Após quinze meses de genocídio, finalmente se deu algum alívio para os palestinos de Gaza com o anúncio do cessar-fogo no dia 19 de janeiro. A luta segue, até a Palestina livre do rio ao mar. Nada de desmobilizar!
Israel vem fazendo de tudo para melar a celebração justa diante da importante vitória da resistência heroica, mas os palestinos desafiam a ocupação sionista. Assim, brindam o mundo com cenas inspiradoras que revelam a disposição de um povo que se recusa a ser apagado do mapa.
Apesar das ameaças sionistas aos presos políticos palestinos e familiares antes de sua libertação das masmorras odiosas, eles se recusam a silenciar. Expõem ao mundo os horrores pelos quais passaram e, altivos, mostram-se gigantes em seu corpo diminuto e desnutrido, marcado pela fome e pela tortura, muitas vezes por décadas. Saúdam a resistência de seu povo e não perdem a perspectiva da libertação.
Duzentos e noventa presos políticos palestinos alcançaram a liberdade pelas mãos da resistência em Gaza na primeira e na segunda troca por sete prisioneiras israelenses – que saíram sorridentes, saudáveis e receberam certificados e presentes da resistência palestina. As quatro últimas foram libertadas devidamente uniformizadas como soldadas das forças de ocupação que são. Uma imagem vale mais do que mil palavras mentirosas da propaganda sionista.
Na primeira troca, foram 69 mulheres e 21 crianças palestinas, algumas com apenas doze anos de idade. A segunda, no dia 25 de janeiro, incluiu prisioneiros palestinos com longas sentenças e 120 com perpétuas – dos 200 dessa leva, 70 foram imediatamente deportados para o Egito.
Na primeira etapa do acordo de cessar-fogo, com duração de 42 dias, a perspectiva é de trocas semanais até a libertação de quase 2 mil palestinos. Já começaram a entrar caminhões de ajuda humanitária, e no dia 27 de janeiro o mundo assistiu ao retorno de centenas de milhares de deslocados internamente para suas terras no norte de Gaza, pelo corredor Netzarim.
Retorno ao Norte de Gaza
As cenas são épicas e carregadas de simbolismo. Em 76 anos de contínua Nakba – a catástrofe palestina cuja pedra fundamental é a formação do Estado racista de Israel em 15 de maio de 1948 –, o mundo se acostumou a ver imagens de deslocamento; dessa vez, o povo palestino impôs seu retorno a Gaza. Nos dias anteriores, centenas de milhares aguardavam e, a cada tentativa, Israel disparava – matando e ferindo dezenas, mesmo em meio ao cessar-fogo.
O povo palestino não se deu por vencido. No trajeto, crianças palestinas cantavam músicas revolucionárias; jovens hasteavam no alto a bandeira palestina; idosos e pessoas carregando bebês se juntavam à travessia. Eles sabem que vão encontrar destruição, mas a terra é deles; vão reconstruir tudo.
“Não vamos deixar nossa terra”
São cenas de um povo que se recusa a deixar sua terra e envia um recado nítido a Trump em sua proposta indecorosa de limpeza étnica de 1,5 milhão de palestinos de Gaza e envio à Jordânia e Egito: “Não vamos sair de nossa terra. Não vamos abandoná-la para os ocupantes”.
A proposta escandalosa já levou a Liga Árabe, a Jordânia e o Egito a recusarem. A causa palestina, como sabem esses regimes, é também dos povos árabes – e isso seria inadmissível para eles.
Não é novidade que Trump quer entregar Gaza para seus asseclas construírem uma colônia de férias e resorts. Os palestinos seguem a desafiar essa pretensão.
Massacre em Jenin
A ocupação sionista não apenas ameaça o povo palestino, os presos políticos libertados e suas famílias para impedir um momento de júbilo que seja. Ao acender das luzes do cessar-fogo, Israel anunciou a operação Muro de Ferro em Jenin – que já enfrentava limpeza étnica agressiva, inclusive com a participação ativa da gerente da ocupação, a Autoridade Palestina, que não apenas reprimiu a resistência, como chegou a banir a Al Jazeera para impedir que transmitisse suas vergonhosas ações. Pogroms por parte de colonos sionistas se aceleraram ainda mais na Cisjordânia a partir do cessar-fogo em Gaza.
Há o temor de que o experimento Gaza – que culminou em pelo menos 300 mil palestinos assassinados segundo alguns analistas, a maioria mulheres e crianças – seja repetido na Cisjordânia, cuja sombra da morte segue à espreita. Já são mais de mil palestinos assassinados somente nos últimos quinze meses ali, e este número não para de crescer. Uma das mais recentes vítimas em Jenin, Layla, tinha apenas dois anos de idade.
Trump tenta levar os louros pelo cessar-fogo em Gaza ao mesmo tempo que apoia a investida na Cisjordânia. Como sinalização, revogou as sanções contra colonos sionistas impostas pelo genocida Joe Biden. Também liberou a entrega de 1.800 bombas de quase uma tonelada para Israel. As vidas palestinas, nas mãos do imperialismo e do sionismo, não passam de moeda de troca. Mas o povo palestino não se rende. Já começa a reconstrução, varrendo os escombros, plantando onde dá e o que dá. Resiste, persiste. E chama a solidariedade a seguir a luta. No Brasil, é tarefa central exigir de Lula embargo militar e energético e ruptura de relações com Israel. Até a Palestina livre, do rio ao mar!