
A China intensificou o apoio às exportações brasileiras em meio às sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos. Após anunciar a habilitação de 183 empresas brasileiras de café no mesmo dia da sobretaxa americana, a Embaixada do país asiático vem incentivando a entrada de novos produtos do Brasil em seu mercado, como carne, própolis e açaí.
Em postagens nas redes sociais, o tom é direto: “Churrasco na China? Sim, meus amigos!” Além da promoção na internet, a embaixada tem ensinado empresários brasileiros a vender online e participar da feira de Xiamen, que ocorrerá em setembro.
A mensagem oficial é clara: “A China está de portas abertas para os produtos brasileiros — e o comércio eletrônico é a ponte”. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações (ApexBrasil) também intensificou campanhas no país asiático desde a última visita do presidente Lula, em maio.
Essas ações se somam à articulação diplomática de alto nível. Em telefonema realizado na quarta (6), o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, conversou com o chanceler Wang Yi, que declarou que a China está disposta a “compensar as incertezas externas com a estabilidade e a complementaridade da cooperação bilateral”, guiada pelos presidentes Xi Jinping e Lula.
Amorim confirmou que ambos trataram de novos contatos entre Lula e Xi Jinping, e da importância de manter o diálogo em alto nível. Também mencionou um pedido do presidente brasileiro para uma futura conversa com Vladimir Putin. No mesmo dia, Xi e Putin falaram por telefone sobre a guerra da Ucrânia, tema sensível para as relações comerciais com o Ocidente.
🇧🇷🔥 #Churrasco na #China? SIM, meus amigos! 🇨🇳🥩
Quem diria que a saudade do cheirinho da picanha na brasa poderia ser matada do outro lado do mundo? Pois é, agora dá pra se jogar no rodízio brasileiro em Beijing, Shanghai, Shenzhen e várias outras cidades chinesas! 😍🍖 pic.twitter.com/8bTm0yMcKU
— Embaixada da China no Brasil (@EmbaixadaChina) August 7, 2025
O governo chinês também manifestou apoio explícito ao Brasil diante do tarifaço de Trump. Wang condenou o “bullying” tarifário americano e defendeu o direito do país à soberania e à dignidade nacional, além de apoiar sua liderança no fortalecimento dos Brics e no Sul Global.
Com o distanciamento dos EUA, a China ganha protagonismo como parceiro comercial. Amorim ressaltou que, há 25 anos, os EUA representavam 25% das exportações brasileiras; hoje, são apenas 12%, número em queda graças à ampliação das trocas com os Brics. Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, essa fatia era de 24,4% em 2001 e caiu para 12,2% em 2024.
Apesar do entusiasmo com café, açaí e própolis, diplomatas brasileiros veem com cautela a possibilidade de grande diversificação das exportações brasileiras para a China. Um integrante do Itamaraty, sob anonimato, afirmou que a pauta comercial permanece concentrada em minério de ferro, soja e petróleo — produtos estáveis desde o início das relações diplomáticas.