O Banco Popular da China anunciou a criação de um centro de operações internacionais para o yuan digital, com o objetivo de ampliar o alcance global da moeda chinesa. O anúncio foi feito nesta quarta-feira, 18, pelo governador da instituição, Pan Gongsheng, durante o Fórum Lujiazui, realizado em Xangai.
A iniciativa é parte de um pacote com oito políticas financeiras voltadas para fortalecer a posição internacional do renminbi e transformar Xangai em um polo global de finanças. O plano também prevê testes com instrumentos estruturais de política monetária e a adoção de novas tecnologias no sistema bancário nacional.
“O sistema tradicional de pagamentos transfronteiriços está apresentando problemas cada vez mais visíveis, e há uma necessidade de reduzir a dependência de uma única moeda”, afirmou Pan.
“Há um crescente apelo global por melhorias, e novas infraestruturas de pagamento e métodos de liquidação estão surgindo, o que está impulsionando o sistema global em direção a maior eficiência, segurança, inclusão e diversidade — uma tendência que só se fortalecerá no futuro.”
Segundo Pan, a China desenvolveu ao longo de mais de dez anos uma rede de compensação transfronteiriça baseada no renminbi com múltiplos canais e cobertura internacional. A proposta de internacionalização do yuan ocorre em um contexto de tensões comerciais e tecnológicas com os Estados Unidos, que ampliaram a pressão sobre Pequim para diversificar suas opções financeiras e monetárias.
A nova estrutura incluirá testes de refinanciamento para empresas de comércio exterior, esquemas de redesconto para transações transfronteiriças e um programa expandido de financiamento verde. Este último ampliará a ferramenta de apoio à redução de carbono, incorporando setores regionais específicos e projetos de transição energética.
A cidade de Xangai será utilizada como plataforma de testes para novas ferramentas estruturais, como o uso de blockchain em operações de financiamento comercial e a emissão de títulos de inovação. Também haverá apoio para empresas privadas na emissão de papéis vinculados à inovação tecnológica, com mecanismos de compartilhamento de risco.
O banco central também anunciou a criação de um repositório de relatórios comerciais voltado ao mercado interbancário.
O sistema reunirá dados de transações de alta frequência de segmentos como títulos, derivativos, mercados monetários, ouro e papel comercial, com o objetivo de subsidiar instituições financeiras e orientar políticas macroeconômicas e decisões regulatórias.
Uma nova agência de crédito pessoal será criada para ampliar a oferta de produtos personalizados para o setor financeiro. A medida faz parte da estratégia de fortalecimento da infraestrutura de crédito social no país, segundo informou Pan.
Durante seu discurso, o governador do Banco Popular da China também pediu reformas em organismos financeiros internacionais. Ele citou a ausência de mudanças significativas nos direitos de voto e na estrutura de governança de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
“Apesar das mudanças no cenário econômico global, as ações e os direitos de voto das principais organizações financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial… há muito tempo não passam por ajustes substanciais”, afirmou Pan. “A participação dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento é significativamente menor do que sua posição real na economia global.”
A China possui atualmente 6,4% dos votos no FMI, mesmo sendo a segunda maior economia do mundo. Pequim tem pressionado por uma reformulação no sistema multilateral e por maior representatividade nas decisões dessas instituições.
Pan também abordou os Direitos Especiais de Saque (SDR), um ativo de reserva internacional do FMI. Segundo ele, a falta de consenso global impede que o SDR assuma papel relevante como instrumento de troca no sistema monetário internacional. “Mais esforços são necessários para promover o uso de SDR, apesar do ambiente global desafiador”, disse.
Em sua avaliação, o atual sistema baseado na predominância de uma moeda soberana representa risco potencial em cenários de conflito internacional.
“No futuro, o sistema monetário internacional provavelmente continuará sua evolução em direção a um sistema em que algumas moedas soberanas coexistem e competem com freios e contrapesos”, declarou. Ele acrescentou que emissores de moedas devem reforçar a disciplina fiscal interna e aprimorar a regulação financeira, além de avançar em reformas estruturais.
As propostas apresentadas por Pan indicam a intensificação da estratégia chinesa de reduzir a exposição ao dólar americano e de consolidar alternativas de liquidação financeira entre países do Sul Global. A expectativa do governo chinês é que o yuan digital, aliado a uma nova arquitetura de pagamentos internacionais, amplie a influência de Pequim em transações comerciais globais.
O Fórum Lujiazui, realizado anualmente em Xangai, reúne líderes financeiros, representantes de bancos centrais e autoridades econômicas para discutir políticas monetárias e estratégias de desenvolvimento financeiro. O anúncio feito durante o evento reflete a intenção da China de assumir papel mais ativo na definição das futuras estruturas do sistema financeiro global.
Com informações do SCMP