Em resposta a pressões geopolíticas e à desaceleração econômica, a China anunciou durante a 14ª Assembleia Popular Nacional (APN) um pacote de medidas para transformar “novas forças produtivas de qualidade” em alavancas de crescimento para 2025.

Entre as iniciativas, destaca-se a criação de um fundo nacional de orientação de capital de risco. Com um aporte estimado de 1 trilhão de yuans (US$ 138 bilhões), o fundo contará com investimentos de governos locais e do setor privado. O objetivo é fortalecer empresas inovadoras e canalizar investimentos para áreas estratégicas, como tecnologia pesada, inteligência artificial e biotecnologia, mantendo uma abordagem de longo prazo e maior tolerância ao risco.

O plano, detalhado em entrevista pelo chefe da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, Zheng Shanjie, inclui:

  • Fundo Nacional de Capital de Risco: Com meta de atrair 1 trilhão de yuans (US$ 138 bi), o fundo priorizará tecnologias disruptivas (IA, quântica, biomanufatura) e tolerará riscos de longo prazo.
  • Conselho de Ciência e Tecnologia no Mercado de Títulos: Lançado pelo Banco Popular da China (PBOC), facilitará emissões de títulos especializados para financiar startups e projetos de P&D.
  • Expansão de Empréstimos para Inovação: O programa de crédito para transformação técnica será ampliado de 500 bilhões para até 1 trilhão de yuans.

Zheng destacou que o objetivo é “canalizar investimentos privados e governamentais para setores estratégicos, mantendo uma abordagem orientada pelo mercado”.

Especialistas acreditam que essa postura mais pró-inovação fortalecerá a confiança de investidores e empreendedores, além de estimular a vitalidade do mercado. A alocação de recursos visa direcionar mais investimentos para indústrias emergentes e tecnologias de próxima geração, essenciais para a modernização do sistema industrial do país.

Segundo Li Chao, economista-chefe da Zheshang Securities, o desenvolvimento dessas novas forças produtivas será essencial para impulsionar o potencial de crescimento econômico da China no longo prazo. “Indústrias futuras podem ser um foco particular, e prevemos novos planos industriais para delinear suas trajetórias de crescimento”, afirmou.

Tecnologias críticas: o motor do crescimento chinês

Além disso, o governo chinês ampliará esforços para fortalecer a pesquisa em tecnologias críticas e revolucionárias, como computação quântica e tecnologia 6G. A participação das empresas privadas será incentivada, considerando seu papel fundamental na eficiência e na aplicação de novas tecnologias.

O Relatório de Trabalho do Governo 2024 define prioridades claras:

  1. Biofabricação: Produção sustentável de materiais e medicamentos via biotecnologia.
  2. Tecnologia Quântica: Desenvolvimento de computação e criptografia pós-clássica.
  3. IA Generativa Incorporada: Integração de inteligência artificial em indústrias tradicionais.
  4. 6G: Preparação para a próxima geração de telecomunicações.

Para Li Chao, economista-chefe da Zheshang Securities, “a corrida pela IA é central: os EUA e a China disputam vantagem sistêmica, não apenas comercial”. A China já possui 40% das patentes globais em IA, mas busca reduzir dependência de chips estrangeiros.

Reformas no sistema financeiro para apoiar inovação

O Banco Popular da China, banco central do país, também anunciou medidas complementares para fortalecer o suporte financeiro à inovação. Entre elas, destaca-se o lançamento de um conselho de ciência e tecnologia no mercado de títulos ainda este ano. A iniciativa facilitará a emissão de títulos especializados por instituições financeiras, empresas de tecnologia e fundos de investimento de capital privado, viabilizando o financiamento da inovação científica e tecnológica.

O novo Conselho de Ciência e Tecnologia no mercado de títulos, anunciado pelo governador do PBOC, Pan Gongsheng, é peça-chave:

  • Títulos Especializados: Empresas de tech, fundos de private equity e instituições financeiras poderão emitir títulos lastreados em ativos de P&D.
  • Liquidez para Startups: “Isso permitirá que empresas em estágio inicial acessem capital sem depender apenas de venture capital”, explicou Ming Ming, da CITIC Securities.

O modelo lembra iniciativas como o NASDAQ, mas com foco estatal em setores estratégicos.

Segundo Pan Gongsheng, governador do Banco Popular da China, esse mecanismo não apenas diversificará as ferramentas de financiamento, mas também representará um avanço fundamental no suporte financeiro para o setor tecnológico. Além disso, o banco central expandirá seu programa de empréstimos para inovação tecnológica e transformação técnica, elevando o montante disponível de 500 bilhões de yuans para até 1 trilhão de yuans.

Setor privado como parceiro

Embora o Estado lidere investimentos em pesquisa básica (ex.: projetos quânticos), Li Chao ressalta que “as empresas privadas são cruciais para inovação aplicada”. Em 2023, gigantes como Huawei e Baidu investiram US$ 23 bi em P&D, mas o desafio é escalar startups menores.

  • Incentivos Fiscais: Empresas em zonas de inovação terão redução de impostos sobre lucros reinvestidos em P&D.
  • Parcerias Público-Privadas: Modelos de cofinanciamento serão expandidos, especialmente em biotecnologia.

Riscos e desafios: entre a ambição e a realidade

A China busca equilibrar seu crescimento econômico com um modelo de desenvolvimento mais sustentável e tecnologicamente avançado. No entanto, a transição para uma economia baseada na inovação e no desenvolvimento industrial sofisticado enfrenta desafios, como a necessidade de garantir maior segurança para investimentos de longo prazo e superar barreiras regulatórias.

Apesar do otimismo, analistas apontam obstáculos:

  • Dependência de Capital Privado: Atrair investidores para projetos de alto risco (ex.: quântica) exigirá garantias governamentais.
  • Gargalos Burocráticos: A centralização decisória pode retardar a alocação de recursos.
  • Pressão Geopolítica: Sanções ocidentais a setores como semicondutores limitam acesso a tecnologias críticas.

Pan Gongsheng reconheceu que “o ambiente internacional complexo exige autossuficiência acelerada”, citando o plano Made in China 2025 como referência.

Uma jogada de xadrez global

As medidas refletem uma estratégia dupla: reanimar o crescimento doméstico (a previsão do PIB para 2024 é de 5%) e assegurar liderança tecnológica global. Enquanto os EUA investem US$ 280 bi via CHIPS Act, a China responde com seu próprio “arsenal de inovação”.

Ainda assim, a combinação de políticas públicas voltadas à inovação e de reformas financeiras para facilitar o financiamento do setor tecnológico posiciona o país como um dos principais concorrentes globais na corrida pela supremacia em tecnologia de ponta. As novas diretrizes reforçam a visão estratégica da China em consolidar sua liderança em setores-chave para o futuro da economia mundial.

Como alertou Zheng Shanjie: “Quem dominar as indústrias do futuro controlará a economia do século XXI”. O sucesso, porém, dependerá de equilibrar planejamento estatal com agilidade de mercado.

A partir de informações do Diário do Povo Online

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Last Update: 07/03/2025