O Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras (PT) promoveu neste sábado (14), em Belém (PA), mais uma etapa do ciclo de debates democráticos entre as chapas inscritas para o Processo de Eleição Direta (PED) 2025. O encontro foi mediado por Ludmila Barreto, do Diretório Nacional do PT e da Comissão de Organização Eleitoral.
Ao todo, oito chapas disputam a presidência nacional e a composição da direção partidária. São elas:
Chapa 200: Lula PT e Resistência Socialista – Rose Rodrigues
Chapa 210: Virar à Esquerda, Diálogo e Ação Petista – Milton Alves
Chapa 220: Em Tempos de Guerra, a Esperança é Vermelha – Patrick Araújo
Chapa 250: Somos Todos PT e Movimento – Saulo Dias
Chapa 270: Campo Popular – Lucinha Barbosa
Chapa 280: Derrotar a Extrema-Direita e Avançar a Construção de um Novo Brasil – Carlos Bordalo
Chapa 290: Muda PT, Lutar é o Caminho, Lula 2026 – Silvia Reis
Chapa 299: A Força da Militância com Edinho e Lula – Rebeca Queiroz
O debate em Belém foi marcado por análises da conjuntura nacional e internacional, propostas para fortalecer o PT, reafirmações de apoio à reeleição do presidente Lula em 2026 e críticas à atuação da extrema direita no Brasil e no mundo.
O secretário nacional de Meio Ambiente do PT, Saulo Dias, representou a Chapa 250 e destacou a urgência climática como tema central da sua intervenção. Ele afirmou que “o Partido dos Trabalhadores precisa colocar a pauta climática no centro da importância política do partido”, e criticou a ausência de formulação do PT nesse campo.
Para Saulo, é preciso “trazer as pessoas que mais sofrem, que são as comunidades indígenas, os quilombolas, os ribeirinhos e outros povos da floresta para o centro do debate”. Ele também defendeu o desenvolvimento sustentável como estratégia de crescimento econômico e combate à desigualdade.
“O Brasil tem a vocação do equilíbrio ambiental como nenhum outro país no mundo.”
Pela Chapa 270, a secretária Nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais do PT, Lucinha Barbosa, destacou o “contexto de conjuntura muito específico e dramático no mundo”, com uma “crise profunda do modelo neoliberal” e ofensiva contra os direitos da classe trabalhadora.
Ela afirmou que o momento exige uma reorganização da esquerda mundial para enfrentar o avanço da extrema direita e defender os direitos sociais, ambientais e trabalhistas. “É neste contexto que realizamos o PED, com a tarefa de preparar o PT para sustentar o governo Lula e reelegê-lo em 2026”.
Segundo Lucinha, a reorganização interna do partido é uma tarefa estratégica. “O PT precisa construir um polo de esquerda forte, conectado com as bases e os movimentos populares.”
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Enfrentamento à extrema direita
O deputado estadual Carlos Bordalo (PT-PA), da Chapa 280, ressaltou que “enfrentar a extrema direita hoje não é algo simples, é algo muito complexo”. Ele elogiou os resultados concretos do governo Lula, como a queda da inflação e o aumento do emprego formal, mas alertou que “as massas hoje se movem por motivações subjetivas”.
Bordalo defendeu o diálogo com o centro político e maior engajamento da militância. “Não venceremos a extrema direita apenas com a esquerda. Precisamos de pontes e alianças táticas para enfrentar esse desafio”.
Ele também fez um apelo contra o etarismo dentro do partido, lembrando a importância de respeitar a diversidade geracional da militância.
Pela Chapa 200, a secretária Agrária Nacional do PT, Rose Rodrigues, lembrou que a Resistência Socialista surgiu para enfrentar o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e defendeu que a luta contra o capitalismo deve ser central para o PT. “Sem isso, esse partido perde a razão de existir”, declarou.
Para a secretária, é necessário reforçar a disputa ideológica na base, fortalecer o enraizamento do partido nos territórios e preparar o PT para um futuro pós-Lula.
“2026 será uma das disputas mais difíceis da nossa história. E em 2030, o partido terá que caminhar sem a liderança de massa que é o presidente Lula”.
Representando a Chapa 290, Silvia Reis destacou a desconexão entre parte da militância e as ações concretas do governo Lula. “A gente não sai nas ruas defendendo o governo Lula porque a gente não sabe dos nossos programas”, afirmou.
Para ela, é preciso recuperar políticas públicas extintas ou enfraquecidas no governo anterior, como cultura, assistência social e microcrédito. “Mudar o PT significa criar uma consciência de protagonismo, retomar a formação política e reforçar a base para reeleger Lula em 2026.”
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Política econômica
Natural de Belém, Milton Alves, da Chapa 210, defendeu que é preciso “reorientar a economia” e romper com o modelo neoliberal. “Virar à esquerda é acabar com os juros criminosos de 15% do Guará Líbano”, declarou, em crítica à atuação do Banco Central.
Alves denunciou pressões internas por cortes em áreas sociais e afirmou que o PT precisa se posicionar de forma mais clara. “Nosso partido deve ser a ferramenta de resistência ao curso neoliberal. Precisamos investir no SUS, recuperar as estatais e garantir dignidade aos trabalhadores.”
Pela Chapa 220, Patrick Araújo afirmou que “vivemos tempos de guerra” e que é preciso oferecer uma “alternativa sistêmica à crise do capitalismo”. Disse que “o PT é um instrumento fundamental para construção de uma perspectiva socialista” e defendeu mais democracia interna. “Governos e mandatos devem ser pautados pela militância, e não o contrário.”
Ele também defendeu maior presença do partido nos territórios, com sedes, atividades permanentes e atuação de base. “Não podemos ser um partido que só aparece a cada dois anos para disputar eleição”.
Confira a íntegra do debate:
Formação política
Rebeca Queiroz, da Chapa 299, destacou a importância da militância como base do partido. “A força da militância precisa retornar para dentro do partido”.
Ela criticou a fragilidade da comunicação do PT com as bases e defendeu investimentos em formação política e fortalecimento dos diretórios. “É inadmissível que beneficiários de programas como Bolsa Família e Prouni sejam contra as políticas que os beneficiam. Perdemos a habilidade de nos comunicar com nós mesmos”.
Para Rebeca Queiroz, é urgente recuperar o vínculo com a classe trabalhadora: “O PT precisa voltar para as bases, com formação, escuta e mobilização”.
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PED
O primeiro turno das eleições internas do PED 2025 ocorre no dia 6 de julho, das 9h às 17h, nos diretórios municipais do PT em todo o país, respeitando o horário de cada região. Brasileiros filiados ao partido que residem no exterior também poderão votar para a chapa nacional e a presidência nacional.
De acordo com o regulamento, “poderão votar e ser votados(as) no PED os(as) filiados(as) que tenham registrados seus pedidos de filiação no sistema (Sisfil) até o dia 28 de fevereiro de 2025, desde que não tenham sido impugnados de acordo com as normas estatutárias”.
O resultado do PED 2025 irá definir os rumos do PT nos próximos anos e influenciar diretamente a estratégia da legenda para a disputa eleitoral de 2026. O debate em Belém reforçou o compromisso das diferentes tendências com o fortalecimento do PT como instrumento de transformação social e de enfrentamento à extrema direita no Brasil.
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Da Redação