Vivemos em um mundo marcado por contradições profundas. Crimes, violência e injustiças existem e, em meio a esse cenário, se encontram as redes sociais. O debate sobre a regulamentação dessas plataformas frequentemente revela uma dessas contradições, sendo o fluxo de informações contra a defesa da liberdade de expressão. Contra o fluxo de informações da população, há a tentativa vil de censura por governos imperialistas, empresas controladas pela burguesia e instituições supranacionais que agem de acordo com interesses do próprio imperialismo, ao mesmo tempo em que a esquerda se perde a lutar não para a democratização da rede social, mas para o seu controle ainda mais draconiano.
Um ponto central levantado é que a censura nas redes sociais não é um fenômeno neutro ou imparcial. Pelo contrário, ela reflete interesses políticos e econômicos específicos da burguesia. Plataformas como Facebook e Instagram censuraram conteúdos relacionados à Palestina, ao antissionismo e até mesmo a críticas à cultura identitária ou “woke”. Essa censura é promovida sob o pretexto de combater desinformação ou discurso de ódio, mas, na prática, serve para silenciar vozes dissidentes que desafiam a história oficial da Rede Globo no Brasil, que nada mais é do que o que conta o próprio imperialismo.
A censura em si, que já é grave, não parte das redes sociais, o que já seria ruim, mas do governo norte-americano e suas agências de inteligência, como a CIA e o FBI, que as utilizam como ferramentas de vigilância e controle. Essas instituições criminosas do estado norte-americano não apenas espionam os usuários, mas também influenciam diretamente na moderação de conteúdo. A revelação de Mark Zuckerberg sobre a interferência do FBI na censura de histórias relacionadas ao filho do presidente Joe Biden, o pedófilo e usuário de drogas, é só mais uma evidência desse conluio entre Estado imperialista e a burguesia por trás dessas corporações.
Outro aspecto dessa contradição são as iniciativas internacionais, sempre partindo do imperialismo, para combater as chamadas “fake news”. Há também a proposta do governo brasileiro, sob o comando de Lula, de articular uma frente internacional contra a desinformação em parceria com países do G7. Uma aliança no mínimo paradoxal, já que esses mesmos países são responsáveis por algumas das maiores campanhas de manipulação da opinião pública global da história da humanidade. São os países responsáveis pelo genocídio do povo palestino e pelo seu silenciamento na imprensa. Atribuí-los ao papel de combatente de notícias falsas é escatológico. Um exemplo emblemático citado é o tratamento midiático dado ao próprio genocídio na Palestina. Há uma ocultação sistemática dos crimes cometidos pelo governo israelense contra os palestinos, como a ocultação da morte de 10% da população de Gaza, sobretudo mulheres e crianças, enquanto versões falsas sobre ações do Hamas – já desmentidas até por jornais sionistas de “Israel” – são amplificadas. Essa seletividade na abordagem das informações demonstra que o combate às tais da “fake news” não passa de uma desculpa para reforçar interesses do imperialismo e suprimir os trabalhadores que se levantarem contra.
Setores da esquerda apoiam a censura, travestida de medidas regulatórias, chegando a ser possível colocar em xeque até seu estado como “esquerda”. Essa posição é profundamente reacionária e contradiz princípios históricos da esquerda relacionados à liberdade de expressão e à luta contra o imperialismo. Essa crítica se estende ao Partido dos Trabalhadores (PT), que embarca em uma cruzada a favor da censura. Iniciativas como a regulamentação das redes sociais não enfrentam os verdadeiros problemas do mundo digital — como monopólios tecnológicos e falta de transparência — mas apenas consolidam o já completo poder do imperialismo e das empresas sobre os trabalhadores e usuários.
Diante desse cenário, há alternativas concretas para democratizar as redes sociais sem recorrer à censura.
- Garantia do sigilo da comunicação: assim como no passado foi estabelecido o sigilo da correspondência postal, hoje é fundamental assegurar que aplicativos de mensagens sejam protegidos contra espionagem governamental ou corporativa. A vigilância em massa controlada pela CIA é uma grave violação dos direitos individuais e dos direitos democráticos dos trabalhadores.
- Código aberto: as grandes empresas tecnológicas criaram um algoritmo e um mundo fechado onde os usuários ficam aprisionados dentro de plataformas específicas. É necessário que os códigos dessas empresas sejam abertos e compatíveis entre si, permitindo a criação de redes descentralizadas onde os usuários tenham maior autonomia.
- Transparência algorítmica: os algoritmos que definem quais conteúdos são promovidos ou suprimidos nas redes sociais operam de forma opaca e arbitrária. É importante que esses sistemas sejam transparentes e controlados pelos próprios usuários, que poderiam personalizar suas experiências digitais conforme suas preferências.
- Fim das restrições nas lojas de aplicativos: As lojas virtuais controladas por empresas como Apple e Google têm o poder de excluir aplicativos que não atendem aos seus interesses comerciais ou políticos. Para garantir uma verdadeira liberdade digital, seria necessário eliminar essas restrições.
Estamos em um conflito entre diferentes setores da burguesia imperialista. De um lado estão os grandes monopólios e seus aliados nos governos imperialistas; do outro, setores empresariais menores que buscam se defender propondo medidas mais democráticas – não por princípios, mas por oportunidade. Embora nenhum desses grupos represente os interesses dos trabalhadores, há, neste conflito, uma oportunidade para avançar pautas progressistas relacionadas à liberdade digital.