O diretor da Fundação Perseu Abramo e membro da Direção do PT, Alberto Cantalice, publicou um artigo no portal Brasil 247, intitulado “A especulação e a ganância mórbida”, defendendo o “mote ‘O Pobre no Orçamento e o Rico no Imposto de Renda'”, que, segundo o dirigente petista, “venceu as eleições de 2022”.
“Não que não se tenha de passar um pente-fino nos Programas. A própria imprensa já relatou vários casos de recebimentos indevidos. E isso será feito como já disse os ministros das respectivas pastas.”
Ora, porque “tem de passar um pente-fino nos programas”? O autor se orienta pelo que diz “a própria imprensa”, como se tivesse sofrido uma abdução do cérebro e esquecido quem é essa “própria imprensa” que vive atacando os programas sociais do governo.
Cantalice pode ter “virado a página”, mas a esquerda não deve jamais esquecer que, para a imprensa conservadora, o 13º arruinaria o País, que, no dia 1º de abril de 1964, a capa do Estadão era “democratas dominam toda a Nação” e que, para a Folha, a política do general Médici na Ditadura Militar (1964-1985) fazia daquele um governo “sério” e “responsável” ao empreender a máxima repressão contra a esquerda.
O fato de um dirigente petista falar abertamente que se orienta por essa imprensa, usando-os como referência para defender a necessidade de um “pente-fino” nos programas de assistência social, já é em si um indicativo do direitismo de Cantalice, mas a situação fica ainda pior.
“É evidente que a equipe econômica ao formular o NAF, Novo Arcabouço Fiscal que foi chancelado pelo Congresso Nacional, buscava o equilíbrio das contas públicas por propugnar o déficit zero. Quanto menor o déficit, menor será a rolagem e o aumento da dívida pública: o maior meio de concentração de renda e riqueza via juros, do mundo.”
Na parte que beneficia o pobre, “tem de passar um pente-fino”, afinal, “a própria imprensa já relatou vários casos de recebimentos indevidos”. Já a rolagem da dívida pública, “quanto menor o déficit, menor será a rolagem e o aumento da dívida pública”. Ora, é exatamente a mesma coisa que diz a direita de conjunto, de Milei a FHC.
Para a burguesia, o problema da dívida pública é que o Estado é ineficiente, gasta muito mais do que arrecada, o que obriga a um endividamento para cobrir as despesas. O que nenhum direitista fala e tampouco Cantalice lembra, é que de longe, o principal gasto do País é com a dívida pública, mais especificamente com sua rolagem. Anualmente, isso consome cerca de metade do orçamento federal.
A dívida pública do País foi medida pela última vez em 29 de novembro, totalizando cerca de R$7 trilhões, tendo fechado o ano de 2023 em R$6,52 trilhões. Ocorre que, no mesmo ano, o Brasil pagou mais de R$1,8 trilhão a título de rolagem da dívida. Claro que não faz sentido algum, exceto se entendermos isso como o que realmente é: uma picaretagem e um assalto aos cofres públicos.
Observe o leitor, porém, o duplo padrão adotado por Cantalice: ao tratar das despesas que interessam os pobres, o máximo rigor. Ao tratar da verdadeira despesa que drena o País e não é outra coisa, mas fruto da pura pirataria contra a nação, “quanto menor o déficit [que pode ser lido como ‘quanto mais cortarmos dos pobres’], menor será a rolagem”. É inacreditável que alguém em um partido de esquerda se posicione com tamanha desfaçatez.
Ninguém em sã consciência duvidaria que existem cidadãos recebendo recursos da assistência social indevidamente. O que isso significa em termos de impacto no orçamento, no entanto? Absolutamente nada.
E a completa falcatrua com o pomposo termo “rolagem da dívida pública”? Aqui o País perde metade de tudo o que arrecada, destinando esses recursos para um reduzido grupo de vampiros que não trazem benefício algum para a nação e o povo brasileiro, nesse que certamente é o maior programa de transferência de renda do planeta. Para eles, porém, toda sorte de racionalização é válida, mesmo as mais idiotas.