Centrais sindicais programaram uma manifestação nesta terça-feira, 6, às 10h, em frente à sede do Banco Central, na Avenida Paulista, em São Paulo.
A mobilização tem como foco a condução da política monetária sob a presidência de Gabriel Galípolo e ocorre às vésperas da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que pode resultar em nova elevação da taxa básica de juros (Selic).
Participam do ato as principais centrais do país — CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CSB, Nova Central, Intersindical e Pública — todas com histórico de alinhamento ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar disso, os dirigentes sindicais têm feito distinção entre o Executivo federal e o Banco Central, que possui autonomia formal desde 2021.
“Hoje, as centrais apoiam o governo Lula, mas a alta taxa de juros não tem relação com o governo. O nosso foco é o Banco Central”, afirmou Miguel Torres, presidente da Força Sindical, ao justificar o protesto.
A insatisfação dos sindicalistas é direcionada à manutenção do nível elevado da Selic, que está atualmente em 14,25% ao ano. Segundo os organizadores da manifestação, essa política compromete investimentos na produção, desestimula o crescimento e prejudica diretamente os trabalhadores.
A decepção se concentra em Gabriel Galípolo, nome indicado pelo presidente Lula para suceder Roberto Campos Neto no comando da autoridade monetária. Representantes sindicais alegam que havia expectativa de mudança na condução da política de juros com a nova presidência, o que, segundo eles, não se concretizou.
“Desde o presidente anterior do Banco Central [Roberto Campos Neto] estamos sofrendo com os juros elevadíssimos, havia a expectativa que mudasse com o novo presidente [Gabriel Galípolo], mas estamos em um caminho perigoso”, declarou Miguel Torres. “Isso afeta bastante o investimento na produção”.
A manifestação ocorre no mesmo período em que o mercado financeiro aguarda o desfecho da próxima reunião do Copom, que pode decidir por uma nova alta na Selic. A possível elevação da taxa básica tem sido criticada por diversas lideranças sindicais, que veem a medida como desnecessária diante de sinais recentes de desaceleração inflacionária.
Sérgio Nobre, presidente da CUT, questiona os fundamentos da atual política monetária e menciona projeções divulgadas pelo próprio Banco Central, por meio do Boletim Focus, segundo as quais o mercado passou a prever queda na taxa de juros.
“A gente esperava que [Galípolo] tivesse uma mentalidade nova, não há razão para a taxa chegar neste patamar. Há outras maneiras de combater a inflação, quando aumenta os juros penaliza toda a economia”, afirmou Nobre.
Na mesma linha, Ricardo Patah, presidente da UGT, criticou a postura da diretoria do Banco Central e sua aparente desconexão com a realidade econômica da população. “No ano passado, nós batemos no Banco Central, imaginávamos que fossem mudar a interpretação e tem sido a mesma coisa. O prejudicado, sempre, é o trabalhador”, afirmou.
Adílson Araújo, presidente da CTB, foi mais incisivo em sua avaliação e acusou Galípolo de comprometer a atividade produtiva com uma política que classificou como incompatível com o momento econômico.
“As previsões do Gabriel Galípolo estão fora da curva. É um contrassenso patrocinar um engessamento do desenvolvimento e da produção industrial”, declarou. Em tom irônico, completou: “avisa ao Galípolo que o ‘Deus Mercado’ não sabe e está pouco preocupado com o custo do arroz e do feijão no supermercado”.
A convocação do protesto ocorre após meses de silêncio por parte das centrais sindicais, que vinham evitando confrontos diretos com a nova presidência do Banco Central.
A decisão de retomar as manifestações marca, segundo os organizadores, uma mudança de postura diante da manutenção da política de juros, considerada excessivamente restritiva.
A expectativa dos sindicatos é que o ato desta terça seja o primeiro de uma série de ações públicas contra a atual política monetária. Segundo os organizadores, outras mobilizações poderão ser anunciadas conforme a evolução das decisões do Copom e o comportamento da diretoria do Banco Central.
Com a Selic em um dos patamares mais altos dos últimos anos e sem sinalizações claras de reversão da tendência, as centrais sindicais indicam que pretendem manter a pressão sobre Galípolo e sua equipe. A crítica comum entre os dirigentes é que o atual modelo compromete o consumo, o crédito e a geração de empregos.
O Banco Central não se pronunciou sobre as declarações dos dirigentes sindicais nem sobre a manifestação prevista para esta terça-feira. A reunião do Copom está agendada para esta semana e o resultado será divulgado após seu encerramento.