O presidente Yoon Suk-yeol, do Sul da Coreia, foi oficialmente afastado de seu cargo após a Assembleia Nacional aprovar seu impeachment no último sábado, 14 de dezembro. A medida foi aprovada por 204 votos a favor e 85 contrários, superando a marca de 200 votos necessários para o afastamento. O processo agora segue para a Corte Constitucional, que terá até 180 dias para decidir sobre a remoção definitiva do presidente. Durante esse período, o primeiro-ministro Han Deok-soo atuará como presidente interino.
Assim como a mitologia grega conta sobre Ícaro, que decidiu voar até o Sol e, por chegar perto demais do grande astro, acabou por ter suas asas queimadas, o mesmo pode-se dizer de Yoon Suk-yeol. Apoiado pelo imperialismo, acreditou que poderia dar um autogolpe e declarar lei marcial no seu país artificial, convencido de que teria respaldo do imperialismo, mas não contou que o imperialismo, em crise, talvez não estivesse disposto a abrir fronte em mais um local pelo simples motivo de preservar um aliado político de pouca relevância, como é Yoon Suk-yeol.
A crise política em questão teve início em 3 de dezembro, quando Yoon decretou inesperadamente lei marcial em um discurso televisivo, alegando que a oposição estava conspirando com a Coreia do Norte para subverter o governo. A decisão provocou forte resistência, com 190 parlamentares literalmente pulando as grades da Assembleia Nacional votando contra o decreto e milhares de pessoas indo às ruas para protestar. Menos de seis horas após a declaração, o presidente revogou a medida, mas a ação precipitou uma crise que culminou em seu impeachment.
A primeira tentativa de impeachment, realizada em 7 de dezembro, falhou devido ao boicote do partido de Yoon, o conservador Partido do Poder Popular (PPP). No entanto, a postura da legenda mudou após frustradas negociações para que o presidente renunciasse voluntariamente. “Suspender o presidente por meio do impeachment é a única maneira, neste momento, de defender a democracia e a república”, afirmou Han Dong-hoon, líder do PPP.
Para a liderança da oposição, o impeachment representa uma vitória da democracia. Park Chan-dae, líder parlamentar do Partido Democrático, destacou que a decisão reflete a vontade popular de normalizar o país. Lee Jae-myung, líder do mesmo partido, propôs a formação de um órgão consultivo entre o parlamento e o governo para estabilizar os assuntos do Estado e recuperar a confiança internacional. “A normalização da República da Coreia é urgente”, declarou Lee em entrevista coletiva.
No cenário internacional, o presidente interino Han Deok-soo reafirmou o compromisso do país com sua aliança com os Estados Unidos em uma conversa telefônica com Joe Biden. Han garantiu que as políticas diplomáticas e de segurança do Sul da Coreia serão conduzidas sem interrupção, incluindo o fortalecimento da estratégia de defesa conjunta com Washington. Biden destacou a resiliência da democracia sul-coreana e reafirmou a importância da parceria entre os dois países.
Com poderes suspensos, Yoon enfrenta investigações por “possível insurreição”. Durante sua defesa, o presidente alegou que a imposição de lei marcial foi uma “decisão política altamente calculada” para proteger a nação das ameaças da oposição, que conta ainda mais com o apoio dos Estados Unidos do que o próprio presidente, e de ninguém menos que Kim Jong-un. “Lutarei até o fim, seja contra o impeachment ou contra as investigações”, declarou Yoon.
Seu histórico como principal promotor no impeachment da então presidente Park Geun-hye, em 2016, foi citado como uma ironia por especialistas. Segundo o analista e jornalista coreano-americano KJ Noh, Yoon tem poucas chances de superar as acusações, mas não é impossível que ele consiga.
A Corte Constitucional tem até seis meses para deliberar sobre a remoção definitiva ou reintegração de Yoon. Especialistas apontam que o tribunal provavelmente utilizará todo o prazo legal para chegar a uma decisão. Enquanto isso, a transição de poder sob Han Deok-soo deverá focar na estabilização interna e na demonstração aumentada de subserviência aos norte-americanos, mostrando que o país fantoche é fiel ao seu dono.