Estamos discutindo sobre mais um tecnocrata do Banco Central, que estabelece um vínculo entre o Brasil e os Estados Unidos através de fundações e universidades americanas, como se fosse uma “ponte” estratégica entre o Brasil e o imperialismo a serviço da classe dominante via ditadura e mercado financeiro.

Em 1963, ingressou na Faculdade Nacional de Economia no RJ, se graduou em 1966 e concluiu o doutorado em Economia na Universidade de Chicago nos EUA em 1970, graças a uma bolsa da Fundação Ford. Algumas incursões na carreira acadêmica de Carlos Langoni chamam a atenção em relação às suas filiações ideológicas a partir do seu itinerário acadêmico.

A formação intelectual e acadêmica de Carlos Langoni coaduna com a posição dos liberais tecnocratas que já estavam inseridos nas instituições estratégicas do campo econômico e financeiro do período do desenvolvimentismo e a partir desse momento, entre a graduação no Rio de Janeiro e o seu doutorado na Universidade de Chicago, a carreira de Langoni entra no circuito das elites políticas e tecnocráticas.

Os percursos relevantes e os capitais de Langoni cabem algumas incursões sociológicas relevantes, mas podemos destacar que não conseguimos informações suficientes sobre o berço familiar para apontarmos com maior clareza o seu pertencimento de início na classe dominante ou frações de classe burguesas.

Ao retornar ao Brasil, Langoni foi convidado por Affonso Celso Pastore e Antônio Carlos Rocca para trabalhar no Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe/USP), onde estruturou o programa de pós-graduação e a Revista de Estudos Econômicos.

Seu trabalho constatou que a rentabilidade social da educação no Brasil era em média de cerca de 25%, enquanto no capital físico era de 12%. Duas outras conclusões foram que a diferença salarial daqueles que haviam completado o ensino fundamental em relação aos analfabetos era de cerca de 32% em 1969. E o ensino fundamental completo, comparado ao ensino médio completo, dava um retorno de quase 20%.

Os economistas Samuel Pessôa, William Sumerhill e Edmilson Varejão, em trabalho que dialoga com o de Langoni, mostraram que os gastos públicos em todos os níveis de educação representaram apenas cerca de 1% do PIB nos anos 30. Não ultrapassaram 2% até a década de 60. Suas simulações evidenciam que o PIB per capita do país teria crescido ao menos 25% a mais de 1933 a 1985, caso o valor investido a partir de 1933 em educação fosse apenas um ponto percentual maior por ano.

A partir dos anos noventa, esses argumentos foram confirmados por pesquisadores internacionais e brasileiros, como Ricardo Paes de Barros e Marcelo Neri. Mas no início dos anos setenta instaurou-se um debate acirrado a partir, principalmente, de declarações do presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, em abril de 1972, criticando a desigualdade econômica no Brasil.

Gustavo Lopes

FONTES: CURRIC. BIOG.; Estado de S. Paulo (10/10/80, 5/8, 4/9, 8/10/81, 23/12/82, 2/9/83, 29/5/87, 9/1, 1/9/88, 18/11 e 12, 29/11/96); Folha de S. Paulo (22/1/80, 20/6/82, 24/5, 15/9/87, 24/1, 16 e 17/9/88, 12/2, 12/3, 21/5, 4 e 17/6/95, 17/3, 12/11/96, 21/8/97); Globo (17/1, 10, 11/10/80, 5/8/81, 3/9/83, 12/4, 28/8/87, 16/1/90, 9/1, 11/3, 5/6/95, 4/9, 23/11/96); Jornal do Brasil (6/11/77, 21 e 23/1, 31/7, 21/9, 10/10/80, 22/8/81, 6/3, 2, 3/9/83, 23/8, 18/12/87, 19/11/88, 8/4/91, 20/9/92, 20/3/97).

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT374718-1666-2,00.html

http://pt-br.alexanderproudfoot.com/About-Us/Our-Advisors/Brazil/Dr-Carlos-Geraldo-Langoni.aspx

O trecho do acervo biográfico acima mostra uma carreira acadêmica sendo costurada a partir da confecção de artigos acadêmicos e discussões acerca das suas participações na organização da pós-graduação na FIPE e na condução da revista científica de Estudos econômicos.

Compreendendo a centralidade da questão marxista levantada a partir disso endosso que os gestores capitalistas, em particular da caracterização de CEO”s, assim como políticos tecnocratas da envergadura dos presidentes do Banco Central podem ser considerados atores estratégicos da burguesia em todos os sentidos, a partir do momento que esses controlam os processos produtivos e distribuem os ganhos da mais-valia quando exercem um elevado grau de autonomização, sendo em muitos casos os próprios acionistas no interior da organização capitalista, enquanto que os tecnocratas decidem o funcionamento da engrenagem do Estado e executam ações de políticas econômicas que conduzem e intermediam o processo produtivo ou da alocação do capital financeiro em nível nacional e internacional a partir das instituições tecnocráticas estratégicas de Estado como o próprio Banco Central do Brasil.

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  1. As fundações privadas sem fins lucrativos são entidades que se constituem por um conjunto de bens direcionados teoricamente para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. No entanto, nessa tese demonstrou-se que essas entidades procuraram fabricar e institucionalizar modelos dominantes, fomentando instituições estratégicas e formando lideranças acadêmicas. Essas fundações fazem certas imposições em relação aos projetos aprovados de forma indireta. Isso porque definem os parâmetros institucionais, profissionais e intelectuais dos seus beneficiários, e sugerem as agendas de pesquisa de acordo com seus interesses. Supõem-se que as parcerias estabelecidas entre fundações privadas e seus donatários envolveram articulações sociais, políticas, ideológicas e econômicas, pois essas entidades foram agentes dessas formulações para promover projetos de ordem social liberal. Nesse contexto, o objetivo desta tese é entender o relacionamento da Fundação Ford com instituições brasileiras, principalmente sua parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição que encontra-se entre as primeiras donatárias da Fundação Ford no Brasil.

https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/CAMP_c0c37f17cd7536ae9ce4ffa2f0e0e470

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Última Atualização: 16/07/2024