O terceiro debate dos candidatos a presidente do Partido dos Trabalhadores reuniu, nesta sexta-feira (13), em Porto Alegre (RS), Edinho Silva (nº 180), Romênio Pereira (nº 150), Rui Falcão (nº 130) e Valter Pomar (nº 120). O encontro, que serviu para os postulantes apresentarem suas propostas para construir o futuro do PT, aliado a um projeto nacional em torno da candidatura de Lula à reeleição, seguiu o padrão do debate anterior, com a ordem de apresentação dos candidatos sendo definida por sorteio. O debate começou com as exposições de Valter Pomar, Romênio Pereira, Rui Falcão e Edinho Silva. Os quatro debateram o aprimoramento da política partidária, o combate à extrema direita, as eleições gerais de 2026 e o massacre na Faixa de Gaza pelo governo extremista de Israel.

Em sua intervenção, Valter Pomar apontou obstáculos externos, como a “extrema direita, o fascista”, a “direita tradicional gourmet” e o poder econômico do agronegócio e do capital financeiro, e internos, inerentes ao próprio partido. Ele diagnosticou um “momento crítico” no PT, marcado por uma “descaracterização ideológica acelerada” e uma crescente adaptação ao sistema político, com um foco excessivo em disputas eleitorais que, paradoxalmente, estariam gerando “retornos decrescentes”. Para Pomar, a dinâmica ameaça transformar o PT em um partido tradicional e destruir o projeto socialista da legenda.

O candidato concluiu a primeira parte de sua exposição alertando para o distanciamento do partido da “luta cotidiana do povo”, o que o levaria a perder força e, metaforicamente, arriscar o “funeral do partido” em seus objetivos programáticos, caso não haja uma mudança de rumos. Pomar defendeu o Processo de Eleições Diretas (PED) como uma batalha essencial entre “fenecer ou mudar”, posicionando sua candidatura e a chapa “Esperança Vermelha” como a alternativa para a transformação. Ele encerrou com um veemente apelo pela causa palestina, instando à ruptura de relações do Brasil com Israel.

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Em seguida, foi a vez da apresentação de Romênio Pereira. O candidato reafirmou seu compromisso com o socialismo, defendendo, como Pomar, o rompimento de relações com Israel. Internamente, Pereira falou de sua trajetória como “dirigente militante” e advogou maior atenção aos “pequenos e médios municípios”, criticando a concentração do fundo eleitoral e propondo mais recursos para o interior e para os setoriais do partido, como a população negra e LGBTQIA+. Ele declarou que sua “maior preocupação é a reeleição do presidente Lula” e que será “24 horas Lula”.

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Pereira também defendeu uma distribuição mais justa de recursos entre parlamentares federais e estaduais, propondo um “orçamento participativo no fundo eleitoral”. O dirigente cobrou do governo uma postura “mais dura no ataque à política de juros” e expressou a sensação de que o PT, tendo ganhado “pela esquerda”, está jogando pelo centro e pela direita.

O terceiro a se apresentar foi Rui Falcão. Ele começou propondo uma moção pela suspensão de relações com Israel e defendeu a retomada dos “princípios fundadores” do PT, como a luta anticapitalista. Falcão tratou do que considera um “emparedamento” no Congresso Nacional. Também defendeu o governo Lula, mas reivindicou o direito à crítica construtiva, valorizando a militância sob o lema “com a base, construir a esperança”. O candidato também criticou filiações em massa sem critério e o desrespeito ao estatuto, questionando o diálogo com as bases.

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Falcão também apontou a necessidade de um orçamento participativo nacional e lamentou a falta de engajamento do PT em bandeiras como a redução da jornada e a taxação dos super-ricos, apesar do apoio presidencial. Alertou que, sem mobilização popular e a retomada da tradição de luta, a reeleição de Lula corre risco. Para o petista, a atual correlação da forças no Congresso pode empurrar o PT a “encampar o projeto deles” ou ser abandonado por aliados em 2026.

Fechando o primeiro bloco, Edinho Silva voltou a dizer que o atual PED é “o mais importante da nossa história” devido à conjuntura que considera “a mais difícil para nós da esquerda pós-Segunda Guerra Mundial”. Ele alertou para a ascensão global de um estado de inspiração fascista e o fascismo organizado no Brasil, afirmando que a missão histórica do PT é “derrotarmos o fascismo no Brasil, sinalizando a outros países… que é possível, sim, o fascismo ser derrotado”.

