Na última segunda-feira (14), uma pesquisa do Instituto Datafolha revelou que 58% dos brasileiros reduziram a compra de alimentos devido à disparada dos preços, um reflexo da inflação que castiga o país. Entre as famílias mais pobres, com renda de até dois salários mínimos, o percentual é ainda mais alarmante: 67% cortaram itens essenciais da mesa e ainda, um quarto da população – aproximadamente 52 milhões de pessoas – afirma não ter comida suficiente em casa, uma situação escandalosa que expõe a fragilidade econômica e social do Brasil em 2025.
A mesma pesquisa diz que 54% dos entrevistados atribuem ao governo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, grande responsabilidade pelo aumento dos preços dos alimentos.
A inflação acumulada em 12 meses até março atingiu 5,48%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em março, o índice mensal foi de 0,56%, impulsionado principalmente pelo grupo de alimentação e bebidas, que saltou de 0,70% em fevereiro para 1,17%.
Itens básicos como tomate (alta de 22,55%), ovo de galinha (13,13%) e café moído (8,14%) lideraram os aumentos. Desde março do ano passado, o café moído disparou 77,78%, enquanto os ovos subiram 19,52%.
Especialistas apontam uma combinação de fatores para essas altas: a safra ruim reduziu a oferta de produtos in natura, a demanda por ovos cresceu e as exportações aumentaram devido à crise de gripe aviária nos Estados Unidos. No caso do café, problemas nas safras globais, especialmente no Vietnã, elevaram os preços nas bolsas internacionais, impactando diretamente o mercado interno.
Realizada entre 1º e 3 de abril com 3.054 pessoas em 172 municípios, a pesquisa Datafolha mostra que 80% dos brasileiros mudaram hábitos para enfrentar a carestia. Entre as medidas, 61% reduziram saídas para comer fora, 50% trocaram marcas de café por opções mais baratas e 49% cortaram o consumo da bebida.
Além disso, metade da população diminuiu o uso de água, luz e gás, enquanto 47% buscaram fontes extras de renda. Outros 36% reduziram a compra de medicamentos, e 26% deixaram de pagar contas domésticas, evidenciando um quadro de sacrifício generalizado. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais.
O dado mais chocante, no entanto, é que 25% dos brasileiros – um em cada quatro – não têm comida suficiente em casa. Para 60%, a quantidade é apenas adequada, e apenas 13% relatam ter mais do que o necessário.
Esses números, praticamente inalterados desde março de 2023, revelam uma estagnação alarmante na segurança alimentar, apesar de promessas governamentais de combate à fome. Em 2023, o Brasil registrou uma queda de 85% na insegurança alimentar severa (quando a pessoa fica um dia inteiro sem comer), segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), com 14,7 milhões de pessoas deixando de passar fome. Ainda assim, 2,5 milhões de brasileiros continuam padecendo do caso mais extremo da fome.
A percepção pública sobre as causas da inflação reflete divisões sociais e políticas. Para 54% dos entrevistados, o governo Lula tem grande culpa pela alta dos preços, enquanto 29% atribuem responsabilidade parcial e apenas 14% isentam o governo.
Entre os mais pobres, 55% apontam o governo como principal responsável, mas 54% também culpam guerras internacionais, como os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza, que afetam cadeias globais de suprimento. Já entre os mais ricos, com renda acima de dez salários mínimos, apenas 41% responsabilizam as guerras e 36% citam a crise econômica nos Estados Unidos.
Em uma vitória que produziu uma derrota no golpe de 2016, Lula assumiu a presidência da República com a promessa de superar o empobrecimento generalizado causado por seis anos de governos golpistas. A persistência da fome e a incapacidade do governo de dar uma saída à crise inflacionária mostram uma política que caminha na contramão das expectativas populares.
Embora as pesquisas de opinião da burguesia sejam péssimas referências para se aferir a realidade, é fato que a escalada dos preços em descompasso com o arrocho salarial está fora de controle, propícia para fomentar crises.