Por Conceição Lemes
Eram 23h42 de sexta-feira, 2 de maio, quando uma amiga advogada me encaminhou um tuíte do deputado federal Chico Alencar (PSOL/RJ) com esta denúncia:
Lamentável! João Pedro Stedile e sua companheira foram cercados por fanáticos no aeroporto de Fortaleza. Gritaram ofensas em seus ouvidos até que entrasse. Stedile e sua mulher seguiram firmes, sem recuar – exemplos de autocontrole. O ódio não irá nos intimidar!
Chico referia-se ao vídeo de um bando hostilizando e cercando Stedile e sua companheira no aeroporto de Fortaleza (CE).
Cenas horríveis de se ver. Ódio, virulência, intimidação, constrangimento.
Para Chico, o episódio tinha ocorrido naquela noite, embora em nenhum momento ele tenha explicitado.
Stedile e companheira enfrentaram a situação com altivez. Mantiveram o autocontrole.
Mas o vídeo não mostrava os dois em segurança, o que me preocupou dada a agressividade exibida pelo grupo.
Assisti-o, pelo menos, umas quatro vezes.
A esta altura, já passava da meia noite.
Impossível checar com Stedile, pois ele não usa celular.
Chico Alencar e minha amiga advogada são gente séria em quem se pode confiar.
Lembrei que, na época da ditadura militar, se noticiava o nome de alguém que acabara de ser preso na tentativa de mantê-la vivo.
Aos 11 minutos do sábado, 3 de maio, postei o tuíte-denúncia de Chico Alencar com o título abaixo.
VÍDEO: Aos berros, fascistas cercam e ofendem João Pedro Stedile e sua companheira no aeroporto de Fortaleza
Embaixo, na linha fina escrevi: ‘Lamentável’, diz o deputado Chico Alencar
Menos de uma hora depois, precisamente à 1h09, Zé Maria, leitor do Viomundo, me alertou pelo Whatsapp: ‘’Foi em 2015’’.
No ato, tirei a postagem do ar, coloquei-a no privado, tornando o conteúdo indisponível. Ou seja, quem clicasse o link (URL), não acessaria a postagem. Também avisei a quem eu tinha enviado o link.
‘’Esse material [vídeo] é de 2015 e voltou a circular nas redes sociais da direita e virou notícia’’, informou-me no dia seguinte a jornalista Lays Furtado, da assessoria de comunicação do MST.
Indaguei-lhe, então, se sabia por que o vídeo havia retornado agora às redes sociais da direita.
Atentem à resposta de Lays, é útil a todos nós:
‘’Este tipo de comportamento faz parte da estratégia da direita para gerar novos ataques nas redes sociais. Eles tiram um vídeo de seu contexto ou de sua conjuntura para impulsionar ódio e violência. O objetivo é incitar seus seguidores a fazerem este tipo de hostilização novamente. É uma lógica perversa’’.
Ao deputado Chico Alencar, perguntei como aquele vídeo havia chegado às mãos dele.
‘’Foi através de uma pessoa que acompanha o meu mandato. Mas não me recordo exatamente quem’’, contou.
No dia seguinte, o deputado foi alertado de que o episódio era verdadeiro, sim, mas ocorrera em 2015. Depois, amigos do PSOL do Ceará lhe confirmaram.
‘’Aí, apaguei tudo. A gente é muito zeloso. Sempre checa a informação’’, prossegue.
‘’Foi um erro nosso. Talvez uma falta de checagem’’, diz Chico Alencar.
Ele arremata com estas observações:
— ”Essas coisas, lamentavelmente, acontecem nesse mundo virtual pouco virtuoso das redes sociais tantas vezes antissociais’’
— ”A gente tem mesmo é que checar tudo, tudo, sempre”.
— ”Felizmente, o lamentável ataque a Stedile e companheira no aeroporto de Fortaleza não foi agora. Mas é preciso estar atento e forte”.