Vitória Regina Sousa foi assassinada aos 17 anos. Foto: reprodução

O assassinato de Vitória Regina de Sousa, uma jovem de 17 anos, tem gerado comoção e revolta, mas também se transformou em um espetáculo midiático patrocinado pela polícia. O caso, que envolve múltiplas linhas de investigação e pelo menos uma dúzia de suspeitos, foi marcado por perícias televisionadas ao vivo, divulgação de informações falsas e até brigas entre jornalistas na delegacia. Até o momento, ninguém foi preso.

Vitória foi encontrada morta na última quarta-feira (5), após uma semana desaparecida. O corpo da jovem estava decapitado, com marcas de violência e completamente nu. Seu cabelo havia sido raspado, e um sutiã estava amarrado ao pescoço.

A última vez que foi vista viva foi no dia 26 de fevereiro, quando deixou o trabalho em um restaurante de shopping e foi filmada por câmeras de segurança caminhando até um ponto de ônibus. Ela desceu sozinha no ponto final, no bairro de Ponunduva, onde morava com a família. Durante o trajeto, enviou áudios e mensagens para uma amiga dizendo que estava com medo de dois homens que a assediaram em um carro.

A investigação, conduzida pelo delegado Aldo Galiano, da Seccional de Franco da Rocha, começou com a suspeita de um ex-namorado da vítima. A polícia pediu a prisão do rapaz, mas a Justiça negou o pedido, alegando falta de elementos que justificassem a medida cautelar.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP), comandada pelo bolsonarista Guilherme Derrite, chegou a divulgar erroneamente que a prisão havia sido autorizada, informação que foi amplamente replicada pela imprensa.

O bolsonarista Guilherme Derrite comanda a SSP, que chegou a divulgar informações erradas sobre o caso Vitória. Foto: reprodução

Em uma entrevista coletiva, Galiano apresentou várias hipóteses para o crime, incluindo uma possível ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele citou a prisão de um homem supostamente ligado à facção meses antes na mesma região e afirmou que a crueldade do assassinato, incluindo a raspagem do cabelo, poderia ser um sinal de facção criminosa.

“Há um inquérito apurando essa prisão. Então, a gente está linkando todos esses dados. O que nos falta é fechar os pontos. […] As raspagens do cabelo e a crueldade do ato são um sinal de facção criminosa”, disse o delegado em entrevista ao Metrópoles.

Outra hipótese levantada foi a de que o crime teria motivação passional, envolvendo “talaricagem”, termo usado para descrever relacionamentos extraconjugais. Galiano chegou a mencionar o nome de um ex-namorado de Vitória. Posteriormente, a polícia sugeriu que o autor do crime poderia ser o atual namorado de um ex-namorado da vítima, supostamente integrante do PCC.

A cobertura midiática do caso atingiu níveis surreais. Na sexta-feira (7), jornalistas acompanharam ao vivo perícias realizadas em um veículo suspeito, incluindo o uso de luzes especiais para detectar fluidos corporais e cães farejadores.

Jornalistas acompanharam a perícia em um veículo considerado suspeito. Foto: reprodução

A cena foi transmitida por emissoras de televisão, enquanto fotógrafos identificaram que um dos fios de cabelo coletados era loiro e enrolado, diferente do cabelo preto e liso de Vitória. A disputa por espaço entre cinegrafistas chegou a causar desentendimentos na delegacia.

Enquanto a polícia divulgava hipóteses confusas sobre o caso, o pai de Vitória, Carlos Alberto de Sousa, foi informado ao vivo, durante o programa “Encontro”, da TV Globo, que o caso teria sido “esclarecido”. A apresentadora afirmou que o crime seria passional, envolvendo um homem chamado Daniel, supostamente namorado de um ex-namorado da vítima.

“Esse Daniel seria namorado do ex-namorado da sua filha. Daniel que tinha um relacionamento amoroso com um ex-namorado da Vitória. Esse Daniel, que o senhor disse que não conhece, teria contado com a ajuda de dois amigos para matar e transportar o corpo da Vitória. Essas são as informações que chegam para a gente”, disse Patrícia enquanto Carlos era filmado sem reação na tela dividida.

A informação, no entanto, não foi confirmada oficialmente pela polícia. Após a repercussão negativa, Patrícia Poeta se manifestou no Instagram, criticando o foco em “picuinhas” em vez de debates importantes, como o combate ao racismo.

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Last Update: 08/03/2025