um estudo publicado em novembro de 2024, afirmou que o Exército de Libertação Popular da China já desenvolveu capacidades substanciais de guerra eletrônica, com potencial para “detectar, atingir e interromper” as forças armadas dos Estados Unidos.
A guerra eletrônica não é mais restrita aos exércitos regulares. Grupos insurgentes, rebeldes e terroristas também estão cada vez mais explorando essas ferramentas. A manipulação do espectro eletromagnético, de acordo com especialistas militares, é agora considerada tão crucial para o combate moderno quanto a superioridade aérea foi no século passado.
A interação entre humanos e algoritmos de inteligência artificial tem o objetivo de aprimorar a detecção de alvos, segundo o Coronel do Corpo de Fuzileiros Navais Drew Cukor, em um relatório do Departamento de Defesa de 2017 sobre o “Projeto Maven”. No entanto, apesar dos esforços, os resultados práticos ainda têm sido limitados.
A situação, no entanto, pode estar mudando. O Pentágono tem dedicado mais atenção à busca por novas tecnologias de guerra eletrônica. Um exemplo é o sistema Leonidas, desenvolvido pela empresa Epirus, que utiliza micro-ondas de alta potência para desativar drones.
Testado no Oriente Médio, o Leonidas representa uma inovação importante: uma arma que emite um pulso de micro-ondas para neutralizar drones, ao invés de disparar projéteis. Esse sistema é reutilizável, o que reduz os custos operacionais e aumenta a segurança das tropas no campo de batalha.
Além disso, a Força Aérea dos Estados Unidos firmou um contrato de US$ 6,4 milhões com o Instituto de Pesquisa do Sudoeste, para desenvolver algoritmos de guerra eletrônica capazes de identificar e responder rapidamente a novas ameaças.
O objetivo é criar sistemas que analisem o ambiente com a confiabilidade humana, mas com maior precisão e tempos de resposta mais rápidos, como destacou David Brown, líder do projeto, em um comunicado de abril de 2024.
No entanto, os Estados Unidos ainda enfrentam desafios para integrar completamente a inteligência artificial em suas operações de guerra eletrônica. O Coronel Larry Fenner Jr., comandante da 350ª Ala de Guerra de Espectro, declarou em novembro de 2024 que a tecnologia de guerra eletrônica ainda está longe de atingir seu potencial ideal.
A automação da detecção de sinais anômalos e a criação de contramedidas rápidas continuam sendo áreas que precisam de desenvolvimento. A implementação desses sistemas poderia reduzir o tempo de resposta a ataques eletrônicos e melhorar a eficácia das operações de defesa.
Outro aspecto inovador da guerra eletrônica é a possibilidade de ocultação de armas avançadas. Em fevereiro de 2025, o Reino Unido revelou seu sistema de mísseis Gravehawk, um sistema de defesa aérea de longo alcance camuflado em um contêiner de transporte padrão.
Esse conceito de ocultação poderia ser adaptado para sistemas de guerra eletrônica, como o Leonidas, permitindo que armas como os pulsos eletromagnéticos (PEMs) sejam escondidas em caminhões de entrega ou até mesmo em contêineres de transporte.
Esse tipo de tecnologia invisível apresenta vantagens significativas em relação aos métodos tradicionais de ataque. Um ataque EMP, por exemplo, pode causar apagões em grande escala, desativar infraestruturas críticas e interromper comunicações sem deixar rastros evidentes de quem o realizou. Isso cria uma grande dificuldade para os governos, que podem ter dificuldades em identificar rapidamente se se trata de um ataque cibernético, um ato de guerra convencional ou uma falha técnica.
À medida que a guerra eletrônica se torna mais acessível, cresce a preocupação com o uso indevido dessas tecnologias. Grupos insurgentes podem acessar tecnologias comerciais, como drones e sistemas de radar, e integrá-las com dispositivos como os pulsos eletromagnéticos.
Um relatório de 2022 do Departamento de Segurança Interna alertou sobre os riscos de essas tecnologias caírem nas mãos de terroristas. Embora esses grupos historicamente tenham usado dispositivos explosivos improvisados e táticas de guerrilha, a barreira de entrada para a guerra eletrônica tem diminuído, tornando essas ferramentas cada vez mais acessíveis.
Como os ataques de guerra eletrônica não deixam vestígios físicos evidentes, eles complicam os esforços de resposta e aumentam a dificuldade de identificar um agressor. Isso desafia a definição e a resposta a incidentes de guerra, principalmente quando ataques de alta precisão podem ser realizados de locais distantes, tornando ainda mais difícil atribuir responsabilidade.
A tendência é que os sistemas de guerra eletrônica, incluindo armas baseadas em IA, se tornem cada vez mais eficientes, rápidos e difíceis de combater. À medida que a inteligência artificial aprimora a tomada de decisões autônomas, os campos de batalha podem se tornar mais complexos, com a necessidade de desenvolver estratégias de defesa capazes de neutralizar essas ameaças invisíveis.
Os investimentos em tecnologias de defesa, como equipamentos resistentes à radiação, criptografia quântica e algoritmos de IA para neutralizar ataques de pulso eletromagnético, já estão em andamento.
No entanto, a história tem mostrado que as inovações ofensivas frequentemente superam as defensivas, e o futuro da guerra poderá ser caracterizado por apagões silenciosos e interrupções causadas por ataques invisíveis e de difícil rastreamento.
O cenário da guerra eletrônica, com seu impacto crescente no futuro do combate, exige uma adaptação das estratégias de defesa. À medida que essa tecnologia se torna cada vez mais comum, é importante considerar os desafios e as implicações de sua implementação, não apenas em conflitos entre estados, mas também no uso por grupos não governamentais. A guerra que se aproxima pode ser silenciosa, mas suas consequências podem ser profundas.