Regina Duarte, Pedro Bial e Laura Mattos, autora de livro sobre censura às novelas na ditadura

Nesta segunda (21), Regina Duarte será a convidada do “Conversa com Bial”, em que relembrará a censura à novela “Roque Santeiro” durante a ditadura militar.

A atriz conta que, ao lado de colegas de elenco e de um diretor da Globo, viajou a Brasília para tentar liberar a exibição da novela, censurada às vésperas da estreia em 1975.

“Eu me lembro muito de termos ido à Brasília, com o diretor da Globo, alguns colegas de elenco, pedir a liberação para a exibição de ‘Roque Santeiro’ […], e foi uma excursão muito frustrante. O presidente Ernesto Geisel nem nos recebeu, mandou alguém, ficamos bastante tempo numa sala esperando, não vinha ninguém falar com a gente. Foi esquisito”, diz.

“Foi no ‘Jornal Nacional’ de um domingo que anunciaram que a novela não iria mais ao ar.”

A entrevista está sendo montada como o retorno de Regina e uma celebração da resistência cultural, ou algo do gênero. É uma tentativa de lavar a biografia de uma das figuras mais desprezíveis da TV nacional — e a da própria Globo. Tudo pelas mãos de Pedro Bial, para quem o golpe de 64 foi uma “revolução” e um “contragolpe”.

Em 2020, como secretária do governo Jair Bolsonaro, Regina minimizou os crimes dos generais. Durante uma entrevista ao vivo à CNN Brasil, proferiu uma montanha de imbecilidades antes de surtar e sair correndo.

“Gente, vamo embora, né, vamo embora pra frente, ‘pra frente, Brasil, salve a Seleção; de repente, é aquela corrente pra frente’. Não era bom quando a gente cantava isso?”, falou, em referência à música símbolo da propaganda ufanista do regime.

Quando o jornalista Daniel Adjuto apontou que “muita gente morreu na ditadura”, ela respondeu: “Cara, desculpa, eu vou falar uma coisa assim: na humanidade, não para de morrer. Se você falar ‘vida’, do lado tem ‘morte’. Por que as pessoas ficam ‘oh, oh, oh!’? Por quê?!”.

Continuou: “Bom, mas sempre houve tortura. Meu Deus do céu… Stalin, quantas mortes? Hitler, quantas mortes? Se a gente for ficar arrastando essas mortes, trazendo esse cemitério… Não quero arrastar um cemitério de mortos nas minhas costas e não desejo isso pra ninguém. Eu sou leve, sabe, eu tô viva, estamos vivos, vamos ficar vivos. Por que olhar pra trás? Não vive quem fica arrastando cordéis de caixões.”

Eis a mesma canastrona que hoje aparece na TV Globo em clima de resgate nostálgico, como se nada disso tivesse acontecido. Quando Regina era a “namoradinha do Brasil” nos anos 70, a emissora dos Marinhos transmitia atos institucionais sem questionamento, deu palco aos assassinos e consolidou seu império em meio ao silêncio imposto.

Agora, promove um revisionismo envernizado de afeto. Trata-se de mais um clássico da Globo: transformar contradição em roteiro e omissão em narrativa. Proteger sua memória e a de seus medalhões custa caro — e a verdade continua fora do orçamento.

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Last Update: 19/04/2025