O assassinato de Brian Thompson, chefe-executivo da UnitedHealthcare, na última quarta-feira (4) em Nova Iorque, revelou as profundas tensões sociais e econômicas que atravessam os Estados Unidos.
A investigação policial identificou Luigi Mangione, de 26 anos, como o principal suspeito. Mangione foi preso dias após o crime, em Altoona, Pensilvânia, portando uma arma e identidades falsas, uma delas, correspondente à usada pelo suspeito no check-in em um albergue em Nova Iorque. Segundo os policiais, ele também carregava um manifesto manuscrito com queixas contra o sistema de saúde dos EUA. Os cartuchos usados no crime traziam inscrições sugestivas — “rejeitar”, “defender” e “remover” — que, de acordo com os investigadores, podem ser referências às práticas frequentemente atribuídas às seguradoras para evitar pagamentos de tratamentos e aumentar os lucros.
Brian Thompson chefiava a UnitedHealthcare, a maior seguradora dos EUA, e era alvo de críticas constantes devido às políticas de “autorização prévia”, que permitem que as empresas revisem tratamentos sugeridos antes de autorizá-los. Em entrevistas à imprensa, clientes da UnitedHealthcare relataram experiências traumáticas com recusas de cobertura. Uma mulher com câncer metastático de pulmão afirmou que abandonou a empresa devido às constantes negativas relacionadas aos seus medicamentos.
O assassinato gerou uma divisão no país. Enquanto representantes do setor e políticos cinicamente lamentaram a perda, muitos cidadãos comemoraram a morte do executivo. A rede britânica BBC, em sua matéria intitulada Luigi Mangione: o que assassinato de Brian Thompson revela sobre raiva contra planos de saúde nos EUA, destacou que as redes sociais foram tomadas por memes e mensagens de apoio ao suspeito.
Segundo o Instituto de Pesquisa sobre Contágio em Rede, postagens elogiosas a Mangione ou críticas à vítima alcançaram dezenas de milhões de visualizações. Comentários incluíam questionamentos provocativos, como: “estamos começando agora então?” e listas com fotos e nomes de outros executivos de seguradoras e indústrias farmacêuticas.
A reação nas redes sociais revelou inclusive uma união inesperada entre esquerdistas e ativistas de extrema direita, que condenaram o sistema de saúde. Uma frente inusitada, mas que reflete o sentimento generalizado de revolta contra a ditadura imperialista que oprime duramente a população norte-americana.
Pesquisas recentes destacam que o verdadeiro crime é como as seguradoras tratam a população. O The Commonwealth Fund descobriu que 45% dos adultos em idade ativa segurados relataram cobranças indevidas ou recusas de cobertura para tratamentos recomendados por seus médicos. A KFF revelou que dois terços dos americanos culpam as seguradoras pelos altos custos, enquanto 81% ainda classificam seus planos como “excelente” ou “bom”.