A defesa de Maicol Antônio Sales dos Santos, acusado de ter assassinado a jovem Vitória Regina de Souza em Cajamar (SP), questionou a decisão do delegado responsável pelo caso de agendar perícia psiquiátrica com o objetivo de avaliar as condições mentais do suspeito. Os advogados reforçaram críticas ao depoimento em que, segundo a polícia, Maicol confessou o crime.
A Polícia Civil de São Paulo informou, na terça-feira 18, que Maicol tinha reconhecido que cometeu o crime e que, segundo as investigações até ali, tudo indicava que ele tinha agido sozinho.
“Fica muito claro que ele era obcecado pela vítima, que ele já vinha monitorando a vítima desde o ano passado, e principalmente no dia do arrebatamento”, disse em entrevista coletiva o diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro), Luiz Carlos do Carmo.
Para a defesa, porém, a confissão está “cercada de graves irregularidades”, já que o acusado não estava acompanhado de seus advogados e a oitiva foi colhida à noite. Além disso, os advogados alegam que ele sofreu ‘coação psicológica’.
Em nota, os advogados Flávio Ubirajara, Arthur Perin Novaes e Vitor Aurélio Timóteo da Silva afirmam que a perícia psiquiátrica foi agendada sem ordem judicial o que, para a defesa, faz com que o procedimento aconteça de maneira ‘ilegal e arbitrária’.
“Diante desse cenário, a defesa questiona: qual o verdadeiro interesse da Polícia Civil nessa avaliação psiquiátrica? Haveria uma tentativa de validar uma confissão extraída sob questionáveis circunstâncias? O objetivo seria encerrar as investigações a qualquer custo, mesmo em detrimento das garantias fundamentais do investigado?”, indaga o texto.
Em entrevista ao programa ‘Fantástico’, da TV Globo, o pai de Vitória, Carlos Alberto Sousa, disse que a família não acredita que Maicol tenha agido sozinho. Ele quer a reconstituição do crime.
“Quero saber de todos que estavam com ele. Todos. Eu falo todos porque eu tenho a certeza que não é mais um, deve ser mais dois ou mais três envolvidos nessa tramoia toda”, afirmou ao programa jornalístico.
Para os investigadores, Maicol agiu sozinho. Ele chegou a alegar que, no dia do crime, estava em casa com a esposa, mas foi desmentido por ela, que afirmou ter dormido na casa da mãe na noite de 26 de fevereiro, data do desaparecimento de Vitória.
O perfil psicológico do suspeito, segundo a Polícia, reforça a tese de que ele não contou com cúmplices. “Pessoas com esse perfil não costumam agir em grupo. Geralmente, são narcisistas, egocêntricas e controladoras, o que inviabiliza qualquer parceria criminosa. Na literatura criminológica, fica claro que ele agiu sozinho”, defendeu o diretor do Demacro.
O crime
Vitória Regina saiu do local em que trabalhava, um restaurante em um shopping de Cajamar, e entrou em um ônibus que a deixaria a cerca de 15 minutos de casa. No trajeto, a jovem chegou a mandar mensagens para uma amiga dizendo estar com medo de dois homens que estavam próximos a ela no ponto de ônibus.
Na sequência, ela enviou mais mensagens afirmando que um dos homens embarcou no mesmo coletivo. Ao descer, já perto de sua casa, a adolescente tranquilizou a amiga: “Ah, amiga, mas tá de boa. Eles tavam no ônibus, só que nenhum deles desceu no mesmo ponto que eu. Então tá de ‘boaça’. Não tem problema nenhum”.
Segundo o delegado, o trajeto do ponto de ônibus até a casa da adolescente duraria cerca de 15 minutos a pé e seria bastante escuro. O pai da adolescente costumava buscá-la no ponto final do ônibus, mas carro da família estava quebrado naquela noite.
Após desembarcar do ônibus, Vitória voltou a mandar mensagens para a amiga e disse temer a presença de dois homens em um carro que a teriam assediado. Também afirmou que o veículo se afastou dela e seguiu rumo a uma favela da região.
“Passou os cara no carro e eles falou: ‘e aí, vida? Tá voltando?’ Ai, meu Deus do céu, vou chorar. Vou mexendo no celular. Não vou nem ligar pra eles. Ah, deu tudo certo. Eles entraram pra dentro da favela. Uh… saiu até lágrima dos meus zóio agora. Nossa, até me arrepiei. A hora que eles passaram lá do outro lado e falaram, ‘aê, vida’… aí eles voltou, fio, pra quê… falei: pronto, esses menino vai voltar aqui. Mas aí eles entraram ali na favela. Acontece essas coisas eu não consigo correr. Eu paraliso. Eu não sei o que eu faço. Eu não consigo correr. Eu fico parada.”
Esta foi a última mensagem disparada pela jovem. O corpo dela foi encontrado no dia 5 de março.