O candidato defendeu ainda que “o centro da nossa tática tem que ser a reeleição do presidente Lula” para reconstruir o país, encontrado pela gestão petista com um grande “rombo nas finanças públicas” e com o presidencialismo enfraquecido pelo orçamento secreto. Edinho propôs um partido que tenha “coragem de defender a participação popular e o orçamento participativo” de forma integral, com propostas para segurança pública e que lidere a transição energética. Segundo ele, ”nós, que queremos construir o socialismo todos os dias, temos de dizer que há urgência climática, e que nós queremos produzir riqueza em uma nova forma de produção”.

Defesa das minorias

Em novo sorteio, os quatro responderam à mesma pergunta, sobre como o partido deve atuar no combate à criminalização dos movimentos sociais e pela defesa da minorias. Desta vez, Edinho respondeu primeiro. Ele propôs uma “profunda transformação” no PT para reconquistar as periferias e dialogar com a “nova classe trabalhadora”. “A economia solidária […] tem que ser eixo central de organização”, disse. Edinho Silva defendeu o protagonismo dos povos originários e o fortalecimento das instâncias partidárias em detrimento de mandatos personalistas. A atuação do PT deve ainda arcar uma reforma político-eleitoral, na avaliação de Silva.

Romênio Pereira defendeu uma maior influência do PT no governo e um foco renovado nas pautas das minorias, criticando a baixa representatividade feminina e a falta de compromisso de partidos aliados com essas causas. Ele ressaltou a importância de “ter mais a participação das mulheres, da população negra, da população LGBT”. Pereira alertou que é preciso “colocar mais recursos na luta dos setoriais”. O dirigente conclamou o partido a “fazer uma conexão mais forte com a juventude, com a população negra, com as mulheres, com a população LGBTQIA+”.

Valter Pomar observou que a questão dos povos originários passa fundamentalmente pela “disputa pela terra” contra o agronegócio e mineradoras. Ele mencionou também a ampliação de políticas públicas e o combate ao racismo. Pomar denunciou ainda a “violência do Estado e a aprovação de legislações específicas para criminalizar quem luta. O petista também criticou a falta de compreensão de parte do PT sobre a importância do poder popular, afirmando que sem ele não é possível fazer mudanças estruturais no país.

Rui Falcão conectou a luta dos povos originários à “luta pela terra e é o combate ao capitalismo”. Para o ex-presidente da legenda, falar em transição ecológica sem enfrentar o capitalismo “é jardinagem”. Ele criticou a lentidão na demarcação de terras e reforma agrária, afirmando que os povos originários são explorados e expropriados pelo “capitalismo moderno”, e defendeu que sejam consultados sobre grandes obras. Falcão também  alertou para a urgência do enfrentamento à financeirização do país.

Considerações finais

Nas considerações finais, Rui Falcão defendeu o enfrentamento à extrema direita, sob o risco o campo progressista sofrer uma derrota nas eleições de 2026. Falcão defendeu uma unidade para a batalha eleitoral,“Eles [a extrema direita] já estão escolhendo seus candidatos, estão formando blocos, e há uma espécie de inércia de nossa parte, de começar a preparar esse embate”, alertou. “Eleição não se decide no ano da eleição. Como a gente ganha eleição sem candidato em São Paulo, Rio e Minas?”, indagou.

Romênio Pereira também tratou das eleições, frisando que as pesquisas eleitorais “não estão boas” para o PT. “A militância está cansada”, apontou o petista. Pereira disse esperar alianças mais à esquerda em todos os estados como forma de reverter o quadro. “Precisamos dialogar com a população mais pobre desse país, estamos perdendo esse eleitorado”, advertiu. “Espero que façamos alianças”.

Edinho Silva afirmou que a nova direção do PT terá muita responsabilidade política terá de fazer “debates importantes”, como o da segurança pública. “O PT não pode estar acuado como nós estamos no debate da segurança. Temos de dizer que a nossa concepção é diferente da dos fascistas”, pontuou. Temos condição de construir uma nova referência”, defendeu. “Também temos de ter coragem de enfrentar o debate da financeirização da economia. Se a globalização foi derrotada, a financeirização só se acelera desde 2008”.

Valter Pomar destacou que não se derrota o fascismo com conciliações neoliberais. “Não derrotaremos o fascismo achando que o [Eduardo] pode ser um bom candidato ao Senado ano que vem, acolhendo partidos que já estão nos traindo”, alertou. Pomar também advertiu que não haverá socialismo nem reformas de base se o país não deixar de ser primário-exportador. “O Brasil precisa de industrialização e, para isso, o Estado precisa ser protagonista”, defendeu.

Da Redação

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Last Update: 13/06/2025