Na última quinta-feira (17), o jornalista Luís Nassif recebeu o assessor-Chefe da Assessoria Especial do Presidente da República do Brasil, Celso Amorim, que fez críticas às recentes ameaças comerciais feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil.

Amorim classificou como “incompreensível” a possibilidade de imposição de tarifas superiores a 50% sobre produtos brasileiros, e alertou para o uso indevido de medidas econômicas como instrumento de pressão política.

“Não há nenhuma razão para o Brasil, que é um país que, inclusive, tem um déficit com os Estados Unidos, ser ameaçado com tarifas altíssimas, de mais de 50%. É uma coisa absolutamente incompreensível. E mais incompreensível ainda é ligar a questão absolutamente interna e da soberania brasileira, que é a questão do processo com o [ex-presidente Jair] Bolsonaro, e a questão também da regulamentação das Big Techs”, afirmou. “Então, eu acho que é o uso, claramente, da pressão comercial como uma arma política.”

O assessor também alertou para a gravidade do uso da Seção 301 da legislação americana — instrumento usado unilateralmente pelos EUA para impor sanções comerciais a outros países. “É a bomba atômica do sistema comercial norte-americano”, enfatizou.

Ele reafirmou o interesse do Brasil em manter boas relações comerciais com os EUA, que tem longo histórico de relação comercial, mas lembrou que, atualmente, o principal parceiro comercial do Brasil é a China e que o país conta com uma economia diversificada.

“O presidente Lula defende a negociação. Agora, precisa ser uma negociação verdadeira, não pode ser uma ameaça de uso praticamente da força e isso junto, sobretudo, com questões de natureza que não são nem só políticas, são legais constitucionais do direito internacional”, continua Amorim.

A entrevista também abordou o comportamento de Trump, apontado como imprevisível e com posturas que ameaçam não apenas o Brasil, mas o sistema multilateral de comércio global. “Basicamente, eu diria que ele é uma pessoa de direita, é óbvio. Mas ele também não se pauta muito pela tradição, digamos, do complexo industrial militar. Ele talvez esteja mais ligado às big techs, tem outro tipo de relação, ameaça o presidente do Fed. Ele é uma pessoa realmente peculiar, não só com relação ao Brasil, com o Brasil foi especialmente, eu vou dizer, mas de qualquer maneira ele é como outros, como países que são até aliados deles.”

Para Amorim, a postura de Trump representa uma ameaça direta à Organização Mundial do Comércio (OMC), que prejudica o sistema multilateral de comércio, agrava crises globais e mistura, perigosamente, temas comerciais com questões políticas.

“Eu acho que isso é uma grande ameaça ao comércio mundial, isso agrava as crises e a mistura explícita com temas políticos, como fez o secretário-geral do OTAN, mas ele próprio também fez várias vezes, eu acho que torna tudo mais difícil, inclusive, do ponto de vista, não estou falando nem só do ponto de vista do Brasil, falando do ponto de vista global”, avalia.

O Brasil, segundo o assessor, tem recorrido à OMC não apenas como tentativa de solução formal, mas como forma de manter uma narrativa que defenda o multilateralismo.

“Ouço comentários de pessoas que falam com o Banco Mundial, e eles têm medo de tomar decisões, porque eles têm medo de perder, então nós estamos vivendo uma situação muito peculiar, que nós nunca vivemos, desde a Segunda Guerra Mundial, não só em relação ao Brasil, que obviamente é muito importante, mas em relação ao mundo, então levar para a OMC tem um efeito também de narrativa, porque a OMC agora não tem como resolver os problemas, porque ela está sem os juízes, os membros do órgão de apelação”, observa.

Confira a entrevista na íntegra:

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Last Update: 20/07/2025