O custo da cesta básica aumentou em 13 das 17 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em janeiro. Em São Paulo, onde os preços atingiram o maior patamar, os itens básicos de consumo custam R$ 851,82, o que representa 60% do salário mínimo (R$ 1.518). As capitais do Norte e Nordeste pesquisadas têm custos abaixo da metade do valor do salário mínimo.

Para o economista Wellington Duarte, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), essa alta reflete um conjunto de fatores, como a seca severa de 2024, a priorização da exportação de alimentos e o impacto da política de juros altos.

Impacto da seca e exportações pressionam preços

Em entrevista ao Portal Vermelho, Duarte destaca que a estiagem intensa, especialmente na região amazônica, reduziu os níveis dos reservatórios, encarecendo a energia elétrica, o que teve um efeito cascata sobre a produção e o transporte de alimentos. Além disso, a priorização da exportação de produtos agrícolas também restringiu a oferta interna, aumentando os preços no mercado doméstico.

O economista Wellington Duarte (UFRN)

“Temos um impacto muito forte quando uma parte significativa da produção é direcionada para o exterior. Isso afeta diretamente a oferta no Brasil e, consequentemente, os preços”, explica o economista.

O levantamento do Dieese aponta que o pão francês foi um dos produtos que mais encareceram no último ano, subindo em 16 das 17 capitais pesquisadas. Esse aumento é atribuído à menor oferta de trigo nacional e à necessidade crescente de importação, em um contexto de câmbio desvalorizado.

Demanda maior e repasse de custos ao consumidor

Outro fator apontado por Duarte é o crescimento da demanda por alimentos, impulsionado pelo aumento do emprego. Com mais pessoas trabalhando e consumindo, os preços sobem quando a oferta não acompanha esse crescimento.

Ao mesmo tempo, os custos do transporte também pesaram no bolso do consumidor. O aumento dos combustíveis ao longo de 2024 impactou toda a cadeia de abastecimento, e os supermercados repassaram esses custos diretamente ao consumidor.

“Os mercados são a ponta final do processo, e esses reajustes acabam chegando ao povo”, afirma Duarte.

Juros altos e inflação: entraves ao consumo

Além da questão produtiva e logística, o economista critica a política monetária do Banco Central, que mantém os juros elevados, dificultando investimentos e mantendo o custo do crédito alto para a população. Segundo ele, essa estratégia favorece o mercado financeiro e restringe o poder de compra das famílias, sem necessariamente conter a inflação.

“Não há razões objetivas para que a taxa de juros esteja tão alta. Isso trava o desenvolvimento do país e penaliza principalmente os mais pobres e a classe média”, argumenta.

A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 4,8% nos últimos 12 meses, acompanhando o aumento da cesta básica. No entanto, a pressão sobre os preços dos alimentos é mais intensa do que a média geral da inflação.

O que pode ser feito para conter a alta dos alimentos?

Para Duarte, a solução passa por uma combinação de medidas, como redução da taxa de juros, maior regulação sobre a transferência de custos ao consumidor e políticas para reduzir as desigualdades. Ele também vê com bons olhos a recente queda do dólar, que pode ajudar a diminuir o impacto do câmbio na inflação.

“O governo precisa atuar com mais força na regulação do consumo e no equilíbrio da carga tributária. Não podemos permitir que os custos operacionais das empresas sejam sempre repassados à população”, defende.

Apesar das incertezas no curto prazo, há sinais de alívio para o consumidor. O Dieese aponta que alguns itens básicos, como arroz, feijão e leite, tiveram quedas recentes de preço, impulsionadas pelo aumento da oferta interna. No entanto, sem mudanças estruturais na economia, a cesta básica continuará pesando no orçamento das famílias brasileiras.

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Last Update: 08/02/2025