Em um tom mais firme, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deixou claro, na ata de sua última reunião, divulgada nesta terça-feira (6), que todos os diretores da instituição concordam em aumentar os juros, se for necessário, sem hesitação. Analistas do mercado começaram a prever um aumento da taxa básica da economia (Selic) na próxima reunião do colegiado, marcada para os dias 17 e 18 de setembro, especialmente se o dólar continuar valorizado, atualmente em torno de R$5,70.
Na reunião dos dias 30 e 31 de julho, o Comitê decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica da economia em 10,50% ao ano. A ata, mais extensa do que a anterior em sete parágrafos, reforçou a preocupação com a piora dos cenários interno e externo e do quadro fiscal. Não à toa, a palavra “perigo” foi mencionada 11 vezes, contra seis no documento de junho.
O grupo de nove diretores do BC ressaltou que “o momento corrente é de ainda maior prudência e de acompanhamento atento dos condicionantes da inflação, sem se comprometer com estratégias futuras”. “À luz desse acompanhamento, o Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, destacou a ata, no parágrafo 25.
Apesar de o Copom ser bastante enfático ao admitir que poderá subir juros, João Silva, economista-chefe do Banco BV, acredita que o BC ainda será prudente antes de começar a aumentar a Selic. “Existe uma sinalização de que, se o cenário piorar, eles vão subir a taxa de juros, mas que, neste momento, vão aguardar mais informações para saber se a manutenção da taxa é compatível com o cenário de ancoragem das expectativas e convergência da inflação. Então acho que eles vão aguardar mais informações até por conta da volatilidade do cenário externo. Mas a ideia é guardar informações e, eventualmente, tomar uma decisão. Se for ter que tomar uma decisão diferente, é subir juros”, resumiu.
Mário Costa, economista-chefe do Itaú Unibanco, avaliou que o Comitê mostrou na ata que “se o câmbio não reagir, um ciclo de alta, começando em setembro, será inevitável”. “A ata do Copom transmitiu a mensagem que o comunicado não entregou: ficou claro que todo o comitê, não apenas alguns membros, está pronto para aumentar a Selic caso as tendências recentes nas expectativas de inflação e na dinâmica da taxa de câmbio persistam”, destacou o economista do Itaú em relatório aos clientes.
A decisão do Copom foi anterior à piora do cenário externo, que derrubou as bolsas internacionais em meio ao aumento dos temores de uma recessão nos Estados Unidos, a maior economia global, e que fez o dólar disparar, na segunda-feira, para R$5,74.