chanceler Friedrich Merz sério, de óculos, em close
O chanceler alemão Friedrich Merz – Divulgação

Em um movimento inédito na política externa alemã, o chanceler Friedrich Merz criticou publicamente os ataques de Israel na Faixa de Gaza, marcando uma mudança no tradicional apoio irrestrito da Alemanha ao Estado judeu. As declarações foram feitas durante uma visita oficial à Finlândia, em meio à intensificação da ofensiva israelense no enclave palestino. Com informações do jornal O Globo.

“Os ataques militares massivos dos israelenses na Faixa de Gaza não me revelam mais nenhuma lógica. Como eles servem ao objetivo de combater o terror… Nesse sentido, encaro isso de forma muito, muito crítica. Eu não estou entre os primeiros a dizer isso, mas me parece que chegou a hora de falar publicamente: o que está acontecendo atualmente não é mais compreensível”, pontuou.

A crítica pública contrasta com a política habitual da Alemanha, que geralmente adota uma posição de apoio silencioso a Israel, considerada uma prioridade de segurança nacional devido ao legado do Holocausto. A fala de Merz foi interpretada como um sinal de alerta em Jerusalém, especialmente após o premiê Benjamin Netanyahu declarar que a eliminação total do Hamas é o único caminho para a paz.

A posição de Merz reverberou entre outras lideranças da União Europeia. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, declarou à emissora WDR que o bloqueio de insumos básicos em Gaza é “inaceitável”.

“Nosso compromisso em lutar contra o antissemitismo e nosso total apoio ao direito de existir e à segurança do Estado de Israel não devem ser instrumentalizados para o conflito e a guerra atualmente travados na Faixa de Gaza. Estamos agora em um ponto em que temos que pensar muito cuidadosamente sobre quais medidas tomar”, disse Wadephul.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, olhando para o lado, sério
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul – Reprodução

Merz também defendeu o aumento da pressão internacional sobre Israel para garantir a entrada efetiva de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. “Nós precisamos pressionar Israel para garantir que a ajuda realmente chegue ao seu destino. O que vimos na Faixa de Gaza não é de forma alguma aceitável”, acrescentou, ao lado do primeiro-ministro finlandês, Petteri Orpo.

Horas após a declaração de Merz, uma tentativa de distribuição de alimentos por meio da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) terminou em caos. Palestinos invadiram a zona segura estabelecida pelo exército israelense e foram recebidos com tiros. As forças israelenses afirmam que os disparos foram de advertência, mas autoridades palestinas e da ONU relataram 48 feridos e ao menos uma morte.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também se manifestou, classificando como “abominável” um ataque israelense a uma escola usada como abrigo, que deixou cerca de 30 mortos, incluindo crianças. A declaração foi considerada “forte e inédita” por diplomatas da UE e teria sido influenciada diretamente pela mudança de postura da Alemanha.

A Alemanha é o principal fornecedor de armas para Israel na Europa e o segundo maior do mundo, atrás apenas dos EUA. Além disso, o país lidera a economia da UE, que é o maior parceiro comercial de Israel, com 42,6 bilhões de euros movimentados em 2024.

Qualquer medida mais dura por parte de Berlim, como sanções ou restrições ao comércio, teria grande peso geopolítico. Na semana passada, a Alemanha se opôs a uma proposta para revisar se Israel cumpre os princípios de direitos humanos estabelecidos em seu acordo com a UE — uma proposta apoiada por 17 dos 27 países do bloco.

Mesmo sem unanimidade para suspender o acordo, medidas parciais podem ser adotadas. Países como Bélgica e Espanha lideram esforços nesse sentido, e o novo posicionamento da Alemanha pode influenciar o rumo das negociações.

“Defendemos o Estado de Direito em todos os lugares e também o Direito Internacional Humanitário. Onde constatarmos que ele está sendo violado, é claro que interviremos e certamente não forneceremos armas que permitam novas violações”, declarou Wadephul, reforçando que a Alemanha pode reavaliar suas exportações de armamentos a Israel.

O embaixador de Israel em Berlim afirmou à emissora ZDF que acompanha com atenção as críticas de Merz: “Quando Friedrich Merz faz críticas sobre Israel, nós ouvimos muito atentamente porque ele é um amigo”.

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Last Update: 28/05/2025