Carta aberta aos entreguistas
por Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva
Em 1898, numa armação, os estadunidenses alegaram que nacionalistas cubanos tinham sabotado um navio com bandeira dos Estados Unidos no Porto de Havana. Foi o pretexto para entrarem em guerra com a Espanha a quem Cuba pertencia. A Espanha rendeu-se incondicionalmente. Os Estados Unidos ficaram com o que restava do império espanhol: as Filipinas, Guam, Porto Rico e Cuba. Porto Rico e Guam, pequenas que são, viraram protetorados. Cuba e Filipinas ficaram num limbo entre países livres e colônias. Até os Estados Unidos guindarem as Filipinas ao status de “commonworth” (patrimônio comum) em 1935, o arquipélago não passava de um Estado fantoche, assim como Cuba até o fim da vigência da Emenda Platz (1901 – 1934). Ela dava aos Estados Unidos a administração das receitas aduaneiras da ilha. Em 1946, as Filipinas tiveram sua independência reconhecida pelos Estados Unidos logo após serem libertadas da invasão japonesa da II Guerra. Os estadunidenses ali ainda mantêm dezessete bases militares. Os quarenta e oito anos de dominação não ajudaram o arquipélago e se tornar um país desenvolvido, apesar do potencial oferecido por mais de cem milhões de habitantes, terra fértil e uma das maiores biodiversidades do planeta.
Os Estados Unidos também nunca deixaram Guantánamo, muito menos fizeram Porto Rico o 51º estado. O protetorado possui renda per capta de US$42 mil em PPC, tem território maior que Rhode e é mais populosa do que Montana. Mesmo assim, porque foi colonizada por espanhóis, não tem representação no congresso e seus habitantes não podem votar para presidente.
São apenas dois exemplos do que acontece quando um país se entrega aos Estados Unidos, mas poderíamos incluir a Líbia e demais países que foram destruídos pelo estadunidenses sob o pretexto de fomentar a democracia.
O entreguismo adotado pelo bolsonarismo denota duas qualidades entre seus adeptos, burrice ou má fé, pois os exemplos históricos mostram que o entreguismo só traz miséria e não dá o status de estadunidense aos colonizados. A má fé viceja entre os que pretendem alienar seus conterrâneos das riquezas que o país construiu a custa de muito sangue.
Os burros incluem os que saem às ruas de camisa da seleção, bandeira estadunidense ou de Israel nas mãos gritando “Eu autorizo”. Os traidores são os que organizam as manifestações e riem com o vexame de seus seguidores, ao mesmo tempo em que entregam as posses dos burros ao estrangeiro. Isso não impede que haja burros traidores que, mesmo vestindo a camisa da seleção, direta ou indiretamente participam da organização. Diretamente, como fez Carla Zambelli ao administrar o banheiro da Fiesp, e Sara Giromini, ao participar dos 300 do Brasil, soltando rojões contra as vidraças do STF.
Agora é o momento de cada um de vocês se identificar. Se forem burros, continuem usando as camisas da seleção; se forem traidores, mantenham terno e gravata e continuem a desfilar na Faria Lima. Se tiverem as duas características, usem o terno no diário e reservem a camiseta amarela com o número 22 nas costas para ir votar.
Sejam burros, sejam traidores, mas não deixem de andar a caráter para que os verdadeiros patriotas os possam reconhecer.
Atenciosamente,
Guardião da Consciência Nacional
Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva é economista, estudou o mestrado na PUC, pós graduou-se em Economia Internacional na International Afairs da Columbia University e é doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Depois de aposentado como professor universitário, atua como coordenador do NAPP Economia da Fundação Perseu Abramo, como colaborador em diversas publicações, além de manter-se como consultor em agronegócios. Foi reconhecido como ativista pelos direitos da pessoa com deficiência ao participar do GT de Direitos Humanos no governo de transição.
O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.
“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn “