O mercado dos games vive um boom de jogos independentes no estilo J-RPG turn based, ou seja, jogos em que o jogador controla um grupo de heróis, liderados por um protagonista que funciona como avatar do grupo e é o boneco que será visto de cima, entrando e saindo de cidades e dungeons, para enfrentar inimigos variados e um vilão que deseja algo como destruir o mundo. Fórmula pronta e perfeita, sem mais.

Talvez funcione bem com o público dos RPGs por ser o mais “cult” de todos os gamers, que aceitam retornar ao pixelart dos anos 1990, com a jogabilidade engessada e uma boa história de jovens salvando o mundo. Isso porque esse grupo encara o jogo retrô como um cinéfilo se relaciona com um film noir, em branco e preto, dos anos 1930. Por isso, títulos como Sea of Stars e Chained Echoes foram um surpreendente sucesso nesta década.

Avanço sensível nos dispositivos do jogo

Não é que não tenham se adaptado aos dias de hoje. O aspecto retrô, sendo intencional, não impede que os sistemas sejam inovadores. Em Chained Echoes, um sistema de gestão de motivação e energia nos momentos de ataque, não podendo cada herói, e, portanto, o grupo de um todo, passar do ponto no ritmo que imprime à luta. Para tal, ele tem três momentos de batalha: o regular quando a luta começa, o auge físico e mental, quando as personagens estão no seu melhor momento, e o estafamento, quando passa do ponto. A cada ataque, a barra cresce, e pode refluir quando a personagem se defende e descansa, ou quando ataca com golpes especiais, que infligem dano maior e o regeneram. Lidar com isso é desafiador.

Chained Echoes tem uma história clichê, muitas vezes confusa e que superpõe camadas de complexidade ao tratar de vilões e relações pessoais entre as personagens, num nível que complica a narrativa na medida em que ela está presa a 30-40 horas de jogo. Contudo, isso se compensa com um gráfico estonteante, lembrando Chrono Trigger, batalhas de sistema não-aleatório, ou seja, que você vê o inimigo no ambiente e pode escolher enfrentá-los (nem todos), e uma trilha sonora que é seu ponto alto e encanta à moda dos melhores Final Fantasy. Como é medieval, um tanto steampunk, lembra, neste aspecto, Final Fantasy VII.

Pontos negativos

A história não chega a ser um ponto negativo. Segura muito bem o gameplay. O que o jogo tem de dificuldades são os puzzles, muitas vezes pouco dinâmicos e repetitivos, mesmo erro em que cai Sea of Stars, que será objeto de outra análise. Ganha deste no aspecto personagens. Mas o problema mesmo de Chained Echoes é a falta de suporte de animação. Para um jogo tão bem feito, de orçamento visivelmente robusto, momentos como clímax com vilões ou histórias de amor, uma delas surpreendente, ficam em falta se o jogador as presencia tão somente por bonecos pixelizados vistos de cima. Faltou aí o toquezinho de um Frog abrindo a montanha com Masamune em Chrono Trigger para Playstation.

Vale a pena?

Vale 100%. É uma declaração de amor aos antigos RPGs, que mostra que a alma dos games não reside em gráficos hiperrealistas, personagens customizáveis e mundos abertos. Uma história com política, guerras entre reinos, grimórios e armas mágicas lendárias, batalhas de armaduras robotizadas, com personagens que têm sombras do passado e amores mal resolvidos, outras anti-heroínas, são uma joia para os gamers. Alguns momentos politicamente corretos, lições de moral em diálogos um tanto wokes, podem irritar um público bem raiz e que é criterioso quanto ao respeito a lores e universos regidos pelo heroísmo masculino, pelo amor cortês, pelo companherismo etc. Mas não compromete. Passe por cima disso e jogue.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 23/07/2025