Representantes da indústria automotiva dos Estados Unidos alertaram o governo federal sobre o risco de interrupções nas linhas de produção em razão das restrições impostas pela China à exportação de ímãs de terras raras.
A informação consta de uma carta enviada em 9 de maio à administração do então presidente Donald Trump, segundo reportagem da agência Reuters.
O documento é assinado pela Aliança para Inovação Automotiva — que representa montadoras como General Motors, Toyota, Volkswagen e Hyundai — e pela associação MEMA, que reúne fornecedores do setor.
No texto, as entidades expressam “profunda preocupação” com a escassez dos materiais e afirmam que a falta desses insumos pode comprometer a fabricação de componentes essenciais da cadeia automotiva.
“Sem acesso confiável a esses elementos e ímãs, os fornecedores automotivos não poderão fabricar componentes essenciais”, escreveram. Entre os itens afetados, estão “motores de limpadores de para-brisa, sensores de freio ABS, alternadores, transmissões automáticas, sistemas de direção elétrica, câmeras, alto-falantes e cintos de segurança”.
As associações alertam que a situação pode gerar consequências diretas. “Em casos graves, isso pode incluir a necessidade de reduzir volumes de produção ou até a paralisação de linhas de montagem”, afirmaram.
Em entrevista à Reuters, os presidentes das duas entidades, John Bozzella (Aliança) e Bill Long (MEMA), afirmaram que o problema continua. Ambos agradeceram o “envolvimento direto da administração Trump” e mencionaram o papel de autoridades como o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o representante de comércio dos EUA, Jamieson Greer, que participaram de negociações recentes com representantes chineses em Genebra.
Apesar do diálogo diplomático, não houve normalização no fluxo dos materiais. Em declaração à emissora CNBC, Greer disse que Pequim se comprometeu a suspender as restrições, mas não está cumprindo o acordo. “Ainda não vimos o fluxo desses minerais críticos como deveria estar ocorrendo”, afirmou.
A China detém mais de 90% da capacidade global de refino de ímãs permanentes, usados em setores como indústria automotiva, defesa e eletrônicos.
Desde abril, o governo chinês passou a exigir licenças específicas para a exportação desses materiais. O novo processo tem sido classificado como burocrático e pouco transparente, exigindo extensa documentação, em alguns casos com centenas de páginas.
Dados da própria China, citados pela Reuters, indicam que as exportações de ímãs de terras raras caíram pela metade em abril. Empresas do setor relataram dificuldades crescentes. A Bosch, fornecedora global de autopeças, afirmou por meio de um porta-voz que seus fornecedores enfrentam “trâmites complexos e demorados” para obter as licenças de exportação.
O impacto também se estende a outros mercados. Fabricantes da Índia informaram que, se não houver concessão das licenças nas próximas semanas, haverá interrupção na produção de veículos a partir de junho.
Algumas autorizações já foram emitidas, incluindo para fornecedores da Volkswagen, mas a lentidão do processo tem provocado insatisfação entre empresas afetadas.
O presidente Donald Trump criticou publicamente a atuação da China. Em publicação na rede Truth Social, na última sexta-feira, acusou Pequim de descumprir o acordo firmado anteriormente. “A China, talvez sem surpresa para alguns, VIOLOU TOTALMENTE SEU ACORDO CONOSCO”, escreveu.
Em resposta, a embaixada chinesa em Washington negou as acusações e afirmou que os Estados Unidos também adotam controles de exportação considerados excessivos, com destaque para o setor de semicondutores.
Fontes do governo americano disseram à Reuters que as tratativas em Genebra trataram de tarifas e contramedidas não tarifárias impostas pela China, mas não abordaram as restrições americanas às exportações de alta tecnologia.
O impasse entre os dois países deve aumentar as tensões comerciais em setores estratégicos. Desde 2018, Estados Unidos e China mantêm disputas bilaterais sobre cadeias de produção e fornecimento de componentes essenciais à indústria. A nova rodada de restrições imposta por Pequim reacende os debates sobre dependência internacional e segurança industrial.
Autoridades americanas já consideram adotar medidas retaliatórias caso a situação não seja solucionada.
De acordo com fontes ligadas ao setor automotivo, uma interrupção prolongada no fornecimento de ímãs pode comprometer diretamente a produção de veículos nos Estados Unidos, afetando empregos, abastecimento interno e metas de eletrificação do setor.
A escassez dos materiais ocorre em um momento de transição tecnológica na indústria automobilística, com aumento da demanda por veículos elétricos e autônomos. Esses modelos dependem fortemente de componentes que utilizam ímãs de terras raras, tornando o fornecimento estratégico para as metas de longo prazo das montadoras.
Até o momento, não há previsão de normalização das exportações. Representantes da indústria aguardam uma resposta oficial de Pequim sobre o cumprimento do acordo firmado, enquanto acompanham os desdobramentos diplomáticos e possíveis medidas adotadas por Washington.