Em pronunciamento realizado nesta sexta-feira (20) durante reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, reafirmou que o programa de mísseis do país e sua capacidade de defesa são absolutamente inegociáveis. A declaração ocorre em meio a uma escalada da agressão sionista contra o território iraniano e às vésperas de um encontro diplomático com os chanceleres da Alemanha, França e Reino Unido (grupo E3), além do chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.
Araghchi foi taxativo ao rejeitar qualquer forma de diálogo com os Estados Unidos sob as atuais condições. “Nunca tivemos contato direto com os norte-americanos. Eles solicitaram negociações por meio de mediadores, mas recusamos. Não estamos dispostos a manter conversações com ninguém enquanto estivermos sendo atacados por ‘Israel’”, afirmou.
O chanceler denunciou os ataques promovidos pelo regime sionista como crimes de guerra e violações flagrantes do direito internacional. “Estamos sendo alvo de agressões por parte de um regime que comete genocídio na Palestina há dois anos e continua ocupando territórios vizinhos. Os recentes bombardeios contra o Irã são uma violação direta do artigo 2º da Carta do Conselho de Direitos Humanos da ONU”, declarou Araghchi.
Durante sua fala, o representante iraniano denunciou “Israel” por ter alvejado instalações nucleares iranianas que estão sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), além de hospitais e infraestrutura civil. “Jamais atacamos áreas civis, especialmente hospitais — ao contrário de ‘Israel’, que bombardeou hospitais em Gaza diante dos olhos do mundo. Esses ataques são injustificáveis sob qualquer ponto de vista, e qualquer tentativa de justificá-los equivale à cumplicidade na agressão”, afirmou.
Araghchi acrescentou que a postura de resistência do Irã diante das agressões sionistas poderá alterar a postura de outros países em relação ao conflito. “Após nossa resistência, acredito que muitos países começarão a se afastar dessa ofensiva ilegítima. Já existem sinais de que os esforços pela desescalada estão sendo retomados e devem se intensificar”.
Ainda de acordo com o chanceler, um encontro entre diplomatas iranianos e norte-americanos estava agendado para ocorrer no último dia 15 de junho. O objetivo seria finalizar um acordo nuclear considerado “muito promissor”. Araghchi sugeriu que os recentes ataques promovidos por “Israel” têm como objetivo justamente sabotar esses avanços diplomáticos. “Estamos plenamente comprometidos com a defesa de nossa integridade territorial e soberania nacional, e não seremos intimidados por ameaças ou ataques militares”.
Logo após o discurso, Araghchi seguiu para a reunião com os chanceleres europeus em Genebra. Segundo fontes diplomáticas, o grupo E3 pretende apresentar um plano em quatro pontos, cujo principal eixo seria a exigência de paralisação completa do enriquecimento de urânio por parte do Irã. A proposta, no entanto, é vista com desconfiança por Teerã, sobretudo diante da conivência europeia com a agressão sionista.
Enquanto isso, o presidente da Organização de Energia Atômica do Irã, Mohammad Eslami, enviou uma carta ao diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, denunciando a omissão da agência diante dos bombardeios de “Israel” contra instalações nucleares iranianas, incluindo o reator de água pesada de Arak, instalações de conversão de urânio, produção de placas de combustível nuclear e fábricas de centrífugas em Teerã e Karaj — todas sob inspeção e supervisão contínuas da AIEA.
Na mensagem, Eslami afirmou que os ataques violam não apenas os tratados internacionais, como o Estatuto da AIEA e o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), mas também as convenções de Genebra e os padrões técnicos estabelecidos pelo Comitê Científico da ONU sobre os Efeitos da Radiação Atômica (UNSCEAR). “A agressão de ‘Israel’ representa um ataque sem precedentes ao sistema internacional de garantias nucleares. Se a AIEA continuar em silêncio, violando suas próprias obrigações, será cúmplice por omissão nesses atos ilegais e perigosos”.
Em Genebra, o secretário-geral da ONU, António Guterres, limitou-se a pedir moderação e reiterar o apelo por um cessar-fogo, alertando para o risco de ampliação do conflito no Oriente Médio. Evitando qualquer crítica direta a “Israel”, Guterres reforçou apenas a importância de se evitar ataques a civis e instalações nucleares, e insistiu na retomada das negociações sobre o programa nuclear iraniano.
Ao recusar a chantagem imperialista, o Irã reafirma sua disposição de resistir à ofensiva militar e política encabeçada por “Israel” e seus aliados. O chanceler Araghchi sintetizou a posição da República Islâmica: “nosso caminho está traçado. Defenderemos nossa soberania por todos os meios necessários”.