Alvo principal do presidente Donald Trump na guerra comercial, a China decidiu ir além da retaliação que inclui tarifas de 125% à importação de produtos norte-americanos – e dois movimentos importantes revelam as intenções de Pequim.
Boeing na berlinda
O primeiro lance tem a ver com a decisão do governo Xi Jinping de determinar que as empresas aéreas chinesas deixem de comprar aviões da norte-americana Boeing. A informação foi divulgada nesta terça-feira 15 pela agência Bloomberg, que consultou pessoas envolvidas na decisão.
A Boeing e o governo norte-americano ainda não comentaram o caso, mas, antes mesmo da abertura do mercado nesta terça, as ações da gigante do setor de aviação já caíam 3%.
A decisão é estratégica e econômica. Segundo a Bloomberg, as novas tarifas chinesas aos produtos norte-americanos fizeram com que o preço das aeronaves e peças fabricadas nos EUA mais que dobrassem. Com isso, as compras se tornaram praticamente inviáveis.
Se confirmada oficialmente, a decisão afeta diretamente um lote de aviões que a Boeing pretendia vender de imediato à China. O pacote incluía dez aeronaves 737 Max, destinadas à China Southern Airlines, Air China e Xiamen Airlines. Para se ter dimensão da parceria, a Boeing entregou 130 aeronaves no primeiro trimestre, sendo 100 do modelo 737.
Principal mercado de aviação do mundo, a China prevê que a sua frota suba dos atuais 4,3 mil aviões para 9,7 mil aeronaves até 2043. Hoje, 55% do mercado é dominado pela europeia Airbus.
Exportação de minerais raros em risco
A segunda ofensiva chinesa atinge setores de tecnologia, automotivo e de defesa dos EUA. O governo de Xi Jinping decidiu suspender as exportações de minerais e ímãs considerados críticos.
A medida foi tomada em 4 de abril, dias após o anúncio do novo pacote tarifário norte-americano. Seis metais pesados de terras raras agora só poderão ser exportados mediante licença especial do governo chinês.
Esses elementos são essenciais para a produção de motores elétricos, espaçonaves, robôs, mísseis, drones e carros elétricos. Também integram componentes tecnológicos como faróis de veículos, lasers e capacitores usados em chips de computadores.
A decisão, articulada pelo Ministério do Comércio e pela Administração Geral das Alfândegas da China, amplia a lista de empresas dos EUA com as quais companhias chinesas estão proibidas de negociar.
Ainda não oficializada, a medida foi revelada pelo jornal The New York Times e pode impactar outros países, como Alemanha e Japão. No caso norte-americano, os ímãs também passaram a ser taxados pelas novas tarifas de Trump, o que torna a medida ainda mais estratégica.
Pequim detém 90% da produção mundial de ímãs de terras raras, estimada em cerca de 200 mil toneladas anuais.
Diante da escalada, empresas dos EUA tentam se precaver. Segundo o NYT, muitas já vinham formando estoques emergenciais. Ainda assim, uma interrupção total nas exportações colocaria em risco cadeias produtivas inteiras — especialmente nas indústrias de veículos e equipamentos elétricos.